Desde que o ano começou que todos sabiamos de uma coisa. Jackson ia embora.
Foi uma promessa realizada no final do ano passado ao jogador por Pinto da Costa, um homem que habitualmente honra o que promete aos jogadores. Fez o mesmo a Deco há uns anos e por isso o “Mágico” saiu por menos do que poderia ter valido num leilão aberto. Um gesto que só honra ao presidente e á SAD porque diz claramente aos jogadores que somos um clube de fiar. Jackson sabia portanto que no final de este ano ia sair. Foi renegociado o contrato, ajustada a clausula e o pacto era simples. Se um clube batesse a cláusula, o Jackson saía.
Se nenhum chegasse a essas cifras, iria pelo valor mais elevado possível. No final do ano passado houve 3 ofertas reais pelo Jackson. A primeira não ultrapassava os 20 milhões – pagos na totalidade – e era do Borussia de Dortmund. Acabou por ser Immobile o novo avançado dos “borussers” para render Lewandowski. As outras duas eram do Atlético de Madrid e do Valência. Ambos negócios foram tratados pelo amigo Mendes mas ficaram emperrados por dois motivos muito concretos.
No caso do Atlético porque Simeone preferiu apostar em Cerci e Griezzman em vez de pagar os 30 milhões que o FC Porto pedia. No do Valência porque não havia ainda a oficialização da compra do clube por Peter Lim o que levou os “Ches” a contratar com empréstimo com opção obrigatória de compra a Negredo. Em ambos os casos Jackson estava satisfeito com o que lhe iam oferecer mas aceitou ficar. Não ficou pactado com o colombiano que tinha um destino certo. Era esperar e ver.
O problema foi que ninguém estava á espera de um grande ano na Champions League e de um leilão aberto.
O Arsenal foi o primeiro a mostrar interesse mas nunca ofereceu mais que 30 milhões de euros. A Jackson a ideia não lhe desagradava – tinha boas referências do seu amigo David Ospina, guarda-redes colombiano dos gunners – mas o FC Porto queria mais e estava disposto a esperar.
Foi então que apareceu em cena o Milan. A Doyen é o novo parceiro dos italianos mas, além disso, Pinto da Costa e Galliani são conhecidos (e amigos) há mais de vinte anos. O Milan, com dinheiro fresco, punha os 35 milhões na mesa com um primeiro pago já a cobrir quase toda a totalidade do valor.
Um negócio brilhante para o clube. Não só se conseguia uma valorização recorde de um futebolista que ninguém conhecia e que Vitor Pereira insistiu em trazer para render a Falcao (com um ano de atraso, é certo) depois do departamento de scouting do clube o ter descoberto ainda na liga colombiana, como também estava garantido que o dinheiro no seu grosso entrava já. Ficou tudo apalavrado, um acordo de cavalheiros que o clube esperava que Jackson cumprisse.
Pinto da Costa, que esteve brilhante na negociação com o Milan, avançou publicamente que o negócio estava quase fechado, uma frase na altura que colocava toda a pressão no jogador. Agora era Jackson que tinha de cumprir com o que tinha sido acordado no Verão anterior. Mas algo se estava a cozer atrás das costas da SAD do FC Porto.
O Atlético de Madrid não se esqueceu de Jackson.
O avançado não era a prioridade do clube. Era o segundo nome na lista. Durante um largo mês Simeone tentou convencer Carlos Tevez a abdicar da promessa que tinha feito ao Boca Juniores e assinar pelo Atlético. Tevez tinha uma clausula com a Juve em que saía grátis para o seu clube do coração e a Juventus não estava disposto a vendê-lo por menos de 20 milhões a outro clube europeu. Durante esse mês o Atlético tentou baixar o preço – porque o salário de Tevez é muito mais alto que o de Jackson, por exemplo – mas sem exito. O próprio Tevez pareceu sempre preferir voltar a casa e tinha grandes pressões familiares para fazê-lo.
Ao mesmo tempo, nas costas do FCP, o Atlético pediu a Jackson que esperasse até ao limite. Ofereciam-lhe menos do que lhe pagava o Milan – cerca de 5 milhões de euros de salário, o Milan oferecia 6 – mas em troca jogava na liga dos seus sonhos (a espanhola), na Champions e era treinador por uma referência actual como já foi Mourinho. E Jackson, ás costas do FC Porto, e alentado pelo seu empresário, esperou.
O Atlético fez uma proposta á SAD do FC Porto que foi recusada inicialmente. Pinto da Costa fez saber que estava tudo tratado com o Milan. O Atlético não dava mais de 30 milhões a principio e depois pensou incluir a Oliver Torres – com novo empréstimo – a Moya ou a Manquillo, lateral direito, no negócio. O dinheiro também seria pago a três anos e com um baixo valor no imediato. Um negócio muito diferente daquele que propunha o Milan. A SAD do FC Porto fez saber que não estava interessada e defendeu os interesses do clube. Como tinham de o ter feito e bem.
O problema chegou quando Tevez formalmente disse que não ao Atlético e, em resposta, Jackson rejeitou a oferta do Milan quebrando o pacto de cavalheiros com Pinto da Costa. O Milan ainda insistiu mas percebeu logo que era um caso perdido. Agora vão contratar por menos 5 milhões a Carlos Bacca, o colombiano do Sevilla que era a terceira opção do Atlético, caso falhasse Jackson também.
O Sevilla vai ver quase a totalidade do dinheiro já e beneficiar-se de um negócio que era nosso. O Milan fez o que lhe competia mas deixou agora o FC Porto numa posição extremamente delicada. Jackson decidiu bater o pé e não aceitar ir para mais lado nenhum, nem sequer para o Arsenal que ainda espera desenvolvimentos. O Atlético sabe-se forte neste negócio e tem procurado baixar ainda mais o valor a pagar, utilizando o agente de Jackson para fazer pressão pública. As noticias lançadas sobre o interesse do FC Porto em jogadores do Atlético têm sido lançadas de parte a parte para justificar uma eventual redução no valor oficial mas no Dragão ninguém duvida que, de um negócio perfeito, passamos a um negócio perigoso. Porque o Atlético paga mal, paga tarde e está a ter uma atitude que não inspira confiança. Por outro lado está Jackson.
O Porto cumpriu com o colombiano mas este não o fez e está agora, informalmente, em rebelião. Não vender o jogador este Verão – tem contrato – é ter a um jogador caro insatisfeito no plantel e com a possibilidade de sair a zero em pouco tempo (algo que ao empresário interessa pessoalmente porque a comissão a cobrar de um negócio futuro seria sempre maior). Um bico de obra.
Que tem de fazer o FC Porto?
Defender, como tem feito, os nossos interesses. Jackson perdeu o meu respeito a partir do momento em que quebrou a palavra dada e negociou ás costas do clube e deixou-nos numa situação delicada. A sua saida é inevitável e o Atlético deverá ser mesmo o seu destino mas por valores, na prática, inferiores aos do negócio Milan. Por isso mesmo ainda nada foi formalizado. O FC Porto recusa-se a tratar com o agente de Jackson, Jorge Mendes está a tentar mediar a situação e ainda ninguém sabe que contrapartidas pode haver (e Oliver é a mais provável) para acalmar as águas. Jackson pode dizer que já é jogador do Atlético mas até o FC Porto não disser de sua justiça, é futebolista nosso e deve comportar-se como tal. Não há nada, absolutamente nada a apontar á gestão da SAD neste caso, mas será curioso ver como a história se desenvolve nos próximos capítulos.
Fonte: Miguel Lourenço Pereira – Originalmente no Reflexão Portista