No dia 11 de Março de 1910, em Penafiel, nasceu Manuel Soares dos Reis, um dos
grandes guarda-redes do FC Porto, também o 1.º guarda-redes internacional do FC
Porto e que mais tarde assumiu ainda a missão de dirigente do Clube Dragão. Sendo Soares dos Reis um
dos lendários nomes portistas, a ponto de merecer estar no Mausoléu do FC Porto,
onde “repousam Glórias do FC Porto”.
Soares dos Reis l, assim referenciado historicamente porque (ele, Manuel Soares dos Reis) foi o 1.º da dinastia familiar de guarda-redes, continuada com Soares dos Reis ll, seu irmão (José
Soares dos Reis), e Soares dos Reis lll, seu sobrinho e afilhado (Neca Soares
dos Reis) – como está registado neste blogue “Memória Portista” em artigo
publicado já em 2018, do qual há publicação particular entretanto feita pela
família, que se saúda.
Manuel Soares dos Reis nasceu então ainda no tempo da Monarquia,
mas já em finais do regime monárquico, pouco mais de meio ano antes da
implantação da República (em outubro seguinte). Como tal naturalmente ainda
passou os tempos difíceis da l.ª Grande Guerra Mundial, na sua meninice. Tendo mais
tarde, quando jovem em idade de tropa, também prestado serviço militar e vestido
a farda do exército português, como atesta uma sua foto com as divisas de graduado.
Nesse período, tendo ido para Lisboa prestar a obrigação
militar, passou a jogar então no Belenenses, após convite através de um seu
oficial superior, transferindo-se por isso do Leça, onde jogava, para o clube do Restelo (depois
de ter começado em equipas da sua terra de Penafiel).
Passou assim esse tempo de quartel e jogos pelo clube da Cruz
de Cristo sem contudo ter combatido nas grandes guerras de seu tempo, visto na
primeira ser ainda criança e na segunda já ter passado a fase da idade da
tropa (quando em 1940 havia acabado sua carreira de guarda-redes internacional do FC
Porto e da Seleção Nacional). De permeio com seu regresso ao Norte, acabada a tropa, tendo passado então pelo Boavista, em 1932/33, época em que também ficou a jogar como guarda-redes de Andebol no FC Porto. Facto que facilitou depois a saída do clube do Bessa, pois os boavisteiros não gostaram disso e Soares dos Reis queria mesmo era ir jogar futebol no FC Porto, para onde não fora antes apenas por não poder ser lá utilizado com a supremacia de Siska na baliza. Até que a 9 de Julho de 1933 Soares dos Reis então ingressou no FC Porto, e a 12 de novembro desse ano de
1933 alinhou pela primeira vez na equipa principal de futebol do FC Porto.
Quanto à prática desportiva do Andebol (que então ainda era escrito Handball) Soares dos Reis manteve essa duplicação ainda nos
inícios de sua ligação ao FC Porto, como jogador/guarda-redes de andebol, enquanto
não ficou guarda-redes titular do futebol. Como se vê pelo respetivo cartão da
“Associação de Handball do Porto”, de 1934/35.
Jogou então futebol em campos de terra e enlameados quando chovia, como era uso ao tempo, nesses tempos de quase balizas às costas, como se
diz, de grandes diferenças para a evolução posterior. Tanto que nesse tempo
ainda havia possibilidade de jogadores que não estivessem em campo a jogar podiam
ter acesso à proximidade da baliza, como num caso de curiosa fotografia coeva…
Como se vê, no instantâneo fotográfico, podendo então abrigar-se
num guarda-chuva dum colega da equipa do FC Porto (Lopes Carneiro), sendo
aquele um jogo da Seleção do Porto (da Associação de Futebol do Porto), Soares
dos Reis nunca se distraía, estava sempre atento à jogada, para o que desse e viesse. Tal como atesta outra foto, desses tempos (dum jogo FC Porto-Setúbal, no estádio do Lima).
Na baliza do FC Porto ganhou grande destaque no panorama
futebolístico português, tendo passado também a defender galhardamente as balizas do Porto Clube e da Associação do Porto, mais de Portugal. Havendo-se estreado pela
Seleção Nacional curiosamente no dia de seu aniversário em 1934, no ano seguinte
a ter chegado ao FC Porto.
= Foto da equipa portuguesa no Espanha-Portugal, com efetivos, suplentes, selecionador, massagista e roupeiro.
