Faleceu Fernando Gomes, o eterno “Bibota”, nosso Bi-Bota d’ Ouro.
Nesta hora em que tão reluzente estrela passa a brilhar no céu,
estamos todos nós Portistas de luto, pois o Fernando Gomes era dos nossos, o
Gomes do Porto era da Família Portista. Como o tenho em espaço particular de meu recanto de passatempo doméstico…
Lembrando alguns dos momentos em que pude estar diante dele…
Assim, recordo um domingo de futebol à tarde em que o
encontrei no estádio das Antas, quando ele tinha já acabado a carreira de
futebolista e ainda não regressara a funções no clube. Tendo então, junto à
porta de entrada da bancada, ele me autografado o bilhete desse jogo (com o
Estoril, em 1992).
Bem como num dia do encontro Dia do Clube, em 2017, me autografou a
revista da conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1987, precisamente no dia
em que fazia 30 anos dessa conquista (foto que encima este artigo da triste
notícia de seu falecimento).
O nome e a cara de Gomes são referências de nosso Portismo. Lembrar o Gomes logo transporta ao tempo em que o FC Porto passou a ser mesmo grande, a ter verdadeiramente uma grande equipa. Vendo-o de braços abertos e língua de fora a marcar e comemorar golos, bem como a ouvir seu nome nos relatos do Amaro no Quadrante Norte dos Emissores do Norte Reunidos… e o seu sorriso sempre que aparecia na televisão ou em fotos.
Fernando Gomes foi um jogador que desde seus primeiros tempos de futebolista com a camisola do FC Porto deu nas vistas e depressa chamou a atenção dos portistas, quer dos que podiam seguir in loco os jogos das camadas jovens, quer dos que acompanhavam a vida do clube à distância, sobretudo através das crónicas no jornal O Porto, dos meios mais acessíveis nesses tempos. Passando desde logo a ser admirado, ainda nos Juniores, fazendo dupla com Maia e bem secundado por todos os outros dessa bela equipa. Até que depressa subiu ao plantel senior, estreando-se em pleno verão de 1974 no Torneio Início e depois fazendo estreia no Campeonato Nacional de 1974/75 com dois golos na 1.ª jornada, os dois da vitória por 2-1 diante da equipa da antiga Cuf, no início de setembro, com o público portista por testemunha vibrante no estádio das Antas. Para volvidas poucas épocas ter passado a ser o Bola de Prata de melhor marcador de Portugal em 1977, após o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão de 1976/77, seguindo-se em 1983 e 1985 a Bota de Ouro de melhor goleador europeu, por duas vezes.. enquanto em Portugal foi 6 vezes Rei dos Goleadores.
Sinceramente
num momento assim nem me apetece escrever muito e nada mais. Aliás sobre o Gomes muito está
escrito neste blogue, ao longo dos anos em diversificados artigos. Além de
ilustrações várias.
Como tal desta vez, apenas coloco aqui agora fotos e imagens
de meu arquivo pessoal, entre excertos de referências publicadas em páginas
oficiais, desde a página do clube até às de um dos jornais, o JN, como exemplo.
«MORREU FERNANDO GOMES
Antigo avançado vencedor de duas Botas de Ouro foi o melhor
marcador de sempre do FC Porto
É com enorme tristeza e consternação que o Futebol Clube do
Porto anuncia o desaparecimento de um dos nomes incontornáveis da sua história.
Fernando Gomes, Bibota de Ouro e maior goleador de azul e branco, faleceu este
sábado aos 66 anos vítima de doença prolongada.
Nascido em novembro de 1956 na freguesia de Campanhã – bem
perto do Estádio das Antas -, Gomes começou a representar o clube que o
apaixonava enquanto adolescente. Colecionou golos e títulos ao longo de um
curto percurso nas camadas jovens que rapidamente se transformou noutro ainda
mais produtivo no futebol sénior.
Estreou-se na equipa principal do FC Porto logo aos 17 anos.
