Pavão, falecido em pleno relvado do estádio das Antas, a jogar ao serviço do FC Porto, e ficado depois imóvel ainda com a camisola do FC Porto vestida, em Dezembro de 1973, não mais saiu do afeto portista. E, passados tempos, em abril de 1975, foi justamente homenageado com a colocação dum monumento junto ao estádio onde tombara para sempre, cuja inauguração dessa coluna teve lugar aquando dum jogo em sua memória. A 19 de Abril de 1975, data a assinalar na passagem da respetiva efeméride.
Fernando Pascoal Neves, mais conhecido por Pavão (nascido em Chaves a 12 de Agosto de 1947 e falecido então no Porto a 16 de Dezembro de 1973), foi importante jogador de futebol do Futebol Clube do Porto, clube que representou em juniores, categoria em que foi campeão nacional, e depois em seniores, com uma Taça de Portugal conquistada, sempre com a camisola do FC Porto vestida. Um valoroso futebolista que, além disso, tendo sido um dos grandes ídolos da família portista, morreu em plena partida de futebol no Estádio das Antas. Ocorrência triste e inesquecível, acontecida ao minuto 13 da 13ª jornada da época de 1973/74, durante um jogo do Futebol Clube do Porto com o Vitória de Setúbal no Estádio das Antas. Aí esse célebre Pavão (assim conhecido por fintar os adversários de braços abertos), caiu no relvado, depois de ter feito um passe ao então jovem colega de equipa Oliveira, indicando-lhe de braços abertos para avançar, dizendo-lhe: «- Vai, miúdo!». Caído depois, já inanimado foi levado para o Hospital de São João, mas apesar de todas as tentativas de reanimação, não foi possível salvá-lo.
Ora, passados tempos, já com Cubillas como figura da equipa principal do FC Porto, para cuja vinda Pavão também contribuíra, num plantel em que evoluíam jovens valores como o referido Oliveira, mais Rodolfo, também já Fernando Gomes, etc., foi organizado um jogo para homenagear em campo o eterno Pavão, como pretexto para a inauguração dum monumento erigido em sua memória. Tendo o descerramento dessa coluna, com um medalhão contendo o respetivo busto esculpido, acontecido em cerimónia antecedente ao jogo de cartaz do correspondente programa. Com a filha de Pavão, Maria Alexandra, menina de tenra idade, a ter a honra no ato, sendo por sua mão que foi puxada a bandeira que cobria o obelisco, assim descerrado e ficado à vista. Na presença de dirigentes e intervenientes convidados para o jogo, que opôs a equipa do FC Porto com a Seleção Nacional, sendo árbitro o mesmo, Porém Luís, que apitara no fatídico jogo em que Pavão faleceu.
Cerimonial esse que se relembra através de fotos do momento, vendo-se Fernando Gomes (entre o benfiquista Humberto Coelho e o setubalense Rebelo) com a camisola da equipa dos selecionados, por o “Gomes do Porto” ter sido escalado para essa representatividade.
Após a inauguração do monumento dedicado ao Pavão, as atenções de momento viraram-se para o interior do estádio, tendo o jogo sido antecedido com a presença da viúva de Pavão a fazer as honras do cerimonial, na distribuição de medalhas alusivas aos intervenientes no desafio de futebol.
Logo de seguida a mesma entregou um simbólico ramo de flores ao capitão de equipa Rolando, em agradecimento aos antigos colegas do marido, na companhia da filha, que foi fotografada junto com a equipa, na pose de conjunto.
Na ocasião houve ainda a entrega, por parte de representantes do jornal Mundo Desportivo, de dois galardões de Prémios que Pavão conquistara aquando de inicativas desse jornal, tendo esses prémios sido depositados nas mãos da filha de Pavão. Assim como, na oportunidade, outro prémio do mesmo jornal (então existente) e que fora ganho por Rolando, foi entregue ao nesse tempo capitão do FC Porto.
