Não é nada pessoal, Marafona, mas a tua mãezinha vai ter que viver até aos 120 anos para ter tempo de fazer metade de tudo aquilo de que a acusámos ontem. Foste chato, foste muito chato. Falamos de um FC Porto que passou mais de 8 horas sem marcar um golo, que tentou de todas as maneiras e feitios, falhou um penalty, acertou nos ferros, teve golos anulados por fora de jogo à lupa e que ainda encontrou em ti uma mistela de Zenga, Vítor Baía, Kahn e Buffon.
Por isso, aquele minuto 95 foi mais do que celebrar um golo contra um Braga que não fez porra nenhuma para pontuar no Dragão. Foi uma descarga de toda a frustração acumulada a cada remate, a cada cruzamento, a cada jogo sem marcar e vencer nas últimas semanas. Foi algo que só fizemos uma vez em 2016 (ganhar 3 pontos ao Benfica na mesma jornada).
Não muda nada (bastava o jogo acabar aos 94 para a massa adepta manter – ou neste caso aumentar – o descrédito das últimas semanas), mas a carga psicológica de uma malapata ficou por terra. Agora que não haja a ilusão que houve após as vitórias contra a Roma, ou depois dos 3×0 ao Arouca, que levaram NES a chegar ao ponto de dizer que havia «euforia» nos adeptos. Euforia, ontem, sim, mas pelo minuto 95. Não pelos últimos 520. Euforia por aquele momento. Não pelo momento de forma do FC Porto. Coisas diferentes.
Agora Leicester, equipa que tem sido pouco mais do que banal esta época, que já está apurada na Champions e que deve trazer habituais suplentes ao Dragão. Se der para sofrer menos um bocadinho, a malta agradece. E mãe do guarda-redes do Leicester também.
Luta transcendente (+) – Recordando o que foi escrito depois do empate em Copenhaga: «Na despedida do Dragão na época 2014-15, os Colectivo mostraram uma tarja que falava por si: «Vão de férias? Parecia que já estavam!». Há uma grande diferença entre jogar mal e jogar sem esforço, sem empenho, sem compromisso. Quem representa o FC Porto pode jogar mal – acontece a todos -, mas nunca pode deixar de jogar sem comer a relva e dar tudo em campo. Ora este FC Porto nunca veria aquela tarja. Esta equipa esforça-se, luta, quer ganhar. Mas não joga suficientemente bem.»
São palavras que se repetem. Este FC Porto não desiste. Pode jogar melhor ou pior, mas é uma equipa de jogadores que lutam até ao final. Ontem, com o acréscimo de de facto a equipa ter sido suficientemente produtiva. Foram imensas ocasiões de golo, muitas falhadas de forma lamentável, outras porque Marafona decidiu que era a noite dele. Ontem, sim, podíamos lamentar a eficácia – e não há treinador do mundo que tenha culpa que um jogador falhe um penalty e que se falhem 10 ocasiões de golo na cara do guarda-redes. Foi um jogo transcendente a todos os níveis.
O próprio golo é exemplo disso. Não é uma jogada ensaiada, não nasce de uma ideia de jogo, não nasce de um lance construído. Pontapé de baliza de Marafona, Danilo ganha de cabeça e a bola vai para Jota, que até estava a fazer um jogo pouco positivo. Jota, em três toques, consegue meter a bola para o único jogador que atacou a profundidade: Rui Pedro. A linha defensiva do Braga subiu para o pontapé de baliza, havia finalmente espaço, e o único a reagir à movimentação de Jota (grande passe!) foi o miúdo. Golo, festa, alívio.
Maxi Pereira (+) – O melhor jogo da época. Incrível e constante disponibilidade no corredor direito, do primeiro ao último minuto. Sem nada a fazer na defesa, atacou, cruzou, empurrou a equipa para a frente, fez movimentos interiores, apareceu na zona do ponta-de-lança e lutou por cada bola como se fosse a última. Este foi o Maxi que obrigou os adeptos do FC Porto a apreciá-lo após 8 anos noutras paragens. Que continue assim.
Danilo Pereira (+) – Confessem lá: de certeza que ao vosso lado ouviram qualquer coisa do género, «para quê o Danilo em campo, contra 10, se o Braga já não ataca!?» Por uma razão: equilíbrio e dimensão física no meio-campo. O Braga praticamente não entrou no meio-campo do FC Porto na segunda parte. E não foi por Marcano e Felipe (bom jogo, mais um) estarem imperiais em cima da linha de meio-campo, foi porque Danilo varreu tudo o que lhe apareceu à frente. Ganhou todos os lances pelo ar (inclusive o do 1×0), foi prático na distribuição e não deixou o Braga pensar nunca no contra-ataque. Danilo não ficou em campo para marcar: ficou para dar segurança a quem tinha a missão de marcar. Imprescindível.
