= Albano =
Chegou um dia ao Porto para vestir a camisola do FC Porto –
e que bem que lhe ficava – um jovem oriundo de Fafe, de nome Albano, que me
despertou atenção (exprimindo na primeira pessoa, para ser mais direto, em vez
do plural ou terceira pessoa para ficar bem nos cânones de estilística
literária). Também conhecido por Albano Soares, esse que então, adquirido pelo
FC Porto ao Fafe, passou a enfileirar no plantel sénior do FC Porto, como um
dos reforços para a equipa principal, após uma época difícil de tragar no
sentimento portista, por o futebol azul e branco ter estado quase a conseguir o
título de campeão, depois perdido ingloriamente. E ainda com esse ambiente,
acrescido da saída de alguns dos antigos futebolistas, havia que colmatar a
situação. E então, Albano, médio ex-Fafe, chegou em 1969, na pré-época para
1969/70, junto com Cibrão, defesa ex-Gil Vicente, ainda Vieira Nunes, defesa
ex-Académica e em regresso ao FC Porto, Gualter, defesa ex-Vitória de
Guimarães, mais o brasileiro Ronaldo, vindo do outro lado do Atlântico com
rótulo de avançado, mas que depois passou a defesa, e ainda outro avançado
brasileiro, Salim; junto com alguns ex-juniores do clube, como o defesa Rodolfo, o então médio atacante Oliveira e o avançado Chico
Gordo. Ficando-se a saber que o Albano chegara a ser
júnior do Benfica em 1966/1967, mas acabara por regressar entretanto já como sénior
ao clube da sua terra, Fafe. De onde despertou o interesse do FC Porto.
Nasceu pois em Fafe o Albano Silva Soares, tal é o seu nome
completo, nascido a 23 de janeiro de 1949. Sendo o pai comerciante respeitado
no ramo da panificação naquela então vila, em cujo negócio tinha diversos
contactos com muita boa gente das redondezas, incluindo gente de Felgueiras, como
os Mouras, e particularmente um desses felgueirenses, também respeitado
industrial do mesmo ramo, por acaso o fundador do histórico Futebol Clube de
Felgueiras, Verdial Moura, da Longra (vizinho e amigo aqui do autor). Um
verdadeiro senhor, como o considerei sempre e o Albano o conheceu bem, também.
Isto para dizer que o então jovem Albano ajudava o pai no negócio familiar e
como tal tinha contactos já para além de sua região.
= Albano, em pose com Gualter, com a camisola do FC Porto =
Iniciada a sua carreira com os primeiros pontapés na bola em
Fafe, despertou o interesse do Benfica, que com diversos olheiros espalhados
pelo país o atraíram a Lisboa, acabando por jogar na equipa de Juniores do
Benfica, em 1966/1967. Porém, passada essa temporada, em que foi colega de bons
valores mas quase todos sem conseguirem lugar no plantel da equipa vermelha da
Luz, Albano acabara por regressar entretanto já como sénior ao clube da sua
terra, ao Fafe. Tendo então jogado de equipamento amarelo fafense
em 1967/1968 e 1968/1969, em cuja última temporada deu nas vistas no jogo da eliminatória
da Taça de Portugal que o Fafe disputou nas Antas (em fevereiro de 1969, nos 32
avos de final da Taça, com vitória do FC Porto por 3-0). Tendo aí feito um
grande jogo, por assim dizer, diante do FC Porto, a pontos de ter merecido
rasgados elogios da imprensa e logo ter havido contactos de mandatários do
clube com o pai do jogador, quão depressa ficou o contrato feito (de 160
contos, por 3 anos, maquia assinalável nesse tempo dos mil escudos serem
chamados contos, mais um jogo que o FC Porto ficou de ir fazer a Fafe).
= No início da época 1969/70…
Chegou então Albano ao FC Porto pouco depois de ter casado,
e, feitos os trabalhos de preparação inicial, não teve possibilidades de alinhar depois por se ter intrometido a tropa. Sabendo-se
como nesse tempo os jogadores do FC Porto eram prejudicados quando eram
militares. Havendo ele assentado praça no exército para cumprir o serviço
militar obrigatório e ficado sem poder treinar, até que já com tempo mais
adiantado nessa obrigação ainda conseguiu passar a ir às Antas de vez em
quando, para sempre que possível se integrar nos treinos. Diante dessa
situação, tendo contrato de 3 anos e já sem ter podido competir entretanto a nível
superior nos primeiros jogos da época, depois apenas à 7ª jornada do Campeonato
Nacional, já em novembro de 1969, dessa época de 1969/70, alinhou pela primeira
vez na equipa principal do FC Porto – em jogo, que além dessa lembrança, não
deixou boas recordações pelo resultado volumoso com que a equipa portista foi
derrotada (por 5-0 no Bonfim, com o Setúbal).
