27 de maio, aquele célebre dia de 1987, ficou mesmo a ser e é uma data inesquecível, como momento saliente na vida portista e dos
portistas. Dia importante na história do grande Futebol Clube do Porto. Tal foi
a final europeia de Viena. Faz agora 35 anos, que lá, no estádio do Pratter, na
capital austríaca das valsas musicais, Madjer, Juary, João Pinto, Frasco, toda
a equipa, com Artur Jorge e tantos outros, tocaram assim musicalmente em muitos corações e colocaram o nome do FC Porto no topo
do mundo. Algo que sempre se revê na retina da memória e só as lembranças desse final de tarde e entrada pela noite dentro ainda
fazem arrepiar.
Ora, a conta dos 35 anos que agora se completam, neste ano de
2022, soma as chamadas bodas de coral. Cuja celebração nesse sentido simboliza
o fortalecimento de uma relação. Pois como os corais marinhos levam muitos anos
para se formarem, também uma duração assim ainda é mais vincada,
continua bem gravada.
Se há dias felizes e momentos especiais, por vezes, daqueles em que acontece alguma coisa desejada mas até nem muito esperada, um desses foi a 27 de Maio de 1987 (ainda os meses se escreviam em português oficial com letra inicial maiúscula). Quando o FC Porto alcançou o título de Campeão Europeu de futebol, e o mundo portista sentiu uma alegria indescritível, num daqueles momentos em que se vê e comprova que o futebol não é só um jogo nem apenas um desporto, é muito mais que isso. Sobretudo, como no caso pessoal, em que estava em jogo o FC Porto, algo especial que faz que se ande no mundo sem ser só por ver os outros andarem.
Pois então aconteceu isso, coisa que há muito desejamos e por vezes sonhávamos, mas com uma ponta de realismo nos parecia quase impossível. Nomeadamente por então ser já um tempo em que no futebol dominavam os interesses dos poderosos. Bastando recordar o que acontecera três anos antes, na final da Taça das Taças, ainda existente nesse tempo, em que a Juventus de Itália, patrocinada por uma firma automóvel de grande fortuna, foi beneficiada em prejuízo do FC Porto que, apesar de ter dado lição de bola, foi autenticamente espoliado desse trofeu. Estando-se assim já muito longe de tempos em que qualquer equipa poderia ganhar quaisquer taças internacionais, visto antigamente não haver tantos jogos de bastidores premeditados e mesmo as comunicações eram reduzidas, a pontos das equipas irem jogar praticamente sem conhecerem quase nada dos adversários. Nessas eras antigas em que até a transmissão televisiva era tão rara que a chegada de imagens dos jogos das finais, via Eurovisão, eram uma espécie de imagens depois chegadas na primeira descida aos saltinhos do homem à lua…
Pois, se como poetou Fernando Pessoa, o homem sonha e a obra nasce, tal qual tudo vale a pena se a alma não é pequena, esse anseio que andava nas nuvens idílicas dos sonhos, tornou-se realidade, como quem consegue o primeiro beijo da mulher amada. E logo com uma valsa de Viena por fundo!
Foi pois tudo isso em 1987, no Mês de Maria, das flores e dos amores. Coisa que leva mais tempo a descrever que o que sentimos num baque, sem saber já por quanto tempo até chegarmos à realidade, num final de tarde de sonho, depois entrado pela noite dentro.
Estava ali diante de nós, nas imagens da televisão, a legenda “FC Porto Campeão Europeu”. Era mesmo isso, assim. Vimos então tudo de coração arregalado para coisa que acontecia mesmo. O João Pinto beija a taça… como o Custódio Pinto beijara a Taça de Portugal em 1968. E mais tarde vimos Ademir, Gomes, Oliveira e C.ª alcançarem o Título Nacional em 1978. Depois de anos em que até o Campeonato Nacional demorara a chegar, mas chegara. E ali, nesses momentos, a Taça dos Campeões Europeus também era nossa. Valeu a pena desejar e saber esperar. E ainda bem que chegou!
Ora, de tanta coisa muito temos em coisas físicas a descrever e recordar tamanho feito. Bem como sempre temos diante dos olhos um quadro, feito pelas próprias mãos, a não deixar esquecer por um segundo tal coisa mais linda que nos aconteceu desportiva e portistamente.
«Há 34 anos alcançámos a imortalidade entre a realeza do velho continente. A 27 de maio de 1987, pintámos o Danúbio de azul com um triunfo de proporções bíblicas diante do gigantesco Bayern de Munique. No relvado do Prater a final da Taça dos Campeões Europeus começou por sorrir desde cedo ao colosso alemão, que foi para o descanso em vantagem. Numa segunda parte absolutamente sublime, o calcanhar de Madjer repôs a igualdade e a vitória portista surgiu como um relâmpago graças à pontaria de Juary. A valsa extraordinária dos Dragões de Artur Jorge valeu-lhes a conquista do primeiro de sete troféus internacionais nas vitrines da Invicta. João Pinto recusou-se a largá-lo, mas ninguém o pode condenar.»
E tal como o João Pinto sentiu e se comportou, sem querer largar, esse foi um brinquedo que chegou e sentimos ser nosso!
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Armando Pinto
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