Estava-se no último domingo do quente mês de agosto de 1964 e as atenções centravam-se no final da Volta a Portugal em bicicleta. Acontecimento que despertava atenções e paixões em grande escala entre a população. Como acontecia há muito, havendo na memória pessoal, devido à idade, poucas lembranças anteriores, a não ser ténues imagens retidas. Sendo então e assim essa a edição da grande Volta Portuguesa que foi a primeira mais acompanhada diariamente a par e passo, aqui pelo autor destas lembrançanças, então através do jornal logo pela manhã, como pelos relatos da rádio durante o dia, e esperando pelo Diário da Volta à noitinha pela televisão. Tendo no último dia, chegada a tarde, todos os olhos terem finalmente pousado no ecrã da televisão, num aparelho dos poucos ainda existentes por cá… visto nessa tarde domingueira a televisão portuguesa ter transmitido diretamente a chegada da última etapa. Vendo-se então cá no norte de Portugal, no caso, a consagração do ciclismo do FC Porto em Lisboa. Com Joaquim Leão a receber os louros da vitória individual e toda a equipa do FC Porto a ter a devida consagração da extensiva vitória coletiva.
Então, a 30 de agosto, em 1964, chegava ao fim a Volta a Portugal, pela tarde desse domingo, na conclusão da última etapa da 27.ª edição da Grandíssima Portuguesa, a prova rainha do desporto dos pedais.
Agora, na passagem da efeméride dessa que foi uma das Voltas a Portugal mais populares, evoca-se aqui e agora desta feita tal Volta a Portugal de 1964, ganha por Joaquim Leão do FC Porto, clube igualmente triunfador por equipas na mesma prova.
= Equipa do FC Porto que venceu a Volta de 1964 individual e coletivamemte, terminando com todos os 8 ciclistas com que começou a prova, os que era legalmente permitido inscrever. Aqui, no instantâneo fotográfico, num momento da volta de honra à pista de Alvalade onde terminou a última etapa, com o treinador Onofre Tavares a comandar o esquadrão valoroso.
Com efeito, a 30 de agosto de 1964 concluiu-se essa edição da Volta, a então 27ª Volta a Portugal. Com Joaquim Leão a erguer o braço de triunfo final ao chegar ao risco branco da meta, na pista do estádio de Alvalade, em Lisboa.
Vem assim a talhe, não de foice mas de bicicleta de corrida, a evocação dessa vitória, entre os raios de ação percorridos pelas bicicletas que andaram pelas estradas portuguesas em competição.
Como nota de enquadramento, pode rever-se o que sobre essa mesma prova ficou narrado no livro “História da Volta”, de Guita Junior, que ilustra algo, apesar de conter diversas incorreções (tendo essa obra infelizmente enganos que têm induzido em erro outras publicações).
Iniciada a 14 de agosto, desse ano de 1964, a Grandíssima Volta Portuguesa foi para a estrada pela 27ª vez, até aí. Tendo no decurso da mesma sido estabelecido novo recorde, em sinal de como foi disputada e resultou em autêntico sucesso, à medida do entusiasmo popular gerado.
Para uma visão eslarecedora, o resumo da corrida está deveras bem ilustrado em esclarecedores figurações patentes no álbum de banda desenhada “OS HERÓIS DA ESTRADA”, de 1986, edição dos jornais O Jogo e Jornal de Notícias.
Com efeito, foi todo um bom trabalho de equipa que ajudou à vitória do grande ciclista, em tamanho e valor. Com os interesses coletivos a sobreporem-se às possibilidades individuais de cada um dos oito ciclistas que começaram e acabaram a Volta na equipa do FC Porto. Tendo um dos exemplos acontecido na etapa em que Joaquim Leão alcançou a liderança da classificação geral. Conforme sucedeu com Ernesto Coelho, que ia então classificado em 4º da Geral, com possibilidades de ficar no pódio final, mas, tendo sofrido um furo e ficado para trás à espera de assistência, foi sacrificado por isso ter acontecido na ocasião em que Joaquim Leão devia atacar, lançando-se em busca do primeiro posto. Pois o técnico Onofre Tavares teve de deixar o pupilo que se atrasara momentaneamente, optando naturalmente pela melhor posição do que ia na frente. E no final Ernesto Coelho lá estava ao lado de Joaquim Leão, satisfeito com a vitória do colega – como a foto seguinte é elucidativa.
