Seleção parece ter descoberto o ponta-de-lança que lhe faltava. Avançado do FC Porto fez hat trick na goleada às ilhas Faroé (0-6).
A comparação pode ser ingrata para com o herói improvável da final do Euro 2016: em três jogos pela seleção nacional de futebol, André Silva já fez tantos golos como Éder em 31 partidas (quatro). A confirmação do surgimento de um novo homem de área – a posição mais debilitada da equipa das quinas nos últimos anos – foi a maior vitória trazida por Portugal ontem da visita às Ilhas Faroé, para o Grupo B da fase de qualificação europeia para o Mundial 2018. O resto foi um triunfo simples, por números gordos (0-6), com um hat trick do avançado do FC Porto.
Éder terá provavelmente a eterna gratidão dos adeptos portugueses por ter marcado o golo mais importante da história da seleção nacional (o 0-1 diante da França, que valeu a conquista do Euro 2016). No entanto, o luso-guineense nunca foi um homem-golo – antes um avançado móvel, capaz de criar desequilíbrios (de jeito um pouco desengonçado). Agora, Portugal parece ter descoberto o ponta-de-lança que há muito lhe faltava: um avançado que adivinha sempre onde a bola vai cair e, diante da baliza, nunca perdoa.
Com apenas 20 anos, André Silva é “o” homem. Ao fazer o primeiro hat trick enquanto sénior, o jogador do FC Porto tornou-se o mais jovem de sempre a marcar três golos num jogo pela seleção nacional. Desde Pauleta (num 4-1 a Cabo Verde, em 2006) que nenhum avançado português, além de Cristiano Ronaldo, o conseguia. Mas a promessa dos dragões pode combinar na perfeição com CR7: a nova dupla ofensiva da equipa das quinas marcou nove dos 12 golos de Portugal na jornada dupla com Andorra e Ilhas Faroé.
O rival de ontem, em Tórshavn, não era tão frágil como a seleção andorrana, que Portugal goleara na sexta-feira (com quatro golos de Ronaldo e o contributo de João Cancelo e André Silva). Contudo, a seleção portuguesa – com Antunes, William Carvalho e João Mário no lugar de Raphäel Guerreiro (lesionado), João Moutinho e Bernardo Silva -voltou a chegar ao final da primeira parte com a partida resolvida (0-3).
O mérito de tudo isso (apesar da fragilidade do adversário, 111.º do ranking da FIFA) foi, em primeiro lugar, de André Silva: com instinto de finalizador, o avançado do FC Porto marcou três golos nas três ocasiões criadas pelos lusos na primeira parte. No primeiro, aos 12″, aproveitou um ressalto para se isolar diante de Nielsen e, com toda a frieza, rematar rasteiro para o fundo da baliza. No segundo, aos 22″, fez a recarga, de cabeça, após o guardião faroense desviar para a frente um cruzamento de João Mário. E, no terceiro, aos 37″, voltou a estar no sítio certo para empurrar, após Nielsen defender um primeiro disparo de Cancelo.
No espaço de 25 minutos, o jogador natural de Gondomar e formado no FC Porto (após passagens por Salgueiros e Boavista) conseguiu um dos hat tricks mais rápidos da história da seleção nacional – embora longe do que Nuno Gomes alcançara em 2011, diante de Andorra (três golos, dos 36″ aos 44″, quando apenas entrara em campo aos 33″…). E tornou-se também o primeiro portista a fazer três golos pela equipa das quinas desde Valdemar Mota, em 1928 (4-1 à Itália).
Ainda assim, Silva não brilhou sozinho. Apesar da pressão constante e dos rápidos contra-ataques das Ilhas Faroé, a seleção nacional fez mais uma exibição dominadora e convincente – mesmo sem precisar de forçar para golear. O objetivo de não voltar a perder pontos foi cumprido com distinção, antes de chegar a hora de encarar outros outsiders do grupo, como Letónia (em novembro) e Hungria (em março).
Na segunda parte, CR7 tornou-se o melhor marcador de Portugal em qualificações para mundiais (20 golos), ultrapassando Pauleta – ao fazer o 4-0, num belo remate em arco (aos 65″), a passe de João Mário (que somou duas assistências). E João Moutinho e João Cancelo tornaram a goleada mais gorda, já em cima dos 90″. O médio fez o 0-5 num remate em jeito, à entrada da área. E o defesa apontou o 0-6, num disparo cruzado, após iniciativa individual de Gelson. Foi o terceiro golo do lateral-direito, de 22 anos, em três jogos pela seleção: outra entrada de rompante, como a de André Silva.
Fonte: DN: http://www.dn.pt/desporto/seleccao/interior/mais-do-que-um-jogo-portugal-ganhou-um-goleador-andre-silva-5434945.html?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook