O FC Porto já disputou 3233 jogos oficiais. Marcou 7165 golos. Ganhou dezenas de títulos, cá dentro e lá fora. Ao longo dos seus 123 anos de existência, foram quase 300 mil minutos de futebol. Nunca esteve tanto tempo sem marcar um golo.
É histórico. Nunca o FC Porto tinha passado 430 minutos sem marcar um golo (ou sem que lhe validassem um). Estamos, à 11ª jornada, a 7 pontos do Benfica, a primeira vez que acontece desde que Pinto da Costa foi eleito presidente. Temos 22 pontos, a pior pontuação desde que a vitória passou a valer três pontos (1995). 19 golos em 11 jornadas, o pior ataque dos últimos 10 anos. E estamos fora do pódio, o que não acontecia desde 1975. Copo meio cheio: este é um FC Porto de recordes.
O Tribunal do Dragão já tinha destacado o facto do FC Porto não sofrer golos. É bom. Mas para todos os efeitos pontuais, é melhor ganhar um jogo e perder um do que empatar dois; é melhor ganhar dois e perder três do que empatar cinco; e em momento algum podemos considerar que não sofrer golos contra equipas como Setúbal, Chaves, Copenhaga e Belenenses é algum tipo de proeza que mereça criar um constaste positivo.
Sim, não sofrer golos é positivo, mas se não marcamos entramos na lógica residente noutras bandas: não somos campeões, mas jogamos o melhor futebol; não ganhámos, mas fomos quem mais mereceu.
Sente-se a contestação cada vez maior a cair sobre Nuno Espírito Santo. As críticas são expectáveis, aconteceria o mesmo a qualquer outro treinador. No FC Porto, ao fim de 2 ou 3 maus resultados, para a generalidade da massa adepta o funeral fica feito. Aconteceu com Paulo Fonseca, com Lopetegui, com Peseiro e muito provavelmente vai acontecer com o próximo que chegar.
Mas há algo a saudar em relação a Nuno Espírito Santo, em defesa do técnico: tem contrariado algo que vinha sendo uma tendência cada vez maior no FC Porto – o não defraudar as expetativas. Nuno Espírito Santo não desilude, vai ao encontro das expetativas. O seu trabalho no FC Porto tem sido um espelho do desenvolvido no Rio Ave e no Valência: o futebol praticado, as escolhas para a equipa que muitos não conseguem entender, o discurso monocórdico e saído de um manual rasca de auto-ajuda.
Nuno Espírito Santo não está a fazer nada abaixo do que já tivesse demonstrado. Admita-se, nem é o caso de Paulo Fonseca, que meteu o Paços de Ferreira a jogar à Porto e o Porto a jogar à Paços de Ferreira, mesmo não tendo tido condições de trabalho suficientemente boas para lutar pelo título. Nuno Espírito Santo meteu o Porto a jogar à… Nuno Espírito Santo. Jamais será cobrada uma fatura ao técnico por fazer o mesmo trabalho que fez nos seus outros clubes. Logo, este funeral perde um pouco a sua lógica. Vamos condenar quem está a ser o que sempre foi?
Se o FC Porto passou de Lopetegui para Peseiro e de Peseiro para Nuno Espírito Santo, nem vale a pena entrar por uma conversa de sucessão. Dá medo.
A competição de ontem, como saberão, não é valorizada neste espaço. A Taça da Liga deve ser utilizada única e exclusivamente para dar espaço competitivo a jogadores pouco utilizados e para lançar jovens da equipa B. As escolhas de NES para o jogo de ontem serviram minimamente para esse efeito, ainda que ninguém consiga ignorar que se tratou de um prolongamento de mais 90 minutos sem golos, ainda por cima jogando quase uma hora contra 10. De qualquer forma, o maior problema não foi o jogo de ontem, mas sim os últimos jogos.
Por isso, troquemos os Bonés e Machados por algumas considerações. Primeiro, Brahimi. Ontem descobrimos que Brahimi não serviu para jogar no Campeonato, na Liga dos Campeões e na Taça de Portugal. Mas serve para jogar na Taça da Liga.
Isto consegue ser pior do que ter o Taarabt a ganhar 193 mil euros por mês para ir ao Main. Porquê? Porque esse nunca viram fazer nada de jeito no Benfica e não faz falta à equipa principal. Brahimi sim. Viram-lo os adeptos, os adversários, a Champions do futebol. Há dois anos, era o jogador mais aplaudido pelos adeptos. Desaprendeu? Não. Ao longo de novembro, em que o FC Porto esteve em 4 competições, Brahimi ficou no banco no Campeonato, na Champions e na Taça para jogar apenas na prestigiada Taça da Liga. Gestão danosa, nada mais.
Inácio fez a sua estreia na equipa principal. Ainda que envolvido no negócio Maicon, estamos a falar de um dos cinco laterais-esquerdos mais caros da história do FC Porto. Mas aqui temos um perfeito exemplo da diferença entre um jogador da formação e um jogador que vem de um negócio do Brasil. Não apenas do Brasil: de um negócio do Brasil.
Inácio fez apenas 4, 4 jogos na Segunda Liga e teve logo uma oportunidade na equipa principal. Não se discute o mérito de Inácio, mas sim o tratamento bem diferente que teve Rafa: esteve 3 épocas desportivas a jogar ativamente na equipa B, sem nunca ter tido uma oportunidade de jogar na equipa principal. Inácio chega e tem logo a sua chance. Deve ser tudo uma questão do critério dos treinadores. Sim, sim.
Rui Pedro estreou-se pela equipa principal e foi provavelmente o mais aclamado pelos adeptos. Neste âmbito, uma saudação para Bernardino Barros, que afirmou, preto no branco, durante os seus comentários no Sentimento (para fazer honra ao Edmundo), que Rui Pedro esteve encostado e em risco de sair enquanto não renovou contrato «com quem eles queriam» na SAD. André Silva esteve na mesma situação. É assim que se gerem os nossos talentos.
Depoitre esteve uma hora em campo. A jogar contra 10, com o jogador a precisar de ganhar confiança e não havendo melhor oportunidade para isso, NES decidiu tirá-lo de campo e lançar o miúdo. Está tudo dito sobre Depoitre. Nuno nem pensou «vamos esperar, a ver se ele marca para ganhar confiança». Por norma, um treinador que quer muito um jogador não desiste dele em circunstâncias tão favoráveis. Talvez isto diga muito do quão queria NES Depoitre.
João Carlos Teixeira jogou 15 minutos. O suficiente para ir ao encontro do comentário do TdD aquando da sua contratação: «É daqueles jogadores que conseguimos apreciar pelo simples facto de receberem a bola». Porque não joga mais? Não procurem a lógica. Procurar lógica neste FC Porto tornou-se uma coisa tão complicada quanto acertar na baliza adversária.
Sábado regressa o campeonato, com o FC Porto no 4º lugar, a sete pontos da liderança. Ninguém se recusa a deixar de olhar para o primeiro lugar. Mas o problema não é apenas os adversários terem que perder pontos. É o FC Porto ter que ganhá-los. Sem golos, nada feito. E com estes meios, não esperem fins agradáveis.