A 23 de abril de 1939 terminava o Campeonato Nacional de
futebol, em apoteose vitoriosa do FC Porto. Sendo tal competição oficial pela
primeira vez disputada nessa época com esse nome, embora no seguimento da 1.ª
Liga iniciada em 1934/35. De permeio com o original Campeonato de Portugal
surgido em 1921/22. E, tal como no Campeonato de Portugal e depois na Liga,
também no Campeonato Nacional, começado em 1938/39, o FC Porto foi o primeiro vencedor.
Algo merecedor de registo especial, como para o efeito se ilustra através de
respigos do álbum pessoal do guarda-redes campeão Soares dos Reis.

Esse Campeonato Nacional começou com um FC Porto-Sporting e
acabou com o FC Porto-Benfica. Num Campeonato disputado quase a par entre
Porto, Benfica e Sporting, com os restantes, Belenenses, Académica de Coimbra,
Barreirense, Casa Pia e Académico do Porto a correrem por fora. Sendo a prova correspondente
à época futebolística de 1938/39, mas disputado após os campeonatos distritais,
que no caso do FC Porto foi o Campeonato de Porto, tendo assim o Nacional
decorrido de janeiro a abril de 1939, antecedendo a Taça de Portugal, disputada
em jogos a duas mãos.

Então, desse início e final do campeonato, regista-se os jogos
correspondente, da vitória no primeiro sobre o Sporting por 2-1 e do jogo final
empatado 3-3 com o Benfica – de modo que a vantagem que o FC Porto conquistara
até aí se manteve. Acabando o FC Porto em 1º com 23 pontos, o Sporting em 2º
com 22 e o Benfica em 3º com 21.
Do jogo inicial, começado o campeonato com o cartaz do grande “clássico nacional” Porto-Sporting, regista-se o encontro por uma reportagem do jornal Os Sports, de Lisboa:
E, ainda do mesmo, mais duas páginas de revistas desportivas
de Lisboa:
Do “Século Ilustrado”
E da revista Stadium”
= Revista “Stadium” de 11 de janeiro de 1939, referente ao jogo do anterior dia 8 do mesmo mês.
Na conclusão do Campeonato deu-se então o Porto-Benfica, com
as equipas apenas distanciadas entre si por 2 pontos, valendo as vitórias precisamente dois
pontos. Assim sendo, era de tal modo o ambiente que no FC Porto foi resolvido isolar a equipa
a partir de meio da semana, para local distante da Invicta, indo estagiar para a
vila da Lixa, no concelho de Felgueiras (como já foi e está registado num anterior
artigo aqui neste blogue).
Pelo facto e desde o estágio, Soares dos Reis escreveu uma
interessante crónica para o jornal Norte Desportivo, onde ia alinhavando alguns
artigos (e depois de terminar a carreira continuou mais algum tempo). Atente-se
então no que ele escreveu antes, para ser lido depois, como agora acontece…
Com efeito, nesse 23 de abril de 1939 o FC Porto sagrou-se vencedor da primeira edição do Campeonato Nacional da Primeira Divisão, em resultado de como terminou a prova no último jogo, ao empatar 3-3 com o Benfica perante os 25.000 adeptos que enchiam o Campo da Constituição, tendo ficado cerca de 10.000 do lado de fora, segundo os relatos da época. Com esse resultado foi mantida a distância sobre Sporting e Benfica, de 1 e 2 pontos respetivamente.
= Equipa do FC Porto da Época 1938/39: campeões nacionais!
Em cima, da esquerda para a direita – Miguel Siska (treinador), Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Manuel dos Anjos “Pocas”, Carlos Pereira, António Baptista, Reboredo, Rosado e Francisco Gonçalves (massagista); em baixo pela mesma ordem – Castro Ferreira, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Artur de Sousa “Pinga” e Carlos Nunes.
Depois de na jornada anterior o FC Porto, em deslocação ao vizinho estádio do Lima, ter conquistado a maior vitória fora de casa da sua história para o Campeonato Nacional, como aconteceu aí na penúltima jornada do campeonato dessa edição de estreia do atual formato, com os portistas a venceram o Académico FC por 12-1 (com cinco golos de Costuras, quatro de Carlos Nunes, dois de António Santos e um de Reboredo – como está registado neste blogue em anteerior artigo, também), chegava depois assim à conquista do Campeonato.
= Soares dos Reis seguro na baliza!
= O goleador António Santos, autor de dois golos no jogo do título !
Ora, o jogo FC Porto-Benfica disputou-se em toada renhida, acabando como
começou, embora com golos, três para cada lado. Mas os benfiquistas tiveram mau
perder, e no final rodearam o árbitro. Do facto a imprensa lisboeta fartou-se
de adulterar a realidade, como o próprio Soares dos Reis aludiu num dos seus
registos manuscritos…
Foi porém justa a vitória do FC Porto e do facto
reportam-se pormenores fotográficos e de reportagem, desse decisivo encontro disputado
no Porto, em casa do FC Porto, na 14.ª e última jornada, realizada a 23 de
abril, com o empate de 3-3.
Foi o jogo realizado no Campo da Constituição, sob arbitragem de Henrique Rosa, de Setúbal. O FC Porto alinhou com Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Anjos “Pocas”, Carlos Pereira, Reboredo, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Nunes. Marcaram os golos da parte do FC Porto António Santos, 2 e Costuras 1. Numa marcha de marcador em que António Santos fez logo de início o 1-0, mais tarde Costuras repôs a vantagem ao colocar o resultado em 2-1, quase no fim do primeiro tempo; e já na segunda parte António Santos, de novo voltou a dar vantagem ao colocar o resultado em 3-2, sempre com o FC Porto na frente e o Benfica à procura do empate, que voltou a conseguir por fim.
Além dos jogadores que alinharam no último jogo, também jogaram ao longo do campeonato e foram Campeões Baptista, Castro e Rosado.
= Soares dos Reis !
Como se pode ver por uma imagem da revista Stadium era dia
de casa cheia. Rezam as crónicas que «duas horas antes do início do jogo já não
cabia mais ninguém na Constituição. Lotação esgotada. 2.200 pessoas nas
bancadas laterais, 997 pessoas nas bancadas centrais, 516 lugares distribuídos
por 86 camarotes, 961 pessoas nas bancadas de pista, 400 peões gerais e 15.000
gerais.» E mais as indesejadas mas acontecidas “borlas” e os naturais convites, a perfazer o número total.

