Passou fome e frio. Para ajudar a família, vendeu donuts no bairro que o viu crescer, em Rosarito. Chamaram-lhe Zorro no Pachuca e rei do breakdance entre os amigos. Chegou a pensar emigrar para os Estados Unidos, onde iria trabalhar na agricultura, mas acabou por vingar no futebol. A vida do internacional mexicano Héctor Herrera antes de atravessar o Atlântico e de ser o capitão do F. C. Porto.
Texto de Pedro Cardoso, no México
Os mortos estão a chegar e Dona Estela anda numa correria. É 2 de novembro e a tarde já vai a meio. No pátio da casa térrea na Rua do Ébano, em Rosarito, a avó materna de Héctor Herrera decora o altar do “Día de Muertos”. “Hoje vamos receber o meu marido, a minha mãe e a minha sogra.”
No meio da azáfama, com um ramalhete das rituais flores de “cempasúchil” na mão, Dona Estela toma um respiro, apoia-se na esquina do altar e recorda o neto: “É o bebé da família, o mais novo dos três irmãos. Era tremendo, não parava de jogar futebol aí mesmo nas ruas. Às vezes atirava as bolas contra as portas de madeira dos vizinhos, que se vinham queixar comigo: ‘Controla esse miúdo!’”.
“Com o coração nas mãos”, Dona Estela acompanhou um percurso que, entre 2002 e 2013, converteu o “rapazito magro como um pau” das praias de Rosarito num dos mais famosos internacionais mexicanos e capitão do F. C. Porto. “Quase ninguém conhece as dificuldades que ele passou. Quando jogou noutros lados, às vezes deitava-se sem comer, só com um copo de água. Dizia-me: ‘Não é fácil, nana (assim me chama), mas tenho de dar-lhe duro’.”