A 5 de julho de 1964 Hernâni vestiu pela última vez,
oficialmente, a camisola do FC Porto. O senhor Hernâni Ferreira da Silva, que
basta ser referido por Hernâni para se saber que é esse que foi um dos melhores
futebolistas portugueses de todos os tempos e que no FC Porto está num pedestal
superior, junto com Pinga, Valdemar Mota, António Araújo, Soares dos Reis, Barrigana,
Pedroto, Virgílio, Américo, Fernando Gomes, Madjer, João Pinto, Vitor Baía, Deco, Falcao e Diogo Costa.
Foi esse jogo na final da Taça de Portugal de 1964, de infeliz memória… porquanto foi decidido à imagem do sistema BSB do regime reinol nesse tempo do salazarismo. Quando até fazia parte do protocolo oficial as equipas finalistas serem fotografadas junto com o Presidente da República, à época o Almirante Américo Tomás.
Hernâni, por toda a
sua carreira, merecia uma outra última vez, tendo essa ocorrência acontecido então na
final da Taça de Portugal de uma das maiores roubalheiras do futebol português.
Quando o árbitro, Rosa Santos, para facilitar desde início a vida ao clube do regime, tendo começado a
roubar o FC Porto e enervando os jogadores com larga série de
asneiras propositadas, chegou ao desplante de expulsar um jogador do Porto, o
Jaime, com a desculpa que deslocara a bola antes da marcação de um penalti que
ele, o negro árbitro, inventara. Sendo considerado negro pelo equipamento que
vestia e pela sua conduta, apenas. Árbitro desonesto esse, que se houver justiça
divina a esta hora, tal como outros, está já há muito nas penas do inferno.
Desse jogo, como exemplo do que se passou, o treinador Otto
Glória, que no Porto não conseguiu ganhar nada, enquanto no Benfica e Sporting
ganhou, pelo que se passava… acabou por reconhecer (conforme está em “Glória e Vida de 3 Gigantes”, edição de A Bola):
Do mesmo jogo, atente-se também na crónica do jornal O
Porto, embora em crónica algo “macia”, atendendo a ser “Visado
pela Censura”, do regime… como eram os jornais nesse tempo. Mas, mesmo
assim ainda conseguindo furar entre as trevas algumas verdades. Motivo que leva
a merecer atenção, porque, apesar de ter sido jogo de tarde infeliz de vários
contendores, conforme se vê, não se pode deixar esquecer mais esse “roubo de
igreja”, como dizia Pedroto.
Armando Pinto
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