Um plantel com excesso de álcool num treino do FC Porto em 2004? Parece impossível mas o tempo permite que algumas das histórias mais curiosas (e muitas vezes as melhores) venham ao de cima. Deco contou várias, por entre muitas gargalhadas, no programa «Aqui com Benja», no Brasil.
Uma delas, então, fala do dia em que alguns jogadores do plantel foram treinar embriagados, no ano em que o FC Porto ganhou a Liga dos Campeões. Foi até Derlei, convidado a fazer uma pergunta a Deco, que lançou o tema para a mesa. O antigo médio sorriu e explicou.
O FC Porto tinha mudado recentemente para o Olival e havia um restaurante de um amigo, bem perto, onde o grupo costumava almoçar. «Naquele tempo dizia-se que equipa boa é equipa que bebe. Agora já está mudado, é muita coca-cola na mesa», brinca.
Ora, naquele dia José Mourinho tinha marcado dois treinos, um de manhã e outro de tarde. Pelo meio, o plantel almoçou junto. «Fomos a equipa inteira e todos tinham de beber, era obrigatório», conta.
«Havia treino às cinco da tarde, o pessoal começou a beber, sempre a servirem mais. Bem, quando começou o treino, três caíram no chão. O Mourinho acabou com o treino, ficou furioso e foi embora. O pessoal foi para o balneário, havia lá vinho, alguns ficaram até ás 10 horas a comer e a beber. No outro dia o Mourinho queria matar a gente», atira.
E ainda lançou um nome para a mesa quando questionado sobre o que bebia mais. «O Alenitchev. Era russo. Estava habituado a beber vodka, vinho para ele era água», brincou Deco.
«Messi, com 18 anos, não dava um pique num treino»
Além de Derlei, outras figuras ligadas ao passado de Deco enviaram mensagens ou fizeram perguntas, numa longa conversa que passou por toda a carreira do antigo jogador do FC Porto. Um deles foi Carlos Alberto, outro ex-portista, para quem Deco teve uma mensagem especial.
«A carreira que ele teve não condiz com o que ele joga. Foi dos melhores com quem joguei. Tem uma coisa boa e ruim: se vir uma coisa errada nos balneários ele toma a dor. Disse-lhe sempre para olhar mais para ele. O Mourinho era apaixonado por ele. Ele veio com uma personalidade absurda para os treinos do FC Porto», elogia.
Deco disse ainda que o FC Porto mudou a sua vida e que a sua carreira «não tem sentido sem Portugal». Salientando que nunca deixou de ser brasileiro, garante que a decisão de jogar pela seleção lusa «foi de coração».
E sobre o melhor momento da carreira, destaca as duas Ligas dos Campeões que venceu, mas sublinha que uma foi especial: «Com o FC Porto acaba por ter mais significado, pelo que significou para o clube até hoje.»
Outro tema abordado foram os melhores com quem Deco jogou. O programa destacou os nomes de Cristiano Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Messi e pediu-lhe para escolher. «O Ronaldo é supercompetitivo. O Ronaldinho foi o mais espetacular. Mas o Messi acaba por ser o melhor de todos. É mais génio. Mas se tivesse de ficar com um era o Ronaldinho», garante.
Sobre Messi conta ainda uma história curiosa dos tempos em que começou a jogar no Barcelona: «Ele era como é agora. Ficava parado e quando recebia a bola saía a fintar toda a gente. Era estranho porque tinha 18 anos, estava numa equipa como o Barcelona e não dava um pique no treino. O Ten Cate, adjunto, estava sempre a reclamar, a dizer que ele tinha de dar mais. Eu disse-lhe: ‘esquece, este rapaz é diferente. Não entendeu até agora que ele não precisa? Vais conseguir que ele seja o melhor jogador do mundo e te odeie’.»
Por fim, outra passagem curiosa contada por Deco foi a saída do Chelsea para o Fluminense, quando desejava voltar ao Brasil. Tinha ainda contrato, o clube não tinha como pagar e Carlo Ancelotti, o treinador, não o queria deixar sair. Mas havia um problema pessoal, relacionada com os filhos, que Deco foi contar, pessoalmente, a Roman Abramovich.
«Contei a minha história mas não o comoveu muito», conta Deco, entre risos. Marina Granovskaia, diretora do clube, explicou-lhe depois: «Ele [Abramovich] perdeu o pai com sete anos. Isso que dizes para ele não conta. Ou pagas ou não te vai deixar sair.»