“Foi o teste piloto para perceber se os jogos podem voltar a contar com público ou não.
Estive presente.
Considerem me um enviado especial.
Para ajudar Marta Temido e a Graça Freitas que não têm a melhor ideia desta espécie que é o adepto de futebol.
Ao que parece o desporto contem emoções que teatro, concertos e touradas não têm.
No fundo o futebol é um espetáculo que não pode ser visto como espetáculo.
Foram 2500 pessoas para 40 mil lugares.
É como pegarem num copo de água doce.
E despejarem no mar enquanto gritam para os peixes terem cuidado.
Porque a água doce pode matá-los.
Começamos pelas entradas.
Não as minhas.
As de Alvalade.
São muitas entradas.
Cruzei-me com mais gente agora na porta do café do que na entrada do Estádio.
Sempre de máscara metida.
Só que ajeitasse a máscara já ia passar a noite ao Pinheiro da Cruz sem direito a pequeno almoço.
Desinfetaram-me as mãos 7 vezes.
Com álcool gel.
Betadine.
Lixívia Neoblanc Gentil.
E Colgate Anti-Bacteriano.
Estava pronto para finalmente entrar.
O lugar estava devidamente marcado.
No bilhete e na cadeira tínhamos essa indicação.
A pessoa que foi comigo no mesmo carro para o jogo ficou a 5 cadeiras de distância.
Para conversarmos sobre o jogo liguei-lhe.
No fim da primeira parte fiquei sem bateria e só voltamos a falar no final.
No remate de Ronaldo à trave.
E sabendo que os adeptos não controlam as emoções.
Um senhor gritou golo e deu-me um beijo na boca.
-Está parvo?
Ao que ele me respondeu.
-Então você vem ao futebol e não sabe que nos golos é normal nós beijarmos as pessoas na boca enquanto abraçamos e apalpamos?
E pronto.
Trocamos números.
E continuamos a ver o jogo como adeptos contidos.
Acho que as nossas ministras podem ficar descansadas.
E podem também deixar o público voltar a assistir aos jogos.
É menos seguro que as touradas.
Onde a cada espetar dos ferros nos touros as pessoas bocejam aborrecidas.
Ou quando os forcados fazem uma boa pega.
Raramente alguém esboça emoções ou reacções.
Senti-me seguro.
Quase tão seguro como no Zoomarine.
Ou no parque aquático.
Ou no cinema.
Ou nos restaurantes.
Ou em todos os outros sítios onde já fui e não respeitam a distância de segurança”
By: Marcio Madeira
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