Mas, nesse jogo, repare-se, com bom desempenho da sua
parte, a pontos que continuou a titular no jogo seguinte, quando nas Antas o FC
Porto venceu o União de Tomar por 2-0. E ainda alinhou também na 2ª mão da 2ª
eliminatória da Taça das Cidades com Feira, na Inglaterra, em casa do
Newcastle. Contudo, a tropa continuou a influenciar seu desempenho, sem poder
treinar no Porto, de modo que só em fevereiro de 1970 voltou a alinhar pela
equipa de honra do clube, e daí em diante alinhou em mais jogos no final da
época. Totalizando 8 jogos, distribuídos por 6 jogos Campeonato Nacional, 1
jogo na Taça das Cidades com Feiras e 1 jogo na campanha da Taça de Portugal.
A nível da equipa, com tantas transformações, acrescido da mudança de
treinadores, primeiro por doença de um (Schwartz) e depois vinda de outro (Docherty)
e por fim este a formar dupla com o anterior adjunto (António Teixeira), a
época decorreu mal e a equipa nunca se encontrou, chegando ao ponto de terem
sido utilizados quatro guarda-redes e ainda mais um suplente, enquanto de
jogadores foram praticamente todos utilizados, à vez.
Na época seguinte, em 1970/71 Albano continuou a fazer parte
do plantel do FC Porto, já reforçaçada com novos valores. a juntar aos que ficaram da época anterior. Tendo aí jogado na equipa principal durante a pré-época
de 1970, em jogos de Torneios Internacionais. Como aconteceu em Vigo, com o Celta
de Vigo, jogo em que Albano se lesionou e, com uma rotura, ficou impedido de se
deslocar numa seguinte deslocação da equipa à Venezuela e depois ao Brasil (sendo substituído à
última hora pelo Lemos, que para essa viagem teve de usar o passaporte do
Albano, ou seja do colega que estava incluído na comitiva oficial, por na época a fisionomia até
ter dado… assim).
= Equipa do FC Porto que alinhou em Vigo: a partir da esquerda e em cima – Pavão, Manhiça, Vieira Nunes, Albano, Gualter e Armando; em baixo, pela mesma ordem – Abel, Custódio Pinto, Chico Gordo, Bené e Eduardo Gomes.
Contudo, após a pré-época e iniciada essa temporada de
1970/71, devido à tropa, Albano apenas se manteve no FC Porto durante um quarto
da época, sem jogar ainda devido a ter perdido tempo e ritmo com o serviço
militar, à mistura com lesões, acabando por seguir emprestado para o Riopele,
no restante tempo da mesma época de 1970/71.
esquerda para a direita: em cima – Tommy Docherty (treinador), Rui, Armando
Manhiça, Rolando, Valdemar, Vieira Nunes, Pavão, Albano, Gualter, Hélder
Ernesto, Eduardo Gomes, Armando Silva e António Teixeira; em baixo, pela mesma
ordem – Chico Gordo, Bené, Abel, Séninho, Manuel Duarte, Nóbrega, Custódio
Pinto, Ricardo e Lemos.
Após isso, na época seguinte foi
emprestado ao Tirsense, que então estava na 1ª Divisão, onde jogou em 1971/1972
com o equipamento preto dos jesuítas na 1ª Divisão Nacional.
Seguidamente, terminando com o vínculo ao FC Porto, continuou a carreira de jogador ao serviço de diversos clubes: Fafe – em 1972/1973; Riopele – 1973/1974, 1974/1975, 1975/1976, 1976/1977; Recreio de Águeda – 1977/1978; (de novo) Fafe – 1978/1979, 1979/80, 1980/81 e 1981/1982; e Moreirense – 1982/1983.
Finda a carreira de jogador, Albano teve oportunidade ainda
de se ter mantido ligado ao futebol, então como treinador. Tendo entre 1983 até
2009/2010 estado como responsável das equipas do Moreirense, Cabeceirense, Recreio
de Águeda (na 1.ª Divisão), Estrela da Amadora (também na 1.ª Divisão), Mealhada,
Anadia, Naval, Fafe (de novo) Anadia, Gafanha, Tocha, (depois e de novo)
Anadia, (e de novo e por fim) Gafanha.
Com tão interessante percurso, em que teve possibilidade de
conhecer muitas terras (e como se diz “Cada terra com seu uso, cada roca com
seu fuso”!), o Minhoto Albano, oriundo da zona de transição do Entre Douro e
Minho, no Norte, acabou por se afeiçoar pela Beira Litoral, apaixonado pela
mulher de sua vida em Águeda, mas antes ainda de lá ter jogado, e radicando-se
nessa bela zona do distrito de Aveiro, onde ganhou raízes e criou sua família.
Fixado que está em toda a envolvência do Centro do país, em cenário de terras
banhadas por águas da Ria e do Rio Vouga. Continuando sempre como conhecido
nome de um apreciado antigo jogador de futebol do FC Porto. Como é e merece ser
recordado, o amigo Albano Soares.
Armando Pinto
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Este artigo foi originalmente publicado neste site