O FC Porto perdeu, muito justamente, no Restelo por 2-0 e cedeu, pela primeira vez, a liderança do campeonato. A equipa continua a depender apenas de si própria para chegar ao título, mas para que isso possa acontecer tem de melhorar rapidamente a qualidade do futebol que vem praticando nas últimas jornadas. Nos últimos quatro jogos que realizou (três para o campeonato e um na Liga dos Campeões) o FC Porto perdeu dois, empatou outro e só chegou uma vez à vitória. Em três deles ficou em branco.
O futebol poderoso que caracterizou esta equipa do FC Porto ao longo da época esvaneceu-se no último mês. A vertigem ofensiva, a pressão asfixiante, a intensidade e a dinâmica inigualáveis, a profundidade, o número infindo de bolas na área, o elevado número de golos, tudo isto deu lugar a um jogo mais previsível, mais lento, menos intenso, no fundo, menos dinâmico e, portanto, muito menos desequilibrador. Como os jogadores não desaprenderam, o problema só pode estar nas suas cabeças. Tem a palavra o treinador-psicólogo.
As lesões que afectaram a equipa nas últimas semanas como que diminuíram a chama do Dragão. Num plantel que sempre foi considerado curto uma onda tão grande de lesões tem de ter consequências. Não é só a ausência física dos jogadores, é também o tempo que depois demora a recuperar o ritmo, o entrosamento e a dinâmica individual e colectiva. Naturalmente que os jogadores mais afectados foram os mais utilizados, alguns deles reincidentes nas lesões, o que obrigou a recorrer a soluções menos trabalhadas. Isto também é natural, o que não é normal é ter tantos jogadores lesionados ao mesmo tempo. As equipas estão preparadas para perderem e substituírem um, dois ou três jogadores de forma simultânea. Cinco, seis ou sete já é mais difícil.
Afinal a pausa no campeonato não serviu para tudo. Deu para aumentar o leque das opções, é certo, mas a equipa não surgiu melhor fisicamente nem descomprimiu do apertado calendário competitivo dos últimos três meses. Aliás, o que esta equipa precisa mesmo é de se soltar. Parece amarrada num colete-de-forças que a limita física e psicologicamente. É preciso tirar esse peso dos ombros e voltar a jogar de forma descomplexada, determinada e corajosa. Têm de perceber que dependem apenas de si próprios para serem campeões e que a obrigação de vencer todos os jogos já existia, se mantém e é exequível.
Em todos os campeonatos as equipas têm fases boas e outras menos boas, a que correspondem resultados bons ou menos bons. Nos campeonatos normais isso corresponde a ganhar mais ou menos pontos, a aumentar ou diminuir vantagens. No nosso futebol muito especial, cheio de condicionalismos e sob investigação não foi possível ao FC Porto construir uma vantagem pontual sobre os adversários que traduzisse a real diferença entre as equipas e que permitisse agora encaixar esta fase menos boa. Aqui existem clubes que, na sua pior fase e em que lá fora não ganhavam um jogo, foram segurados artificialmente. O que inquina e desvirtua a competição.
Fonte: jose Fernando Rio