Dessa sua primeira internacionalização de Soares dos Reis, além da foto de conjunto do dia do jogo, ficou registada em
foto uma pose de conjunto no treino antecedente, em Chamartin, ainda com boa
disposição geral, antes do que se verificaria depois.
Chegado o dia, quando fazia 24 anos de idade, Soares dos Reis
estreava-se então com a camisola da Seleção Portuguesa, a 11 de março de 1934, em jogo disputado diante
da Espanha, em Madrid. Naquela tarde de goleada sofrida pela equipa portuguesa,
perante a diferença que se verificava do futebol português ainda amador para o
espanhol mais evoluído. Mas também com intromissão de tricas destabilizadoras na seleção federativa. Tendo, como resultado, o guarda-redes titular Soares
dos Reis sofrido 3 golos (dos quais o 3,º de penalti) pelos espanhóis (que tinham um tal Langara
como grande vedeta), e depois de Soares dos Reis ter sido substituído por Amaro
do Benfica, que acabou por sofrer mais 6, Portugal saiu derrotado por 9-0.
No rescaldo, devido aos jogadores do FC Porto não terem sido tratados como devia ser pelo selecionador, os mesmos foram homenageados pelo F. C. Os Portuenses. Como merece referência, pelo significado e
conclusões – conforme reportagem do jornal ” O Primeiro de Janeiro”.
Mais tarde, reconhecendo a valentia dos portugueses que jogaram
nesse tempo pela Seleção diante da Espanha, e como atenuante ao que se passara, no mês de abril seguinte Soares dos
Reis recebeu no Porto uma carta da então “Federação Portuguêsa de Football
Association” a agradecer a prestação tida na defesa das «côres portuguêsas», como foram enviadas iguais aos outros, no seguimento duma deliberação resolvida em reunião diretiva. Afinal uma
missiva histórica, à época considerada “carta de consolação”.
Era então Soares dos Reis figura pública conhecida como se
percebe bem por, um ano depois, com 25 anos, ter prestado uma entrevista a uma
revista juvenil em voga nesse tempo, chamada TIC-TAC.
Na calha, acrescente-se um pouco mais: No FC Porto Soares dos Reis sagrou-se campeão, primeiro
no Campeonato do Porto, tendo o FC Porto sido Campeão do Norte em 1933/34.
E depois, em 1934/35, no primeiro Campeonato Nacional da 1.ª
Divisão do futebol português, o FC Porto com Soares dos Reis foi Campeão Nacional. Então, antes do jogo final, Soares dos Reis desabafou, publicamente:
E Soares dos Reis em grande estilo foi o guardião da equipa campeã!
Terminou em beleza a caminhada desse primeiro Campeonato
Nacional, com um empate em Lisboa, em casa do Sporting, no decisivo jogo. O FC
Porto levava dois pontos de vantagem na classificação à chegada da jornada
derradeira. Ou seja ia com uma vitória mais que o adversário e seguidor, Sporting.
Conforme a classificação, perante a atribuição de 2 pontos por triunfos e 1 por
empates, ao tempo ainda e por muito tempo mais. Vitória essa que na prática correspondia ao triunfo da 1.ª volta, do jogo em que o FC Porto venceu o Sporting por 4-2, a 3 de março de 1935. E assim, na 2.ª volta, findo o jogo da última jornada, esse empate final soube
a vitória. Tendo o FC Porto ficado no 1.º lugar final com 22 pontos somados, quedando-se a seguir o Sporting com 20 em 2.º lugar e o Benfica em 3.º com 19 pontos; seguindo-se Beleneses, Vitória de Setúbal, União de Lisboa, Académico do Porto e Académica de Coimbra, por esta ordem. E em remate festivo, deu-se no regresso da caravana vitoriosa à Invicta uma receção
apoteótica.
Aí até na rua foram vendidos panfletos com versos dedicados |
Enquanto depois houve oficialmente uma solene sessão de homenagem, metendo
espetáculo preenchido com a atriz Maria Amélia e distribuição de medalhas aos campeões.
No decorrer dos anos seguintes o FC Porto, com Soares dos Reis na baliza,
continuou a vencer e a ser campeão noutras épocas. Mas isso e outras histórias ficam
para mais artigos, em oportunidades diversas, que a carreira de Soares dos Reis
foi muito rica e há muito mais a demonstrar, recordar e preservar na memória
portista.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
Nota: – Pode recordar-se o artigo publicado em 2018, clicando em
https://memoriaporto.blogspot.com/2018/08/soares-dos-reis-uma-dinastia-real-de_16.html
A. P.
Este artigo foi originalmente publicado neste site