Com apenas 20, sagrou-se melhor marcador da Liga pela primeira de seis vezes e
revelou-se decisivo para o quebrar de um jejum que durava há quase duas
décadas.
Cinco vezes Campeão Nacional, uma Campeão Europeu, vencedor
de três Taças de Portugal, outras tantas Supertaças Cândido de Oliveira e uma
Europeia, foi figura de proa na afirmação dos Dragões dentro e fora de portas.
Distinguido com duas Botas de Ouro que o coroaram como o
melhor artilheiro da Europa em 1983 e 1985, foi dono e senhor da camisola 9 e
da braçadeira portista nas décadas de 70 e 80.
Vinte anos, 452 jogos e 355 golos depois viria a dar por
terminada uma carreira dourada longe da Invicta. A experiência nos relvados e
na liderança do departamento de prospeção deram-lhe bagagem mais do que
suficiente para assumir o cargo de Diretor da Formação dos Dragões, cargo que
manteve até ao último dia apesar dos problemas de saúde.
Entre o primeiro Dragão de Ouro de Futebolista do Ano –
entregue na edição inaugural dos prémios – e o de Dirigente do Ano – atribuído
em finais de 2021 -, o Bibota nunca perdeu o Norte nem a paixão pelo FC Porto.
O FC Porto está de luto pela perda de uma das maiores
figuras da sua história e endereça as mais sentidas condolências à família, aos
amigos e a todos os admiradores de Fernando Gomes.»
Aqui fica, assim, uma homenagem, nesta oportunidade mais. Ilustrando melhor a efeméride através também de uma vista de olhos por algumas das muitas coisas sobre ele guardadas em arquivo pessoal, do autor destas lembranças.
«ELE ERA O GOLO
Fernando Gomes, melhor marcador da história do FC Porto,
morreu aos 66 anos
A transformação do FC Porto num clube ganhador após o 25 de
abril teve como momentos mais significativos duas conquistas com caráter quase
fundacional: a da liga portuguesa de 1977/78, que colocou um ponto final num
longuíssimo jejum de 19 anos sem o principal título nacional; e a da Taça dos
Clubes Campeões Europeus de 1986/87, que inaugurou um palmarés internacional
que não tem paralelo entre os clubes portugueses. Houve um único jogador
protagonista nestes dois acontecimentos separados por nove anos: Gomes, o
melhor marcador da história do FC Porto.
Nascido no Porto a 22 de novembro de 1956, Fernando Mendes
Soares Gomes tinha 14 anos de idade quando, durante as férias de verão, foi de
Rio Tinto ao Campo da Constituição a pé para participar nas captações do FC
Porto. Não precisou de muitos minutos para impressionar António Feliciano –
histórico treinador e formador de campeões azuis e brancos – e garantir uma
vaga no plantel de juvenis a partir dos 15 anos. Apenas três anos mais tarde,
aos 17, na primeira jornada do campeonato de 1974/75, estreou-se pela equipa
principal e marcou os dois golos da vitória por 2-1 sobre a CUF.
Ainda que o arranque tenha sido fulgurante, ninguém podia
imaginar que aquele adolescente estava destinado a marcar uma era no FC Porto,
que com ele na frente de ataque viria a ganhar ao longo das duas décadas
seguintes muito mais do que o que havia alcançado em toda a história até então.
Claro que as conquistas não foram só de Gomes – foram coletivas –, mas é
impossível iludir o impacto individual de um jogador que bateu todos os recordes:
quando vestiu a camisola do clube pela última vez, a 22 de janeiro de 1989, já
havia muito que tinha superado os registos de golos de atletas míticos como
Pinga, Araújo, Correia Dias, Hernâni e Teixeira.
Gomes marcou 355 golos em 452 jogos oficiais pelo FC Porto.