Disso e mais da seguinte fase de homenagens, dá-se ainda conta
por respigos jornalísticos da época,

Tendo então havido um festival de consagração realizado no Campo da Constituição, dias depois, a comemorar festivamente esse feito, em “Homenagem aos Campeões”, foram atribuídas medalhas alusivas aos campeões. Acabando com registo fotográfico fixado à posteridade em alusiva foto de conjunto.

= Festa de Homenagem do clube aos Campeões Nacionais no Campo da Constituição. Pose dos Campeões, jogadores, porta-estandarte e outros antigos jogadores simbólicos, mais elementos da comissão organizadora do evento. Em cima da esquerda para a direita – Carlos Nunes, Manuel Silva (Comissão Organizadora), António Teixeira (Comissão Organizadora), José Moreira (Comissão Organizadora), Ferreira (Comissão Organizadora), Jerónimo Faria, Joaquim Moreira Júnior (Atleta de atletismo), Valdemar Mota (1º Olímpico do FCP, com a bandeira do clube), Álvaro Sequeira (atleta eclético), José Carlos Gouveia (Comissão Organizadora), Cândido Flórido (Comissão Organizadora), António Figueiredo (Comissão Organizadora) e Sacadura. Em baixo pela mesma ordem – Carlos Pereira, António Santos, Soares dos Reis (guarda-redes titular), Rosado (guarda-redes suplente), Manuel dos Anjos “Pocas”, Costuras, Vítor Guilhar, António Baptista e Reboredo.
Bem como houve outras festas, incluindo uma homenagem prestada a Soares dos Reis,

Acresce registar alguns números, pela importância dos
desempenhos contributivos para a vitória completa: 57 golos marcados, dos quais
os melhores goleadores da prova: Costuras, com 18 golos) e Carlos Nunes com 15.
Primeiros Campeões – Painel de homenagem referencial aos primeiros Campeonatos, sempre ganhos pelo FC Porto: 1º Campeonato de Portugal, em 1921/22; 1º Campeonato da Liga, em 1935 e 1º Campeonato Nacional em 1938/39 (atualmente já com novo nome de 1ª Liga). Com imagem da equipa principal dos Campeões de 1939.

= Em homenagem aos primeiros campeões, eis a equipa base dessa época, conforme imagem ao tempo fixada à posteridade em separatas e livros. Campeões Nacionais do FC Porto da Época 1938/39 – de cima para baixo: Soares dos Reis, Sacadura, Carlos Pereira, Manuel dos Anjos Pocas, Reboredo, António Baptista, Carlos Nunes, Artur Pinga, Costuras, António Santos e Lopes Carneiro.
Reparando-se no que é transmitido pela imprensa, entre os totalistas, no grupo dos jogadores mais utilizados no FC Porto, sobressaía Artur de Sousa “Pinga”, um dos maiores talentos de sempre do futebol luso. Bem como Carlos Pereira, António Santos, Carlos Nunes e José Monteiro “Costuras”, este o melhor marcador, também estiveram em todos os jogos. Enquanto Soares dos Reis apenas num jogo foi substituído por Rosado.
Armando Pinto
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