“Não vou dizer também que não houve casos complicados e que até podem ter contribuído para uma marcha irregular do FC Porto, mas quando há um campeão tem de se lhe dar o mérito”, escreve o antigo capitão do FC Porto.
O Benfica é campeão, depois de uma robusta vitória sobre uma das grandes equipas deste campeonato, o V. Guimarães. Soube da notícia já na Tunísia, onde vou abraçar um novo projeto em África, agora ao serviço do Sfaxien, um clube de gente simpática, e que tem pergaminhos no país e no estrangeiro, onde espero com os meus companheiros e os meus novos jogadores fazer um bom trabalho. É um dos mais importantes clubes tunisinos, a quem também chamam Juventus das Arábias. Por estar já aqui em missão, não vi o jogo de ontem. Debruço-me apenas na conquista do título, de alguma forma esperado de há algumas jornadas para cá quando o FC Porto ficou dependente do grande rival e lhe abriu o caminho para o título.
Não gosto muito, ou melhor, não gosto nada de falar de fatores externos ao que se passa no relvado, porque não está aí a essência do futebol, porque é nos relvados que as coisas efetivamente se resolvem. Não vou dizer também que não houve casos complicados e que até podem ter contribuído para uma marcha irregular do FC Porto, mas quando há um campeão tem de se lhe dar o mérito. E é inquestionável que o Benfica foi a equipa mais regular. Pode falar-se de sorte de uns e azar de outros, mas tudo isso faz parte do futebol. O Benfica foi mais competente, soube jogar com a maior experiência dos seus jogadores, mais habituados a vitórias, mais conhecedores de si próprios, com um treinador que também já conheciam bem. Tudo isso jogou a favor, mas tudo isso é mérito, de todo o grupo e da estrutura que o comanda.
Falar de arbitragens, que entram no grupo dos fatores externos, pode ser uma forma de desviar atenções para o que não está a correr bem; em alguns casos será, mas é também um fator de distração para os próprios jogadores, por muito que se diga que isso não tem influência. O Benfica ganhou a corrida ao FC Porto, uma corrida onde já não estava o Sporting; ficou pelo caminho cedo e tinha obrigação de fazer mais, até pela época passada e pelos objetivos que definiu. O tetra do Benfica é, pois, uma questão de mérito.
Agora, resta pensar no futuro. No caso do FC Porto, é justo dizer-se que fez melhor do que na época passada, com um novo treinador, que lutou com alguns erros até de casting, mas houve outros erros que tiveram apenas a ver com más abordagens aos jogos. Uma equipa que luta pelo título não pode falhar tanto, não pode empatar tanto, não pode desaproveitar as oportunidades (e teve algumas) para chegar ao primeiro lugar, como também aconteceu. A hora é de refletir nos erros, ver realmente o que esteve mal e aproveitar o que de bom foi feito para, na próxima temporada, ser possível quebrar esta hegemonia do Benfica, tetra pela primeira vez.
A um clube como o FC Porto é isso que se pede, ser sedento de vitórias para não cair num desagradável jejum que já não é hábito na gloriosa história do clube.
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Fonte: Jornal O Jogo