E muitos deles foram decisivos: em 1977, assinou o único da final da Taça de
Portugal disputada com o Braga – primeiro troféu conquistado pelo clube desde
1968; em 1985, fez o golo da vitória na Luz, perante cerca de 30 mil portistas,
num jogo que foi um passo importante rumo à conquista do título; em 1987, na
segunda mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, foi o autor de um
dos golos frente ao Dínamo de Kiev que valeram a qualificação para a final de
Viena; e em dezembro do mesmo ano, em Tóquio, foram dele e de Madjer os golos
que fizeram do FC Porto campeão do mundo contra o Peñarol. Além disso, picou o
ponto nos jogos que confirmaram os títulos nacionais de 1978, 1979, 1985, 1986
e 1988.
A impressionante eficácia ofensiva de Gomes valeu-lhe
inúmeros prémios individuais. Foi seis vezes o melhor marcador da liga
portuguesa – em 1977, 1978, 1979, 1983, 1984 e 1985 –, e em duas sagrou-se
mesmo o maior goleador de todos os campeonatos europeus. Recebeu, por isso, a
bota de ouro em 1983 e 1985, justificando a alcunha que lhe ficará eternamente
associada: Bibota. Entretanto, no plano coletivo, juntou cinco campeonatos
nacionais, três taças e três supertaças, além de uma Taça dos Campeões
Europeus, uma Taça Intercontinental e uma Supertaça Europeia.
Gomes deixou o FC Porto pela primeira vez em 1980, para
representar o Sporting Gijón e marcar 16 golos em Espanha, durante duas
temporadas condicionadas por problemas físicos. Em abril de 1982, o regresso do
camisola nove a casa foi uma das bandeiras da primeira candidatura presidencial
de Jorge Nuno Pinto da Costa. A sua concretização – muito afetada pelo estado
depauperado das finanças do clube – não foi fácil, mas aconteceu. E Gomes
continuou a marcar golos e a ganhar títulos de azul e branco durante mais sete
anos. Pelo meio, sucedeu a Rodolfo como capitão. Fechou a carreira com duas
temporadas e 38 golos ao serviço do Sporting. Pela seleção de Portugal,
participou em 47 jogos, marcou 11 golos e esteve entre os convocados para o
Europeu de 1984 e o Mundial de 1986.
A ligação de Fernando Gomes ao FC Porto não se esgota na
condição de atleta. Sócio do clube desde os seis anos, serviu-o como dirigente
nas últimas décadas, com responsabilidades em áreas como o scouting e o futebol
de formação. A qualidade com que desempenhou estas funções valeu-lhe, em 2021,
o Dragão de Ouro de dirigente do ano – em 1986, na primeira edição destes
prémios, tinha sido galardoado como futebolista do ano. Quando lhe foi entregue
a última distinção, a 29 de novembro do ano passado, o eterno Bibota comentou
que, depois de ter recebido tanto do clube, não contava que o FC Porto ainda
tivesse alguma coisa para lhe dar. Tinha e terá sempre, porque não há como
pagar o que Gomes deu à causa.
Neste momento, onde quer que haja um portista em Portugal e
no mundo, há dor e luto. Fernando Gomes morreu aos 66 anos de idade, depois de
três anos a lutar com um cancro.»
(fcporto.pt)
«Morreu Fernando Gomes, histórico avançado do F. C. Porto
Morreu, este sábado, o maior goleador da história do F. C.
Porto. Ficam os golos e o eterno fascínio do mais prestigiado de todos os
dragões, um dos grandes obreiros da enchente renovadora do clube nos anos 1970
e 1980.
O funeral realiza-se no domingo, às 15 horas, na Igreja das
Antas, no Porto.
Fernando Gomes não foi o melhor jogador da história do F. C.
Porto. Foi o mais emblemático de todos. Com a devida vénia a Pinga, Araújo,
Falcao ou Jardel, Gomes foi o maior goleador dos anais portistas e nessa
condição também o porta-estandarte da emancipação do clube e da revolução
operada no futebol e no desporto português. Foi-se muito novo, aos 66 anos.
