Escrito por: Pedro Ferreira de Sousa
Caro Jackson,
Não me conheces, mas eu conheço-te bem. Acompanho o teu trabalho desde que vieste para o FCPorto e, a partir desse momento, tentar descobrir o máximo sobre ti e sobre o teu percurso.
Sou admirador das tuas qualidades. A começar pelas físicas – não só possuis extraordinárias capacidades físicas, como as sabes utilizar de forma extraordinária, com pouco, muito pouco paralelo. Tecnicamente, és bastante evoluído para um ponta-de-lança: finalizas com facilidade e classe, partes para cima dos defesas com grande facilidade e colocas ao serviço da técnica a tua velocidade e força física. Tacticamente, desempenhas superiormente aquele papel de pressionar os defesas, arrastar marcações, aparecer em zonas de recepção, carregar o jogo para a frente, aparecer e pedir jogo, não ter medo de ser protagonista (como diz, amiúde, o nosso mister).
Por tudo isto, admiro-te muito, Jackson. Admiro-te como jogador.
Admiro-te e muito te agradeço todos os golos, as jogadas, as vitórias e as alegrias que me deste.
Mas, hoje, não podias deixar de te dizer, desta forma singela, que te admiro muitíssimo pelo profissional extraordinário que és e te devo um enorme obrigado.
Não nasceste no Porto. No FCPorto.
Mas, Jackson, no passado dia 15 de Abril de 2015, naquele jogo no Dragão, perante aquele Bayern de Munique, tu foste o Porto. O FCPorto.
O Porto, o FCPorto, foi sempre assim.
Sempre fomos olhados de lado, sempre fomos os parolos, os que falam mal e têm pronúncia, os que não têm hipótese, os que vão perder, os que já perderam e só ganham com árbitros.
Mas sempre fomos os que, não obstante essas vozes, acreditam no valor do trabalho, do esforço, da ambição e da competência.
Os que privilegiam o sacrifício em detrimento do auto-elogio. Os que acreditam que podem fazer história em contraponto daqueles que vivem da história de outros tempos. Os que não calam a revolta contra aqueles que se alimentam da ofensa e da injúria.
No tempo em que os generais não tinham medo e as palavras cortavam como facas, em que outro local se poderiam reunir, corajosa e impressionantemente, 200.000 pessoas contra a censura e o pensamento único?
E tudo isto se encontrava em causa naquele jogo. Já tínhamos perdido. Os jornais só nos permitiam dizer uma palavra: “adeus”. Os jornalistas só nos davam 5% de hipóteses. Os nossos detractores anunciavam por uma humilhação.
Mas tu não.
Tu concentraste-te na recuperação de uma lesão muscular. Trabalhaste para estar em condições de jogar. E, atingido esse primeiro objectivo, trataste de entrar em campo e de materializar, de personificar a alma, a raça do Dragão.
Pressionaste até as forças te faltarem. Correste até à última gota de suor. Deste tudo e tudo foi para nós uma enorme alegria.
Assumiste o jogo. Nunca te escondeste. Foste o primeiro a guiar a equipa e a indicar o caminho.
E isto diz muito de ti, desde logo como profissional. É sabido que estás de saída. Mas, ainda assim, debelaste uma lesão, correste o risco físico de voltar (certamente não a 100%) e dar 300%, deste tudo e saíste esgotado.
Terias sempre a segunda mão para brilhar. Mas não. Quiseste dar-nos uma alegria. Mais uma alegria.
E é por isso que te devo um enorme obrigado.
Pedro Ferreira de Sousa