Óliver Torres (+) – No momento da sua substituição, estava provavelmente a ser o melhor do FC Porto, ou pelo menos o mais inteligente. Por vezes hesita no momento em que tem que entregar a bola. Isso tem uma justificação: Óliver, por vezes, idealiza jogadas que os seus colegas não seguem. Se não respeitam a movimentação, aguenta e procura outra solução. Criou 3 ocasiões de golo, raramente falhou passes e esteve impecável na pressão: recuperou 10 vezes a bola, quase sempre no meio-campo do SC Braga. O Tribunal do Dragão já tinha comentado que Óliver está a ser pouco influente no ataque (um golo, zero assistências), e precisa de melhorar neste aspeto. Mas na missão de organizar o meio-campo e de colocar a bola nos homens da frente, não há melhor.
Fator Brahimi (+) – Otávio não esteve bem. Não rompeu, não cruzou, não fez diagonais. Saiu lesionado. Na segunda parte, vimos invariavelmente o mesmo: Corona encarava Djavan e perdia a bola. Ou cruzava logo, ou perdia a bola quando tentava ir à linha de fundo. Com Brahimi, as coisas mudam. Brahimi é egoísta, sim. Não tem o melhor remate do mundo, não. Poucas vezes integra a manobra coletiva – que nem sempre é clara – da equipa. Mas com Brahimi, o FC Porto ganha algo que tem faltado: imprevisibilidade e capacidade de rasgo individual.
Quando Brahimi encara o defesa a partir da ponta esquerda, o jogo pára. Há logo um defesa em cima de Brahimi e um segundo para a dobra. Só aqui, são 2 defesas em cima de Brahimi. Aqui já se arrastam marcações. Brahimi consegue avançar com a bola colada ao pé, sabe aguentá-la, tentou algumas vezes o golo e consegue empurrar a equipa para a grande área. São caraterísticas que o FC Porto não pode dispensar. Tirem Pizzi ao Benfica e Gelson ao Sporting: é a mesma coisa que não aproveitarem Brahimi no FC Porto. É retirar o jogador que pode conseguir aquele rasgo de imprevisibilidade que desfaz um 0-0. Ontem não marcou, mas não foi por falta de situações criadas. E sem uma aposta consistente no jogador – sem Otávio, tem que jogar contra o Leicester! -, não esperem que ele possa voltar a ser o jogador deslumbrante que vimos em 2014-15. Aproveita, Nuno, que não sabes se depois de janeiro terás melhor.
Rui Pedro (+) – Quando um miúdo de 18 anos, na estreia na Liga, marca o golo da vitória aos 95 minutos, não precisa de mais nada para receber um Boné. Neste caso, todo o golo é de um mérito imenso: ainda Jota tem a bola e já Rui Pedro está a atacar as costas da defesa. Ou seja, não foi Jota a obrigar Rui Pedro a correr com o seu excelente passe: Rui Pedro já estava a fazer o movimento. Depois, a finalização é sublime. É extremamente difícil finalizar naquelas circunstâncias. Rui Pedro teve nervos de aços. Soube qual era a melhor forma de bater Marafona, em vez de rematar em desespero. Excelente golo.
Claro que isto levanta questões, desde Depoitre a Areias. Sim, porque conforme foi aqui opinado, é absurdo encostar Rui Pedro na equipa B para meter a jogar um jogador emprestado pelo V. Guimarães que não tem um décimo da sua qualidade e potencial (além de não ser jogador do FC Porto). Tal como o risco de perder um talento que, conforme comentou BB na Rádio 5, não renovou enquanto «não assinou por quem eles queriam». Rui Pedro não nasceu ontem: mostrou apenas um pouco daquilo que vem prometendo desde que chegou ao FC Porto. Não vale a pena compará-los, mas Pepjin considerava que, entre Gonçalo, André e Rui, Rui Pedro era o melhor. Quanto a isso, não sabemos. Mas que é melhor do que Depoitre ou Areias, não restam dúvidas. Ah, já agora: Leandro Campos. Anotem, que daqui a um par de anos vamos estar a falar dele. A formação do FC porto está a produzis 9s como há muito não o fazia. Aproveitemos.
O golo de Rui Pedro e os festejos dos jogadores do FC Porto, vistos das bancadas!