Deixa obra que o imortaliza. É uma lenda.
Foi um cancro fulminante que levou um dos maiores ídolos do
F. C. Porto, duas vezes consagrado melhor marcador de todos os campeonatos
europeus. Daí ter sido celebrizado e permanentemente recordado como
“bibota” de ouro, cognome que se lhe colava com toda a naturalidade e
que todos, incluindo o próprio, já adquiriam como batismo de berço.
Se foi ou não da primeira infância, certo é que o
“bibota” não demorou a demonstrar uma irresistível atração pelas
balizas e pelos golos. Chegou ao F. C. Porto aos 14 anos, depois de ter feito o
percurso de rua e de futebol de bairro que, na altura, filtrava os melhores. Na
Constituição e nas Antas, António Feliciano e Costa Soares, dois formadores de
excelência, logo viram o que ali tinham. Uma pérola rara. Em três épocas
seguidas, Fernando Gomes foi campeão, de juvenis e de juniores. Acumulou
centenas de golos e atingiu a maioridade antes dos 18 anos.
Ainda cheirava a abril, a 8 de setembro de 1974, quando o
adolescente de 17 anos teve a alternativa na equipa principal do F. C. Porto,
em pleno Estádio das Antas, pela mão do treinador brasileiro Aimoré Moreira. E
que estreia! Foi ele o autor dos dois golos que derrotaram a CUF (2-1). E foram
só os primeiros dois de 419 “orgasmos”, como lhes chamava o próprio.
E foi logo ali que o peão também foi introduzido às singulares celebrações do
debutante, às correrias para a rede e para os braços dos adeptos, para esse ato
tão fisiológico e assim tão bem descrito, como grau máximo da cópula da bola.
A encenação foi repetida vezes sem conta, cada vez mais e
sempre com excitação renovada. Foram 419 bandarilhas em 17 anos de carreira
profissional. Nos 13 que passou no F. C. Porto, tornou-se no maior goleador da
história do clube, com 354 remates certeiros. Jogou dois anos (1980-82) em
Espanha, pelo Gijón, e fez por lá 16 golos em 33 jogos e entre múltiplas
lesões, antes de voltar para uma segunda passagem pelo F. C. Porto e para uma
certo resgate. Concluiu a carreira no Sporting (1989-91), pelo qual fez 38
golos em 79 jogos. Ainda assinou 11 golos em 47 jogos pela seleção.
Senhor de uma notável variedade de recursos, sobretudo de
uma técnica de cabeceamento ímpar, Gomes foi seis vezes vencedor do prémio Bola
de Prata, que distingue o melhor marcador do campeonato, Foi um predador da
área, dotado de um instinto infalível. “A minha missão não era marcar
golos bonitos, era marcar”, dizia o próprio, numa das últimas entrevistas,
concedida ao JN, no dia em que celebrou o 60.º aniversário.
Nessa época, nos anos 1970 e 1980, que antecedeu a chegada
em força da TV, essa caixa que também mudou o futebol, e que também precedeu a
adoção da superliberal Lei Bosman, nesses gloriosos tempos da Rádio, dos
relatos de Amaro e do Quadrante Norte, também se fez a estrela portista. Além
de goleador em série, Gomes foi um craque de muito carisma. Corte da moda,
cabelinho ao vento, naquele ar “pop-rock”, fez milhares e milhares de
novos portistas, na adesão comunitária que derrubou o complexo dos andrades e
que fez do Dragão um símbolo do futebol mundial.
Pois foi todo este património, o do grande campeão – campeão
do Mundo, campeão da Europa, cinco vezes campeão nacional, três supertaças,
três taças, uma supertaça europeia… – e de símbolo identitário que o F. C.
Porto e o futebol português perderam.»
(Jornal de Notícias)
Até sempre Fernando Gomes !
Este artigo foi originalmente publicado neste site