= Joaquim Leão, com a coroa de louros sobre a camisola amarela de vencedor da Volta, em momento de saudação vitoriosa, tendo o colega de equipa Ernesto Coelho ao lado.
Essa Volta foi mesmo deveras empolgante, estando ainda na memória pessoal do autor destas linhas. Tendo então, jovenzinho ainda em idade escolar do ensino primário, guardado diversas gravuras recortadas de jornais da época. Imagens que são hoje relíquias de estimação pessoal, também.
Assim sendo, deixa-se a narrativa a cargo de imagens documentais do arquivo pessoal do autor, de recortes e papéis preservados, algo amarelecidos pelo tempo, cujos originais temos guardados, com dobras, anotações pessoais e outras particularidades (fora as iniciais AP que, sempre de forma diversa, apenas colocamos como marca na digitalização). De material capaz de reforçar quão interessante é a história do ciclismo no seio da coletividade azul e branca, como modalidade que, em seus tempos áureos, captou muito entusiasmo e apoio à causa Portista.
Eis aí, então, algumas recordações mais da Volta individualmente conquistada por Joaquim Leão, e coletivamente aumentou o número de triunfos do F C Porto, em 1964. Com registos pessoais já, à feição da época.
Essa imagem icónica, guardada também pessoalmente de recorte da revista Flama, era acompanhada por curiosa descrição de toda a envolvência desse feito de Joaquim Leão.
Entretanto no jornal O Porto, ao tempo órgão oficial informativo e historiador do FC Porto, foi devidamente assinalado tal feito, como se pode rever por alguns recortes:
= Joaquim Leão, com a coroa de louros de trunfo na Volta a Portugal, num dos atos comemorativos com que na época foi homenageado, ladeado pelos seus colegas de equipa Mário Silva e Sousa Cardoso. =
Mais recentemente, a Volta a Portugal de 1964, a Volta de Joaquim Leão, ficou ainda anotada num álbum de autocolantes, com legenda, em curioso formato redondo duma roda de bicicleta, com o título “À Volta da VOLTA a PORTUGAL”, em 2018, do Jornal de Notícias.
Joaquim Leão continuou depois a andar em lugares de destaque nas corridas pelos tempos adiante, como seu palmarés reflete. Com medalhas e faixas de vencedor e campeão que emoldurou num quadro que tinha em lugar de destaque no seu estabelecimento de cafetaria, o seu café no centro de Sobrado, na terra natal. Quadro esse que é visível na imagem cimeira deste artigo, em torno de fotografia dele mesmo com a camisola de vencedor da Volta. Como também se pode ver em captação fotográfica algo recente, ainda em vida.
Passados anos desse cometimento, em sinal da importância dessa Volta ganha, Joaquim Leão foi entrevistado pelo Jornal de Notícias para recordar precisamente tal triunfo.
Tudo também pelo interesse que a Grandíssima desperta. Como aqui se releva, prestando atenções memoriais à Volta portuguesa, por estas alturas em que os ciclistas dão pedaladas de preparação para a maior prova nacional velocipédica.
Pois então, em mais uma corrida pelo tempo, ao sabor da brisa das recordações, erguemos o dorso, na escrita, para recuperação de fôlego desta modalidade que passa a grande parte das terras e às casas das pessoas, para regressar à memorização sobre a importância dada ao ciclismo, esse desporto sobre rodas que tanto tem engrandecido o F C Porto, no caso – embora causando invejas aos adversários.
Pois sim. E com isso houve sempre um grande entusiasmo portista pelo ciclismo, visto o F C Porto, entre, pelo menos, finais da década de quarenta até princípios da década de sessenta, ter tido grande predomínio nas corridas oficiais de bicicletas. Daí o autor destas linhas ter andado a par e passo atento à carreira dos ciclistas de azul e branco vestidos, pelos idos longínquos tempos de infância (de quem recorda estas andanças), quando surgiram as vitórias de Sousa Cardoso e, depois Mário Silva, depois ainda José Pacheco, até que, passado um ano de interregno, se seguiu a Volta a Portugal ganha por Joaquim Leão, esse ciclista grande em tamanho e valor… que muito admiramos, como ciclista da camisola das duas listas azuis das Antas e colega dos nossos ídolos principais dessas épocas, Mário Silva, Sousa Cardoso, Azevedo Maia, Ernesto Coelho, Carlos Carvalho, Joaquim Freitas, José Pinto, Mário Sá, etc..
