– No orçamento proposto há um ano, a SAD pretendia fechar o exercício com um lucro de 1,793 milhões de euros. Terminou com um prejuízo de 58,411 milhões de euros, o maior da história do futebol profissional em Portugal.
– O FC Porto apontava para receitas operacionais de 85,433 milhões de euros. Ficou-se pelos 75,811 milhões de euros, muito por causa das receitas da UEFA (a SAD esperava 27,437M€, mas terminou com apenas 11,603M€). Na generalidade das restantes rubricas, merchandising, bilheteira, direitos televisivos e publicidade, a SAD ficou ligeiramente acima das expetativas e cumpriu com o que estava orçamentado. Nas receitas operacionais, o problema foi por isso a Liga dos Campeões – não é possível continuar a dar por garantido, orçamento após orçamento, que o FC Porto vai estar sempre presente na Champions.
– Nos custos operacionais, eram esperadas despesas de 107,76 milhões de euros. Os custos acabaram por bater o recorde de 124,325 milhões de euros. A folha salarial ficou quase 7M€ acima do que estava previsto, algo verdadeiramente preocupante e negativo, sobretudo tendo em conta que em janeiro saíram alguns dos mais bem pagos do FC Porto, casos de Tello, Imbula e Osvaldo. Custos com pessoal de 75,79M€ são uma violação do que já era incomportável. A SAD diz que a subida se deve essencialmente às indemnizações de Julen Lopetegui e José Peseiro (dois exemplos em que erros de gestão desportiva têm consequências financeiras – um pelo momento da saída, outro pela chegada).
– Os Fornecimentos e Serviços Externos voltaram a disparar: a SAD gastou sensivelmente mais 6M€ do que estava previsto, ao chegar aos 38,662M€ de despesa.
– Toda a receita da atividade corrente da SAD não chega para pagar os salários da época 2015-16.
– A SAD tinha que apresentar um resultado de 72,591M€ com transações de passes. Após custos, amortizações e perdas por imparidade, a SAD apresentou apenas 7,102M€ (no que toca a mais-valias, contando com Alex Sandro, as mesmas chegaram a 40,22M€).
– A SAD pretendia fechar o exercício com um prejuízo de 22,323 milhões nos resultados operacionais sem vendas de jogadores. O prejuízo foi mais do dobro do que estava orçamentado, 48,614M€.
– Nos últimos três exercícios, o FC Porto acumulou um resultado negativo de 78,811M€ – pior que em todos os anos anteriores de atividade da SAD juntos.
– O ativo subiu para 375M€, uma subida de 15,81M€, algo que se deve unicamente ao valor do plantel, que subiu quase 25M€ na rubrica de ativos tangíveis.
– Em contraste, o passivo sofreu uma subida abrupta, de 73M€, atingindo agora quase os 350M€. O passivo corrente aumentou cerca de 25% no prazo de um ano, estando agora nos 202 milhões de euros.
– A SAD explica o prejuízo com uma «decisão estratégica de não transferência de alguns ativos da sociedade, com finalidade de competir ao mais alto nível em 2016-17». Buster Keaton, Charlie Chaplin e Harold Lloyd dão por eles a pensar que deixaram muito por fazer no mundo da comédia.
– A SAD informa, pela primeira vez, que Helton rescindiu o contrato que tinha com o FC Porto. Assim sendo, já não é um profissional assalariado pelo clube e já não tem qualquer ligação a este emblema.
– O capital próprio mantém-se positivo, mas desceu 57,25 milhões de euros no espaço de um ano, um espelho do prejuízo apresentado. Os efeitos da operação Euroantas, cuja cedência do clube para a SAD também fazia parte de uma «visão estratégica e ponderada», estão cada vez mais reduzidos.
– Face à subida do passivo, e tendo em conta que um dos empréstimos obrigacionistas conhecerá o prazo para reembolso neste exercício, a SAD diz que «o Conselho de Administração está a estudar a realização de uma operação financeira para reestruturação deste passivo, de forma a assentar uma parte significativa da sua dívida no longo prazo».
– Pela primeira vez, a SAD decidiu pronunciar-se sobre o falhanço do fair-play financeiro. A SAD não podia apresentar mais de 8,6 milhões de euros de prejuízo, o que significa que falhou o FPF por cerca de 50 milhões de euros. Resta agora aguardar que a UEFA se pronuncie sobre as punições a aplicar ao FC Porto – e que o Conselho de Administração responda depois por elas e que assuma as responsabilidades pelas mesmas. Aqui a culpa – se preferirem, a responsabilidade – não é dos blogues, não é da imprensa, não é dos adeptos, não é do árbitro, não é do Marega, não é do Lopetegui e não é do Trump: é do Conselho de Administração da SAD. Democraticamente reeleito por 79% dos associados votantes, diga-se.
– Maicon saiu para o São Paulo por 12M€, gerou uma mais-valia de 9M€ e o FC Porto indica que comprou 50% de Inácio por 3M€. Mas o FC Porto pagou no total 6M€ ao São Paulo. Se Inácio custou 3M€ por metade do passe, a que se devem os restantes 3M€ pagos ao São Paulo?
– O FC Porto pagou 15,162 milhões de euros com encargos com transferências na última época. O FC Porto detalha as compras de 11 futebolistas (há 5M€ pagos por jogadores que não são discriminados) e pagou comissões a um total de 25 entidades diferentes.
