O primeiro de dezembro é uma data marcante. Além de em 1954 a equipa de futebol principal do FC Porto ter vencido o Benfica por 3-1 no jogo de inauguração do antigo estádio da Luz. Pois foi ainda nessa data, noutro ano, a mesma que os históricos “Conjurados” conseguiram em 1640 acabar com a União
Ibérica Filipina e devolver a Independência a Portugal, que em 1955 a Federação
Portuguesa de Futebol irradiou o presidente do FC Porto Dr. Cesário Bonito por críticas à entidade
federativa. Corria o ano de 1955 e a FPF acabava de adiar, com horas de
antecedência, um clássico contra o Sporting sob o argumento de que o jogador Travassos,
um dos violinos de Alvalade, havia ficado retido pelo nevoeiro em Espanha após
representar uma seleção de jogadores lisboetas em Madrid. Cesário Bonito
insurgiu-se contra a decisão, enviou um telegrama de protesto para a capital e
fez jus à frase “tudo o que fazemos, tudo o que pensamos fazer, tem uma
exclusiva finalidade: servir o FC Porto!” que o celebrizou. Acabou irradiado
pela tutela depois de ter tido um papel determinante na construção do Estádio
das Antas e em vésperas da primeira “dobradinha” da história do clube (Campeonato
e Taça de Portugal que, volvidos meses, o FC Porto conquistou em 1956).
Ora, o clube, através de seus homens, sentiu o baque de tudo
isso nos finais de 1955. E, apesar do tempo que se vivia, foi havendo tentativas de fazer alguma coisa. Sabendo-se que o regime político-desportivo tentou
impedir algo mais, a ponto de no jornal O Porto, em sua edição imediata, não
ter aparecido escrito qualquer referência, naturalmente por reprovação
governamental, estando o jornal sujeito, pois era “Visado pela Comissão de
Censura” do governo da nação. Mas depois, perante a catadupa de acontecimentos,
os sócios do FC Porto manifestaram-se de outro modo, em Assembleia Geral, como pôde assim já constar
na edição de 28 de dezembro d’ O Porto desse final do ano de 1955.
De permeio e mesmo depois, na evolução dos acontecimentos e
diante da posição que o FC Porto conseguiu afirmar, houve mesmo uma espécie de conjuntura
episódica de circunstância, que não se pode esquecer. Quão se pode recordar,
sendo tema que convém avivar – como foi entretanto também relembrado em análise
historicista muito bem desenvolvida recentemente na revista Dragões, de junho
de 2020, através dum bom trabalho de Diogo Faria, do Departamento de Comunicação do
FC Porto.
E no fim de contas, quanto ao que acabou por contar, no jogo disputado em campo, o FC Porto
conseguiu vencer o Sporting por 3-1, disputado depois a 1 de janeiro seguinte,
na mudança de ano dessa época futebolística de 1955/1956. Tendo assim amealhado
pontos que foram decisivos para no final do Campeonato Nacional o FC Porto ser Campeão,
como foi.
Armando Pinto
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