Com o calor de julho a fazer o ambiente de mais um dia de
aspeto alegre, neste domingo soalheiro, recomeça o entusiasmo do futebol
portista com o jogo de apresentação da equipa principal azul e branca. Enquanto
ao mesmo tempo e por este tempo, também, já tiveram início e decorrem os Jogos
Olímpicos deste ano. Vindo assim à lembrança algo relacionado, quer com o futebol
portista na sua longa história, quer com a participação de representação
portista e do futebol nacional numa já longínqua edição da festa olímpica – como
foi em 1928 com Valdemar Mota.
Os Jogos Olímpicos estão aí diante das atenções, com o rio
Sena inundado pela festa de abertura da Olimpíada e tudo em volta da torre Eiffel a sentir o
efeito das jornadas sucessivas das diversas modalidades. Dando sequência a
tantos anos, onde se incluem também boas memórias portuguesas e portistas, sobretudo.
Recuando no tempo e dando ênfase a uma dessas memórias, sendo uma delas sobre
Waldemar Mota (como ao tempo se escrevia Valdemar), um futebolista histórico,
dos que se dirá que hoje não teria preço, e que foi o primeiro atleta olímpico
do FC Porto (além de ter sido também o primeiro futebolista português a marcar
três golos à portentosa Itália dos anos 1920/30, por exemplo). Tendo ele sido ainda
um dos famosos “Três Diabos Do Meio
Dia”, dois fantásticos produtos das escolas portistas, Acácio Mesquita e
Waldemar Mota, mais o imortal Pinga.
Ora, viajando então no tempo, pousa desta vez um voo da lembrança na passagem de mais uma edição dos Jogos Olímpicos, quando o futebol azul-branco retoma a ligação à família portista.
Calha assim recordar Waldemar Mota: Entrou no Clube para jogar nos iniciados e para se tornar um dos melhores jogadores do Porto, o único clube que representou na carreira, nos anos 20 e 30. Avançado, marcou 177 golos em 163 jogos, conquistou 15 títulos, entre eles o Campeonato Nacional de 1934/35. Formou juntamente com Pinga e Acácio Mesquita os célebres “três diabos do meio-dia”, dess modo apelidados depois de os Dragões vencerem as melhores equipas da Europa no Natal de 1933. Foi também o primeiro atleta portista a participar nos Jogos Olímpicos e a capitanear a seleção nacional, pela qual somou 21 internacionalizações e marcou quatro golos, nesse tempo de escassos jogos internacionais e poucas participações da equipa das quinas em competições oficiais
= Equipa do FC Porto da época de 1931/32 – Campeões de Portugal. Em cima da esquerda para a direta: Fernando Trindade, Jerónimo Faria, Francisco Castro, Artur de Sousa “Pinga”, Carlos Mesquita, Álvaro Sequeira, Lopes Carneiro, Valdemar Mota, Álvaro Pereira, Pedro Temudo e Joseph Szabo (Treinador). Em baixo pela mesma ordem, Siska (guarda-redes principal), Avelino Martins e Acácio Mesquita.=
= Equipa do FC Porto triunfante do campeonato de 1934/35, com todos os campeões medalhados e Valdemar Mota como porta-estandarte. =
Ora, Valdemar Mota da Fonseca, o célebre Valdemar Mota que foi um dos primeiros grandes ídolos do mundo portista, representou oficialmente o FC Porto durante 12 temporadas, desde 1926/27 até 1937/38. Tendo ao longo dessa sua carreira futebolística, além dos dados acima referidos, vencido 2 Campeonatos de Portugal, 1 Campeonato da 1ª Liga e 12 Campeonatos do Porto. Bem como na Seleção Nacional (em seu tempo, recorde-se, de escassos jogos realizados pela equipa dita portuguesa) atuou em 21 jogos e marcou 4 golos, enquanto numa dessas vezes marcou 3 golos contra a Seleção de Itália, em jogo que Portugal venceu por 4-1. Entretanto fez parte da equipa representativa de Portugal que esteve nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, em 1928, em cuja competição marcou o primeiro golo da Seleção Nacional contra o Chile, sendo assim o primeiro atleta olímpico do FC Porto. Na seleção A nacional Valdemar Mota teve um marco assinalável, ainda, como foi o caso de durante muitos anos ter sido detentor da marca de jogador mais novo a marcar 3 golos num jogo, então a 15 de abril de 1928, quando Portugal venceu no Porto a seleção da Itália por 4-1, com três golos do então extremo-direito do FC Porto (recorde esse que durou 88 anos, até ter sido superado em Outubro de 2016 por André Silva, também futebolista do FC Porto, o qual em seu início de carreira se tornou aos 20 anos o mais novo internacional português a marcar 3 golos no mesmo jogo e como tal haver substituído Valdemar Mota nesse recorde duradouro).
