Já é por demais conhecida a história de Alexandre Gomes, filho de José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem, e que foi este ano contratado pelo Sporting. Vamos admitir a extrema coincidência de uma pessoa com forte influência na arbitragem ter um filho a jogar nos juvenis do Sporting. O miúdo é por certo o último a ter culpa de coisa alguma.
Mas o problema é quando se começa a formar um ligeiro padrão. No final de maio, Luciano Gonçalves chega à presidência da APAF. E depois do clássico entre Sporting e FC Porto, teve a sua primeira grande intervenção pública nessa condição. Disse isto.
«Não faz sentido, semana após semana, este tipo de críticas à arbitragem. Na nossa opinião, o Tiago Martins fez uma grande arbitragem no seu primeiro clássico».
A bem da verdade, não foi a primeira vez que se pronunciou sobre a arbitragem. Depois das críticas do Benfica à arbitragem de Manuel Oliveira, veio a público dizer isto: «Criticar o árbitro, dizer que ele errou faz parte, é o mundo do futebol. Agora daí a levantar este ambiente de crispação junto dos árbitros e dos dirigentes da arbitragem é completamente errado. O ambiente criado pelo presidente do Benfica é desnecessário». Ena, um líder da APAF a mandar o presidente do Benfica ter cuidado com o que diz? Bravo! Como pode alguém criticar o presidente do Benfica? Hmmm…
Entretanto, José Fontelas Gomes saiu da APAF para o Conselho de Arbitragem. Luciano Gonçalves fazia parte da sua lista e foi então apoiado por Fontelas Gomes, por ser visto como uma solução de «continuidade». Elogie-se a sua intenção de tornar públicos os relatórios dos árbitros. Por certo, todos temos curiosidade em ver o que disse Tiago Martins no seu relatório de jogo.
Mas a sintonia com José Fontelas Gomes vai muito além da arbitragem. Pois, Fontelas Gomes não é o único a ter um filho a jogar no Sporting.
Não precisamos de mais do que fazer o exercício de imaginar o que se diria se Fontelas Gomes e Luciano Gonçalves tivessem os seus filhos a jogar no FC Porto. Quantos e quantos conflitos de ética tentariam descobrir? Neste caso, silêncio absoluto.
Luciano Gonçalves fez carreira de árbitro, embora nunca ao mais alto nível. Mas teve também outras profissões. Por exemplo, no passado recente, era distribuidor independente da Herbalife, uma empresa de suplementos nutricionais. Não há problema nenhum em sê-lo, logicamente.
Mas uma vez mais, é de uma extrema e inocente coincidência ver um dos parceiros da Herbalife, promovido pelo próprio Luciano Gonçalves…
Não sabemos o que levava aquele batido do Slimani, mas deve ser rico em nutrientes que fortalecem as articulações do cotovelo. Há mais, desde apresentações a televisão de boa qualidade (tudo publicações de Luciano Gonçalves nas redes sociais tornadas públicas).
E no final, um bom manjar sabe sempre bem.
Mau seria Luciano Gonçalves não aproveitar a visibilidade do terceiro maior clube português para promover a marca com a qual trabalhava. Fez ele muito bem. Mas é interessante imaginar como seria chegar ao Olival e ver os jogadores do FC Porto a brindar com herbalife, com filhos de pessoas influentes da arbitragem em Portugal nos escalões de formação, o Sporting a queixar-se da arbitragem e depois fazermos todas as ligações aqui descritas.
A terminar, uma questão: alô, FC Porto? Está aí alguém?