«Leicester, Club Brugge e Copenhaga. Resumidamente, o FC Porto já passou em grupos mais complicados e já foi eliminado em grupos mais fáceis. O objetivo é ir aos 1/8, algo que já foi assumido. No ano passado o FC Porto parecia ter feito o suficiente, mas 10 pontos não chegaram. Apontemos, pelo menos, aos 11 esta época, embora sempre com a intenção de ganhar todos os jogos. Será certamente um grupo competitivo. O FC Porto nunca ganhou em Inglaterra (15 derrotas em 17 jogos), não ganhou nas três últimas visitas à Dinamarca e na Bélgica perdeu seis jogos em sete. Leicester, Club Brugge e Copenhaga são campeões dos respetivos países e, muito provavelmente, cada uma destas equipas pensa o mesmo que o FC Porto: o grupo podia ser muito mais complicado».
Este foi o comentário d’O Tribunal do Dragão aquando do sorteio dos 1/8 da Champions e podemos falar em objetivo cumprido e expetativas correspondidas. O FC Porto garantiu o apuramento, com os tais 11 pontos, apesar de ter voltado a perder em Inglaterra, não ter ganho na Dinamarca, ter passado por dificuldades na Bélgica (o penalty de André Silva, nos descontos, tudo mudou) e não ter ganho ao Copenhaga no Dragão (a única coisa anormal neste percurso). Foi difícil, mas a equipa cumpriu, deixando para o fim um recital que deixou todos os portistas satisfeitos. No final, são 11 pontos. Tantos quanto os de Benfica e Sporting juntos.
Champions é Champions: encontrar APOELs, Artmedias e Áustrias de Viena não é garantia de goleadas. É certo que a equipa que ontem visitou o FC Porto nada tem a ver com a que ganhou a Liga Inglesa, mas isso não retira brilho a uma exibição competentíssima, de absoluto controlo do primeiro ao último minuto. Foram cinco, podiam ter sido mais, e nunca ninguém sentiu que o apuramento para os 1/8 estaria em risco. Anormal seria não passar este grupo, um dos mais fáceis que o FC Porto alguma vez encontrou, mas todos os jogos começam 0-0. E nas últimas semanas muitos não saíram daí.
No último jogo da fase de grupos, o FC Porto conseguiu fazer mais golos do que nos 5 anteriores. O Leicester jogou, conforme esperado, com uma equipa de suplentes, mas não levou cinco porque relaxou: simplesmente foi incapaz de parar uma noite em cheio do FC Porto. Foi uma noite em que, mais do que qualquer debilidade do adversário, o que sobressairia sempre seria a qualidade do FC Porto. E isto não tem a ver apenas com eficácia: tem a ver com volume ofensivo, com o não entregar a iniciativa de jogo ao adversário (a grande mudança em relação ao FC Porto de NES ontem), circular a bola, forçar a entrada na grande área e colocar os melhores atacantes a potenciar as suas caraterísticas.
Quanto à Champions os objetivos foram cumpridos (primeiro o playoff, depois os 1/8). A partir daqui, tudo dependerá do sorteio para redefinir expetativas. Quando à Champions, está feito o mínimo e o máximo exigível. Venha o Campeonato!
Postura e plano (+) – Aquele movimento típico do pontapé de saída faz confusão: ponta de saída, bola no Alex Telles, balão para a frente. Podia sugerir mais um jogo de chutão para a frente, mas felizmente não foi isso que aconteceu: o FC Porto controlou o jogo e soube ter bola. Esta equipa reage bem à perda, mas sente dificuldades quando encontra uma equipa que não quer ter bola. Ontem isso não aconteceu pois o FC Porto soube ter bola. Circulou-a a toda a largura do campo, projetou muito os seus laterais (assistências de Alex Telles e Maxi), apostou no jogo interior dos alas (Brahimi e Corona a finalizarem na grande área), conseguiu esmagadores 2/3 da posse de bola, forçou muitas vezes a entrada na grande área (37) e teve uma eficácia de passe muito acima da média, de 88%. Uma exibição completa e irrepreensível, desde o plano à execução.
Dinâmica dos corredores (+) – Um dos riscos neste esquema é o quão o corredor central pode ficar descoberto. Danilo recua, os laterais sobem, e então têm que ser Brahimi e Corona, apoiados pelo recuo de um dos avançados, a preencher essa zona no apoio a Óliver. Ontem não se sentiu esse perigo, pois a equipa esteve sempre equilibrada, e todos os intervenientes tiveram ação direta na goleada do FC Porto. Maxi Pereira, que já tinha sido dos melhores diante do Braga, voltou a fazer todo o corredor, sem que os 32 anos pesassem no momento da recuperação, e Alex Telles cruzou com melhor precisão e também fez uma assistência. A equipa nunca esteve descompensada no momento da perda, e os laterais foram responsáveis por 15 recuperações de bola.
Brahimi e Corona (+) – Algo que tem falta ao FC Porto é o fator match winner. O momento em que o jogador recebe, encara o defesa, rasga e remata. Corona e Brahimi têm caraterísticas para serem esses jogadores, mas ontem não precisaram de o ser: fizeram um golo de toque único. Sem receção, apenas estar no sítio certo e finalizar ao primeiro toque. E fizeram-lo na grande área depois de cruzamentos dos laterais. Que significa isto? Que o FC Porto soube envolver várias unidades no ataque e povoar a grande área, com jogadas a explorar a profundidade nos corredores e sem o mero chutão para a frente. Não vimos uma grande área deserta por causa dos recuos que André Silva é forçado a fazer. Vimos muita gente na grande área, e com isso os golos surgiram com maior naturalidade.
Do ponto de vista mais individual, grande jogo de Corona, sobretudo na primeira parte. Uma assistência, um golo, desta vez procurou mais o passe do que a finta. E de resto isto foi algo em comum nos dois extremos do FC Porto: mais passe, menos drible. A eficácia de passe esteve na média da equipa (88%), muito bom para avançados, e Corona fez apenas 3 dribles, metade dos de Brahimi (não perdeu nenhum lance). Ora, acontece que Brahimi e Corona não precisaram de sair tantas vezes no 1×1, pois tinham sempre uma solução de apoio por perto. E com o envolvimento de Maxi e Alex Telles no ataque, puderam estar em zona interior a fazer a diferença, em vez de estarem no flanco à procura de espaço para meter a bola numa grande área deserta. Ah. Brahimi foi ontem pela primeira vez titular na Champions esta época. Que não tenha sido a última, pois isto de colocar os melhores em campo é capaz de ser boa ideia.
André Silva (+) – Dois golos e uma assistência para Diogo Jota, também ele autor de uma boa exibição. Marcou na sequência de um canto, tarefa que tão complicada tem sido nesta temporada, e foi novamente chamado à marcação das grandes penalidades. É certo que André Silva já falhou 3 penaltys este ano, mas continua a ser chamado à responsabilidade e a merecer a confiança. Não tremeu e revelou-se decisivo nesta fase de grupos, ao ter intervenção direta em 66% dos golos que o FC Porto marcou. Para época de estreia na Champions, nada mau, tendo em conta que só Lewandowski, Cavani e Messi marcaram mais.
Uma palavra para a já aqui muito elogiada defesa do FC Porto, que nos últimos 10 jogos só sofreu um golo. A defesa não tem sido, de todo, um problema, e ontem o ataque revelou as melhores soluções da temporada. Agora, a possibilidade de ganhar pontos em 2 estádios na próxima jornada. Uma vez mais, uma que não podemos desperdiçar.