A 18 de novembro de 1962 o FC Porto
foi ao antigo estádio da Luz vencer o “clássico” Benfica-Porto da temporada de
1962/1963. Em cuja ocasião, marcando ainda mais essa grande vitória em casa do
rival Benfica, antes do inicio de jogo foi entregue ao sócio do FC Porto Manuel
Pina, então muito conhecido e admirado “Homem da bandeira grande do FC Porto”,
uma nova bandeira, em homenagem à sua dedicação e grande portismo, porque a anterior
estava muito desgastada pelo uso e constantes deslocações no acompanhamento da principal
equipa portista. Sendo esse senhor natural de Torres Novas, depois residente com a família em Lisboa, na zona da Estefânia, costumava assistir aos jogos do FC Porto no sul mas também pelo resto do
país e com frequência no estádio das Antas.
em Fevereiro de 1973 e levou consigo a Bandeira do Futebol Clube do Porto.)
Ocorrências, em suma, dignas de
registo, na calha desse encontro a contar para o Campeonato Nacional da 1ª
Divisão, disputado no (anterior) Estádio da Luz, à 4ª jornada da prova dessa
temporada, terminado com mais uma marca histórica: SL Benfica, 1- FC Porto, 2;
através de 2 golos de Azumir pelo FC Porto e 1 de Eusébio para o Benfica.
Foi então tal o apreço portista
por essa significativa vitória, alcançada em casa do Benfica, que a chegada dos
jogadores ao Porto revestiu-se dum banho de multidão, em autêntica manifestação
de regozijo, qual mar azul de entusiasmo.
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Então… Estava-se em pleno verão de São Martinho quando no outono de 1962 o FC Porto se deslocou à capital do império para defrontar a equipa que havia ganho ainda meses antes a Taça dos Campeões Europeus pela segunda vez. E o FC Porto passava por fase de transição, ainda com a equipa a formatar-se, após os bons tempos dos campeonatos dos anos de 1956 e 1959 (e mais não foram pelos habituais roubos do sistema, algo que só quase por milagre foi conseguido superar no campeonato do caso-Calabote). E então, nessa tarde domingueira de tempo soalheiro, a meio de novembro de 1962, enquanto o sol dourava a luz do dia, o conjunto da equipa principal do futebol portista deu um ar de sua graça, numa bela exibição coroada em remates certeiros do avançado Azumir, que não esteve com cerimónias nem mesuras diante dos levanta-braços do regime. Tendo o craque brasileiro do FC Porto sido ali autor de dois golos, a cuja soma um de resposta de Eusébio apenas reduziu a desvantagem lisboeta e foi insuficiente para impedir que os dois pontos da vitória ficassem com os homens das sagradas camisolas das duas listas azuis.
Passa assim neste dia a efeméride desse sucesso conseguido em 1962, do FC Porto ter ido derrotar no Estádio da Luz uma das melhores equipas da história do Benfica, tendo ficado para a história e na memória portista o resultado final de 2-1 para os Dragões, mais a gravação memorial do brasileiro Azumir ali ter marcado um golo em cada parte, quão foi grande figura desse triunfo hercúleo do FC Porto. Pois nunca é demais relembrar que nesses tempos, durante os 48 anos de salazarismo, só em quatro ocasiões foi “permitido” aos azuis e brancos saírem vitoriosos do Estádio da Luz em jogos a contar para o campeonato.
Esta lembrança, na calha de tal efeméride de boa memória, traz à recordação pessoal este jogo acontecido em tempo de 2ª classe da escola primária do autor deste blogue. Pois, não mais esquece, embora já houvesse boa escola de portismo embrionário através do que eu ia conseguindo imprimir em quem gostava de brincar comigo, havia um ou outro colega do contra, dos poucos que não sabiam que o jogo da bola não era jogado com chancas e iam pelo paleio de outros… E assim, ao chegar o último dia da semana antecedente a esse jogo, houve apostas de quem ganhava e quem iria perder, metendo na questão aposta de “macacos” dos que saíam com rebuçados, como chamávamos nesse tempo por aqui aos cromos para as coleções de cadernetas de jogadores, cujas pequenas gravuras de papel ficavam empenhadas, desse modo, para entrega a quem ganhasse (e assim os vencedores teriam mais alguns para ajudar a completar a coleção).
Ora, ao tempo e não só, conforme se sabe, só não valia tirar olhos para o Benfica ganhar, e assim pairava quase certeza que o Porto perderia. Mas eu é que não ia nisso, gostei sempre de pensar pela minha cabeça. E com que prazer, então, no final da tarde de domingo, eu soube que o Porto venceu em Lisboa!
Pelos comentários do relato tadiofónico, mas duma emissora do Porto (penso que do “Norte Reunidos), soube que o Azumir foi aí o homem-golo, a concretizar à sua maneira jogadas em que intervieram Jaime, Hernâni, Serafim e Pinto…tal como Américo fez uma portentosa exibição.
Falou-se na altura que o árbitro desse jogo não era muito conhecido, não tendo tido interferências demasiadas como tantos outros de outras vezes – e por alguma coisa não foi dos de longa carreira… depois.
Pois então, com que ansiedade e prazer na segunda-feira imediata acordei cedo e fui todo feliz para a escola (coisa rara, em que nunca se sabia quando se ia ao quadro, etc. e tal…)!
Desse jogo, sendo eu nesse tempo pequeno aluno ainda a aprender a escrever e contar, tenho pouca coisa guardada, além da inesquecível boa sensação tida em tal boa ocasião. Mas como isto merece ser lembrado, deitando olhos ao que ainda há registado, recordamos o acontecimento com algumas imagens públicas, da equipa que alinhou, e os dados do mesmo jogo.
A 18 – 11 – 1962, no (antigo) Estádio da Luz, em Lisboa. Para o Campeonato Nacional da I Divisão de 1962/63 – 4ª Jornada, sob arbitragem de Virgílio Baptista, da Associação de Setúbal.
Benfica, 1 (golo de Eusébio) – FC Porto, 2 (golos de Azumir)
FICHA DE JOGO
BENFICA – Costa Pereira, Ângelo, Germano, Cavém, Humberto Fernandes, Mário Coluna, Fernando Cruz, José Augusto, José Águas, Eusébio (1 golo, aos 79′) e António Simões. Treinador: Fernando Riera (Chile)
F C PORTO – Américo, Alberto Festa, Miguel Arcanjo, Joaquim Jorge, Mesquita, Paula, Custódio Pinto, Jaime Silva, Hernâni, Azumir (2 golos, aos 27′ e 60′) e Serafim. Treinador: Jenő Kalmár (Hungria).
= Azumir: Autor dos golos da vitória !
Desse jogo “recorta-se” do jornal
O Porto, da época, uma interessante crónica.
Armando Pinto
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Este artigo foi originalmente publicado neste site