O FC Porto jogou em quebra na I Liga 2023/24 por culpa própria, observa o ex-futebolista sérvio Ljubinko Drulovic, sem diluir as consequências da tensão eleitoral, que findou o ‘reinado’ presidencial de quatro décadas de Pinto da Costa.
“O campeonato português é muito competitivo e difícil. Claro que todos os adeptos do FC Porto gostavam de ganhar sempre, mas, às vezes, isso não é fácil. Aquilo que aconteceu este ano, com as eleições do clube e algumas outras situações, talvez não tivesse sido o melhor para a própria equipa, que não teve aquela tranquilidade e estabilidade que cada ‘grande’ tem de ter”, frisou à agência Lusa o ex-avançado dos ‘dragões’, de 1993 a 2001.
Dois anos depois do 30.º título, o FC Porto voltou a falhar o principal objetivo e ficou pela 13.ª vez no terceiro posto, com 72 pontos, a 18 do campeão nacional Sporting e a oito do Benfica, segundo, na pior das sete temporadas sob alçada técnica de Sérgio Conceição.
Os ‘dragões’ tinham ficado ausentes de um dos dois primeiros lugares pela última vez em 2015/16 e averbaram o pior registo pontual desde 2013/14, última edição com 16 clubes, selando o acesso direto à Liga Europa, após quatro idas seguidas à Liga dos Campeões.
“Acho que [as diferenças entre candidatos] não são tão grandes. Agora, quando se perde com as chamadas equipas mais pequenas, fica muito difícil de recuperar. O FC Porto foi falhando diversos pontos e não conseguiu entrar seriamente nessa luta pelo título. Todos esperavam muito mais, porque este clube nos habituou a lutar sempre até ao fim”, notou.
Drulovic, de 55 anos, julga que os ‘azuis e brancos’ se ressentiram do sub-rendimento do avançado Taremi, melhor marcador da I Liga em 2022/23, com 22 golos, que ficou pelos seis em 2023/24 e rumará ao campeão italiano Inter Milão a custo zero no final da época.
Outro revés foi a saída do médio Otávio para os sauditas do Al Nassr, treinados por Luís Castro e com Cristiano Ronaldo no plantel, num negócio feito pouco depois do início da época por 60 milhões de euros (ME), que quebraram o recorde de vendas dos ‘dragões’.
“O Otávio era um dos mais criativos, tinha uma dinâmica muito positiva e a maneira como jogava e liderava a equipa representava o carácter portista. Saíram nomes importantes e outros não deram a melhor resposta. Por isso, o FC Porto não foi constante nem aquela equipa que era terrível no passado, sobretudo quando competia em casa e ganhava com facilidade”, referiu Drulovic, figura do único ‘penta’ do futebol luso, de 1994/95 a 1998/99.
O antigo internacional jugoslavo destaca a prestação até aos oitavos de final da Liga dos Campeões, que fechou com uma derrota no desempate por penáltis face aos ingleses do Arsenal (4-2, após 1-1 nas duas mãos), numa época marcada fora das quatro linhas pela expressiva derrota imposta pelo ex-treinador portista André Villas-Boas a Pinto da Costa, líder máximo há 42 anos e 15 mandatos, no sufrágio mais disputado da história do clube.
“Pinto da Costa estava lá há 42 anos e quase não tinha oposição, mas, pela primeira vez, surgiu alguém com vontade de ver um FC Porto diferente, novo, e as pessoas apoiaram. Pessoalmente, nunca esperei ver um desnível tão grande, de 80% contra quase 20%. É uma derrota clara de Pinto da Costa e uma grande vitória para Villas-Boas. Agora, vamos esperar para ver. A nova direção entrou há pouco tempo, mas está preparada e vai dar o máximo para ter uma equipa que possa ser campeã nacional [em 2024/25]”, enquadrou.
André Villas-Boas já assumiu a presidência do clube, mas apenas vai ser empossado na SAD em 28 de maio, dois dias depois de o FC Porto, vencedor das últimas duas edições, procurar o único troféu possível em 2023/24 na final da Taça de Portugal com o Sporting.
“Se Pinto da Costa tivesse vencido, de certeza que Sérgio Conceição ficaria mais quatro anos. Com esta nova direção e presidente, não sei. Em princípio, acho que não fica, mas esta é a minha opinião e vamos ver o que acontece. Ele fez um excelente trabalho no FC Porto, logrou vários troféus – incluindo três campeonatos – e está lá há sete anos, o que é um marco histórico. Por norma, poucos técnicos ficam tanto tempo em Portugal”, admitiu.