Waldemar Mota da Fonseca (conforme a grafia do tempo), nascido na cidade do Porto a 18 de Março de 1906, foi jogador formado no FC Porto, clube de coração e único que representou, como médio e extremo direito de elevado quilate.
= Casamento em 1929 =
Quando ainda estava no ativo futebolístico e em sinal da sua importância no mundo do espetáculo, como já era o futebol também, sendo como sempre o jogo da bola por excelência um fenómeno de atração, Valdemar Mota, então como grande estrela do FC Porto dos anos 30, foi convidado para uma aparição cinematográfica, tendo protagonizado, ao lado de Beatriz Costa, a comédia O Trevo de Quatro Folhas (filme de Chianca de Garcia, rodado em Agosto de 1935 e estreado publicamente em Janeiro de 1936, assim como teve apresentação e passagem no Rio de Janeiro em Março de 1937. Do qual parece que apenas subsiste um fragmento).
Depois de abandonar o futebol, Waldemar Mota continuou sendo uma figura conhecida do dia-a-dia portuense, tendo então se dedicado a negócio do ramo de venda de produtos alimentares e artigos domésticos, através duma loja de comércio tradicional. «Possuía uma mercearia fina que tinha clientela selecionada, cujo estabelecimento ficava próximo da entrada do Mercado do Bolhão e era frequentado pela burguesia da cidade do Porto.»
No decurso do tempo, sua fama que vinha de longe manteve-se no imaginário clubístico, tanto que na antiga Sede do FC Porto (ao lado da Câmara Municipal, na então chamada Praça do Município, hoje Pr. Humberto Delgado), junto à galeria de Internacionais de futebol, que pelos idos de finais da década de sessenta integrou o espólio memorial da antiga casa administrativa e museológica do clube, houve na presidência de Afonso Pinto de Magalhães também colocação duma galeria dos 3 primeiros atletas Olímpicos do FC Porto, por meio de quadros com os Olímpicos até esse tempo (com Valdemar Mota ao centro e a ladeá-lo os ciclistas Mário Silva e José Pacheco).
Também no estádio das Antas, no átrio principal da entrada, de ligação ao departamento de futebol, salas de reuniões e gabinetes (mais antigo bar social), constando nas paredes algumas fotos emolduradas, ali colocadas igualmente entre as iniciativas efetuadas durante a presidência de Pinto de Magahães, havia então uma galeria de honra onde estavam quadros com as fotografias de Valdemar Mota como 1º Olímpico do FC Porto (além de Pinga, como melhor de sempre e nome do trofeu do clube; Siska, como guarda-redes e treinador estrangeiro carismático na vida do clube; Virgílio, o mais Internacional até então; Soares dos Reis, como 1.º guarda-redes Internacional; Vital, autor do 1.º golo portista no estádio das Antas; e Hernâni como “Capitão” famoso do título Europeu Militar de 1958 e herói de taças e títulos de Campeões Nacionais na gesta dos anos cinquentas. Assim como mais tarde, ao tempo da presidência do Dr. Américo Sá, noutras paredes foram colocadas fotografias emolduradas dos Campeões Nacionais de 1977/78, “Pedroto e seus Muchachos”.).
Valdemar Mota faleceu em Abril de 1966, no dia 20. Tendo ficado sepultado no cemitério do Bonfim, no Porto.
A memória de Valdemar Mota fez com que, anos depois de já ter desaparecido, ainda fosse tido como uma das principais figuras do FC Porto. Conforme foi incluída sua ficha curricular na obra resumida “A Vida do Grande Clube Nortenho – 1 e 2” (em duas revistas), edição das Seleções Desportivas de 1978.
O seu perfil, antes ainda, ficou entretanto bem vincado numa entrevista inserta na revista lisboeta Stadium, reportando à sua imagem – da qual para aqui transpomos imagens da página respetiva, com a mesma por inteiro e em recortes, para efeitos de enquadramento e melhor visibilidade.
Fica então aqui, na oportunidade, a memória ilustre de
Waldemar Mota. Que em apoteose, dele alguém disse (ter sido): «… um futebolista de média superior a um golo
por jogo, daqueles que olhava a baliza de frente e pedia desculpas aos
adversários pelos golos inacreditáveis que marcava, muitos deles de cantos diretos
que por um triz não o levavam para o açambarcador da época, o Inter de Milão,
precisamente por interferência de Guizeppe Meazza, seu confesso admirador.
Waldemar é uma história real, de fábula e de amor à camisola. Uma preciosidade
olímpica.»
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
Obs.:Sobre Valdemar Mota, confira-se ainda anteriores artigos deste blogue (clicando) em