Quanto ao jogo, que serviu de chamariz (F. C. Porto, 1 – Seleção Nacional, 1), sob arbitragem de Porém Luís, o FC Porto alinhou com: Tibi, Leopoldo, Rolando (capitão), Vieira Nunes, Gabriel, Rodolfo, Peres, Cubillas, Oliveira, Júlio e Laurindo. E a Seleção Nacional com: Damas, Rebelo, Humberto Coelho (capitão), Alhinho, Barros, Octávio, João Alves, Fraguito, Marinho, Toni e Fernando Gomes. O resultado final cifrou-se num empate a um golo para cada lado, sendo marcadores Oliveira e João Alves.
Desse jogo pode recordar-se ainda o mesmo através de imagem dum dos bilhetes, no caso dum convite – como mostra do prélio que assinalou a homenagem, com resultado terminado num empate de 1-1 entre o FC Porto e uma Seleção de Internacionais portugueses.
Um bilhete-convite do mesmo jogo está exposto na vitrine dedicada a Pavão, no museu do FC Porto.
Também, de tal acontecimento nessa noite, ficou a mesma homenagem assinalada com a medalha distribuída pelos jogadores, árbitro e seus auxiliares, da qual mais exemplares foram colocados à venda e alguns estão em mãos de colecionadores.
O monumento, da autoria do escultor Baltazar Bastos, ficou assim no espaço de saída do departamento de futebol, no terreiro que continha também um monumento erigido pelo Conselho Cultural do FCP ao Presidente Honorário Afonso Pinto de Magalhães (e mais tarde, largos anos depois, passou a ter também mais uma edificação de estatuária com o busto do entretanto também falecido Rui Filipe; monumentos esses, do Pavão e Rui Filipe, que passaram para uma zona nobre do interior do estádio do Dragão, com o desaparecimento do antigo estádio; junto com uma lápide e anexo medalhão de homengem a José Maria Pedroto, que estava no hall de entrada da área social do estádio das Antas, onde também havia o painel de azelejos com o poema Aleluia (o qual passou a figurar no atual museu).
(Enquanto o monumento a Pinto de Magalhães desapareceu da vista publica, até agora. Após a saída das “coisas” do FC Porto da cidadela desportiva do estádio das Antas e “mudanças” para o estádio do Dragão.)
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Fernando Pascoal Neves, mais conhecido e celebrizado por Pavão, falecido na cidade do Porto e no coração do FC Porto a 16 de Dezembro de 1973, foi assim celebrizado monumentalmente a 19 de abril de 1975. Ficando algo a recordar publicamente esse que foi dos melhores jogadores nacionais, e se mais não foi reconhecido em seu tempo isso entende-se pela trama portuguesa perante representantes do FC Porto, clube com cuja camisola azul e branca vestida ele conseguiu ser Campeão Nacional de juniores e vencedor da Taça de Portugal, já em seniores. Tal como tinha a faixa de capitão da equipa principal do FC Porto, além de ter envergado ainda a camisola da seleção nacional – não tantas vezes como merecia ser chamado a representar Portugal, sabendo-se que era o melhor no seu lugar, mas como jogava no FC Porto, atendendo ao sistema BSB que privilegiava tudo o que fosse de Benfica, Sporting e Belenenses, as poucas vezes que conseguiu superar isso demonstra como era mesmo bom… e superior à concorrência!
Pavão está sepultado no Mausoléu do Futebol Clube do Porto, no cemitério de Agramonte, onde jazem Estrelas do FC Porto. E uma sua camisola está preservada, emoldurada devidamente, em recanto domicilário do autor destas linhas escritas.
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Na calha da rememoração sobre a homenagem póstuma prestada a Pavão em 1975, vem à memória a correspondente taça que ficou a perpetuar essa ocorrência, então, ostentando figuração alusiva, com nome de Trofeu Pavão.
Esse galardão de homenagem ao simbolismo de Pavão no mundo portista foi taça que depois disso ficou exposta na antiga Sala-museu Afonso Pinto de Magalhães, na antiga sede social, na ao tempo chamada Praça do Município. E consta da coleção de cromos comemorativa do Centenário do FC Porto – 1893-1993.
Armando Pinto
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