Assim, no lanço, relembramos a referida entrevista (no JN, em 1999) dedicada ao Joaquim Leão, através duma retrospetiva efetuada ao correr dos anos noventa, do século passado, já, a lembrar o grande triunfador individual da Volta a Portugal de 1964.
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Joaquim Leão faleceu a 5 de dezembro de 2018, com 75 anos. Desaparecendo então fisicamente mais um ídolo de nossa infância e dos tempos em que o FC Porto fazia frente ao sistema desportivo nacional por meio do ciclismo…
Joaquim Leão, o tal, que contrariando o nome, deu grandes alegrias ao mundo do clube Dragão.
Joaquim Leão foi um dos quatro ciclistas de Sobrado (Valongo) que venceu a Volta a Portugal em bicicleta (os outros foram Fernando Moreira e Rui Vinhas, também do FC Porto, e ainda Nuno Ribeiro, da equipa LA Alumínios-Pecol-Bombarral). Foi em 1964 que o ex-ciclista sobradense venceu a prova rainha em Portugal. No museu do FC Porto está a camisola da vitória com que Joaquim Leão envergava no dia 30 de agosto, quando terminou a Volta.
Nessa altura Joaquim Leão foi recebido como um herói. Como recordava: -“Vim de carro descapotável, desde o alto da Serra até Sobrado… era só gente na estrada. Em Ermesinde, a minha irmã que era freira, colocou-me uma coroa de flores. Aqui em Sobrado era só gente e foi uma festa tão grande como nunca mais se viu. Tenho mesmo muitas saudades desses momentos”.»
= Camisola amarela de vencedor da Volta de 1964, exposta no Museu do FC Porto – com efeitos da passagem do tempo. Um histórico símbolo de que o tempo pode deixar a traça esburacar objetos, mas a estimação histórica mantém-se.
Temos também (expressando em linguagem clássica, o autor deste blogue) uma cassete de vídeo, ainda no formato antigo de imagem, sobre a Volta ganha por Joaquim Leão, que ele próprio oferecera em tempos ao seu antigo colega de equipa Ernesto Coelho, em reconhecimento do mesmo ter sido um dos que mais o ajudaram no trabalho de equipa para essa vitória… e que, por sua vez, o amigo Ernesto Coelho me ofereceu, a mim, autor e gestor deste blogue. Cassete antiga entretanto cedida ao Porto Canal, para atualização também do formato de modo a ficar em suporte atual.
Joaquim Leão com a camisola do clube azul e branco percorreu as estradas do país para inúmeras vitórias durante cerca de uma dezena de anos. Conseguiu vários títulos, nomeadamente seis de campeão nacional de estrada, uma clássica Porto-Lisboa e conquistou outros prémios. Sendo na condição de campeão que esteve na Festa dos Campeões, ao tempo tradicioanl do clube, em 1968. Primeito num repasto festivo, de tarde, na Quinta da Vinha, do Presidente Honorário do FCP Sebastão Ferreura Mendes; e depois num festival noturno no estádio das Antas. Momentos esses registado nas fotos seguintes.
= Pose de um grupo de ciclistas campeões, junto com dirigentes do clube. Vendo-se, entre outros, a seguir aos dois prmeiros da foto… Joaquim Leite, Delfim Santos, Custódio Gomes, o ao tempo vice-presidente Dr. Miguel Pereira, Sebastião F. Mendes, o presidente Pinto de Magalhães, Joaquim Leão, Manuel de Sousa, José Azevedo e José Luís Pacheco.
= Joaquim Leão com a faixa de campeão nacional, entre campeões, na equipa do FC Porto.
Joaquim Leão, anos mais tarde, por alturas em que o FC Porto deixara de ter equipa de ciclismo profissional e manteve durante algum tempo apenas o escalão amador de formação, foi também treinador do clube. E continuou pelos tempos além sempre portista, um bom portista. Merecedor, como é, de estar sentimentalmente na Memória Portista.