– A SAD tem 60% do passe de Víctor García, pois já tinha adquirido 10% no último trimestre de 2014/15, além dos 50% que comprou depois à Northfields.
– A SAD tem a receber 50,69M€ de outros clubes no prazo de um ano. Entre os novos devedores, entram o Stoke (13,37M€), o Portimonense (615 mil), o Atlético Paranaense (500 mil) e a Real Sociedad (300 mil). Nota para a Doyen, cuja dívida em relação ao FC Porto aumentou no último ano, para os 2,877 milhões de euros.
– A SAD já começou a antecipar as receitas do novo contrato com a PT/Altice (que só entra em vigor em 2018), ao utilizar 10M€ como garantia para um empréstimo junto do Montepio.
– A SAD antecipou 13,37M€ da receita de Imbula, ao recorrer ao Macquarie Bank, banco australiano.
– A SAD está mesmo apostada na antecipação de receitas – tentar tapar os buracos do presente comprometendo o futuro. Outro exemplo foi o contrato com a Unicer: foi renovado em abril e, no mesmo mês, a SAD usou-o como garantia para um empréstimo de 4,2M€ junto do BIC.
– No R&C Individual, a SAD dá conta de adiantamentos de 4M€ em 2014-15 e de 27M€ em 2015-16 nas receitas televisivas. No R&C Consolidado, os adiantamentos apontam para 36,9M€ em 2015-16 e 9M€ em receitas do patrocinador principal.
– Fernando Gomes disse, no início de janeiro, que o contrato com a Altice ia permitir «gerir o FC Porto de outra forma». É esta a forma de que falava?
– O FC Porto deve 37,743M€ no prazo de um ano a outros clubes.
– Em dezembro, o FC Porto tinha uma dívida corrente de 1M€ e uma não corrente de 1,8M€ ao Portimonense, pela contratação de Danilo. Neste momento (a 30 de junho), a dívida não corrente mantém-se (1,8M€), mas a dívida corrente já é de 2,75M€. O que significa que o FC Porto comprou mais jogadores ao Portimonense – ou através do Portimonense -, mas não há detalhes sobre isso. Gleison é um desses casos.
– Nos Fornecimentos e Serviços Externos, destaque para um aumento de 601 mil para 3,5 milhões de euros do FC Porto em despesas com os direitos de imagem dos seus jogadores. Há mais 2M€ de despesas que não são discriminadas. Nota para uma descida na «Publicidade e Propaganda» para sensivelmente metade, agora de 1,06M€.
– Nos custos com pessoal, o plantel mantém-se na casa dos 54M€. As remunerações dos Órgãos Sociais subiram para 1,97M€, apesar dos vencimentos de Pinto da Costa (520 mil euros) e administradores da SAD (287) se manterem inalterados. As rescisões com Lopetegui, Helton, Peseiro e restantes staff saíram caro, pois a rubrica ascende a 4,4 milhões de euros.
– Em 2015, o FC Porto tinha 329 profissionais no Grupo. Neste momento, são 431, com destaque no aumento dos administrativos (de 133 para 217), dos técnicos desportivos (37 para 54) e dos atletas (77 para 85). No Museu, saíram sete pessoas, estando agora 25 ao serviço do FC Porto.
– O FC Porto teve proveitos de 2,769M€ com empréstimos de jogadores. Em sentido inverso, teve custos de 3,347 com empréstimos de jogadores.
– A SAD incluiu uma alínea em que dá conta de operações realizadas com Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente, na envolvência da Energy Soccer em transferências e renovações de contratos. A Energy Soccer faturou 465 mil euros com comissões nas saídas de Rolando e Quaresma, na compra de Fede Varela, na renovação de Leandro Silva e na assinatura do contrato profissional com Rui Pires (menino a seguir com muita atenção). Estão pendentes 108 mil euros. Saúda-se que a SAD apresente estes detalhes das contas, mas deveria ser aplicável a todos os membros do Conselho de Administrações que negoceiam com familiares.
– A SAD diz que os custos de Alex Telles, Depoitre e Boly implicaram um valor global de 19M€. Tendo em conta que Alex Telles, segundo o Galatasaray, custou 6,5M€, a SAD confirma que investiu 12,5M€ em Depoitre e Boly.
– Fernando Gomes diz que foram rejeitados 95M€ por André Silva, Danilo e Herrera. Tendo em que conta que Fernando Gomes diz que tal permitiria apresentar resultados positivos, então foram propostas apresentadas até 30 de junho. Assim sendo, André Silva tinha uma cláusula de rescisão de 25M€, por isso houve um total de 70M€ propostos por Danilo e Herrera. Tendo em conta que Danilo tem uma cláusula de 40M€, ou andaram a oferecer propostas acima das cláusulas, ou o FC Porto rejeitou uma proposta de pelo menos 30M€ por Herrera. É a vez de Cervantes, Dumas e Dickes sentirem as suas obras incompletas.
– O FC Porto justifica-se com esta frase: «Demos um passo atrás, para darmos agora dois ou três em frente». Esperemos é que tenham reparado que já têm o abismo debaixo dos pés.
Fonte: http://otribunaldodragao.blogspot.pt/2016/10/34-coisas-reter-do-relatorio-e-contas.html