Tribunal decidiu extraditar o português para ser julgado pela justiça portuguesa, mas a defesa de Rui Pinto já fez saber que vai recorrer
O tribunal metropolitano de Budapeste decidiu extraditar Rui Pinto para Portugal, onde deverá ser presente às autoridades, no âmbito da investigação ao acesso aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports. Apesar de o recurso ter “efeito suspensivo imediato” da decisão de extradição, segundo disse fonte judicial, Rui Pinto confirmou que vai aguardar o desfecho deste apelo numa prisão húngara.
Em tribunal, o português falou sobre diversos temas, entre eles as suspeitas sobre o comportamento da Polícia Judiciária e revelações sobre o FC Porto, que Rui Pinto assumiu o terem “entristecido”. Recorde o que foi dito em tribunal.
Vai colaborar com a justiça portuguesa?
“A minha prioridade é colaborar com a justiça francesa, que foi a que me mostrou mais garantias. Portugal nunca quis saber de mim. Portugal agora quer pôr a minha cabeça a prémio, quer mostrar-me como um troféu, quer tratar-me como um Bin Laden. Foi essa a perceção que tive da conferência de imprensa de Carlos Cabreiro”.
Suspeitas sobre uma alegada relação de elementos da PJ com a Doyen:
“Se elementos ligados à Doyen tiverem reuniões clandestinas com inspetores da PJ que nem fazem parte do processo, isto é gravíssimo. Quando vemos inspetores da PJ a usarem emails pessoais para falarem com elementos da Doyen e tratarem-se quase como amigos, é gravíssimo. O Ministério Público investiga? Não quer saber disso. Provas? Tenho, estão em França. Entreguei provas disso às autoridades francesas. Têm documentos claríssimos que mostram que a investigação foi feita de maneira completamente irregular. Isto é escandaloso”.
Quem vai pagar a sua defesa?
“Uma fundação americana que se dedica a ajudar whistleblowers, como é meu caso, vai pagar todas as verbas aos advogados”.
Revelações sobre o FC Porto:
“O Football Leaks revelou pormenores bem interessantes do FC Porto, por exemplo a colaboração com a Doyen, também comportamentos que considero estranhos em relação à participação do filho de Pinto da Costa, Alexandre Pinto da Costa. Também outro fundo registado na Áustria, em Viena, chamado Danubio, existem algumas coisas que me fazem acreditar que possa talvez haver desvio de fundos no FC Porto, o que me entristece. Pinto da Costa para mim é um dos melhores presidentes que o futebol europeu já teve, mas também comete erros. E entristece-me algumas coisas que soube sobre o FC Porto. Parte delas já são públicas. Se mais vão ser reveladas? Há essa possibilidade. Ainda recentemente há um escândalo que atinge o Manchester City por causa do fair play financeiro. É claro que isto não visa nenhum clube em específico, isto é internacional. Acho de muito mau gosto algumas acusações em Portugal de que sou movido pelos interesses do FC Porto. Sou portista mas não tenho nenhuma agenda escondida”.
Recurso:
“Agora vou passar umas noites numa prisão húngara. Interpomos recurso e é aguardar”.
Resposta às declarações de António Cluny:
“Se Portugal quisesse alguma vez investigar crimes no futebol, pedia a colaboração do Football Leaks. Por isso é que eu acho uma extrema palhaçada as declarações do magistrado do Eurojust [Unidade de Cooperação Judiciária da União Europeia] António Cluny, de querer separar o caso Football Leaks, o que eles chamam em Portugal de extorsão, das revelações. Isto é ridículo. Não posso dizer se Cluny é independente ou não. Escreveu um artigo de opinião no Jornal i que mostra a sua opinião sobre whistleblowers. Uma pessoa que tem um filho que é advogado direta ou indiretamente de Cristiano Ronaldo, de José Mourinho, faz parte do escritório de advogados Morais Leitão, faz parte da equipa de advogados ligados ao Benfica no e-Toupeira… Acho que há aqui um claro conflito de interesses”.
Fonte: Ojogo.pt