Francisco Nóbrega era já um valor afirmado no futebol
português, como um extremo-esquerdo saliente, e que no FC Porto acabara por fazer
valer seu jogo atacante. Tendo sido revelação ainda nos juniores e já nos
seniores, depois de uma época de empréstimo no Tirsense para rodar, foi entrando
a fazer parte da equipa de honra portista.
Até que, entretanto a dividir sua
vida de futebolista com o serviço militar, foi escalado para integrar a Seleção
Militar nacional. E já internacional Militar, teve finalmente vez de ser também
Internacional A, na Seleção Nacional principal. Em jogo diante da Seleção de Espanha,
disputado no estádio das Antas, a meio de novembro de 1964.
Foi então, nesse domingo 15 de novembro, corria o ano de
1964 em tempo dos magustos, que em bela tarde soalheira típica do verãozinho de
São Martinho, Nóbrega subiu ao relvado pela primeira vez com a camisola das
quinas vestida, estreando-se a jogar como titular pela Seleção da Federação Portuguesa
de Futebol. Tendo ao lado, como companheiro nesse jogo da Seleção, também o
colega de equipa Custódio Pinto. Duo que assim jogou nesse dia do jogo nas Antas, em que os responsáveis dessa vez abriram uma exceção ao
normal escalonamento da época e como tal incluíram dois jogadores do FC
Porto como titulares. Enquanto outro elemento do FC Porto, o guarda-redes
Américo, ficou como suplente. Quando o guardião da baliza do FC Porto nesses
tempos e inclusive na mesma época ia em grande no Campeonato Nacional, como guarda-redes
menos batido (a pontos de ter sido vencedor da Baliza de Prata em 1963/64 e
triunfador de muitos mais galardões individuais desde 1961/62 e pelas
sucessivas épocas adiante). Acrescendo referir que mesmo assim Nóbrega foi
selecionado porque Simões do Benfica, o habitual extremo-esquerdo da Seleção,
estava lesionado, ao tempo. Como foi mesmo referido no jornal O Porto, em peça
publicada na edição seguinte de 25 de novembro, que para aqui se transporta
como elucidação, à posteridade.
Depois disso, e mesmo assim apesar disso, foram escassas as oportunidades de Nóbrega
jogar pela Seleção A, raramente sendo selecionado. Incluindo o caso de ter
estado no lote dos escolhidos para a fase final do Mundial de 1966, mas acabou
por ser excluído do grupo dos 22 da campanha dos Magriços. Porque nesses tempos
do sistema BSB, das presidências federativas alternadas entre Benfica, Sporting
e Belenenses, os dois clubes principais de Lisboa dividiam entre eles a maioria
dos escolhidos para as Seleções, incluindo uns poucos ainda do Belenenses,
ficando os futebolistas do FC Porto ou como suplentes ou excluídos e esquecidos,
simplesmente e tão só com uma vez por outra de chamadas episódicas. Tendo nesse
plantel dos Magriços sido ainda e apenas também escolhidos um do Vitória de Setúbal, o
Jaime Graça, porque já estava apalavrado para ir para o Benfica, e outro do Leixões, o
Manuel Duarte, que já assinara pelo Sporting… Havendo então com essa chamada de
Manuel Duarte ficado o Nóbrega de fora, excluído quando até já lhe tinha sido
feito o fato oficial. O mesmo tendo acontecido com Atraca, convirá frisar ainda e sempre, também.
= Nóbrega no lote dos “Magriços Pré-Selecionados”, antes da definitiva seleção, em que depois saíu ele e Atraca, do FC Porto… Pose de conjunto em estágio antecedente à ida da “embaixada portuguesa” para Inglaterra.
Isso, tal como já depois em Inglaterra, durante o Campeonato do Mundo de 1966, aconteceu com Américo e Pinto, que não jogaram. Apenas Festa teve essa honra, dos 3 Magriços do Porto, quase como compensação, ao género de terminação duma lotaria. Tendo-se notado que a titularidade do guarda-redes José Pereira se deveu por ser então do Belenenses, clube do regime presidencialista BSB e como tal teve 2 representantes entre os 22 Magriços. Curiosamente a seguir ao Mundial-66, quer José Pereira como Manuel Duarte tiveram ocasos de carreira, tendo o guarda-redes belenense deixado de ir à Seleção e de seguida passado a jogar na 2.ª Divisão, enquanto Manuel Duarte não passou de suplente no Sporting.
Algo que ficou no silêncio dos deuses por ser tempo de censura oficial, na era do Estado Novo de Salazar. A ponto de mesmo Nóbrega ter sido comedido, quão se entende, em apreciação feita à posteriori (no segundo livro que lhe foi dedicado na coleção “Ídolos do Desporto)…
Por estas e outras se entende como Nóbrega, o autor do golo da
vitória da final da Taça de Portugal de 1968 e extremo esquerdo icónico
do FC Porto, tivesse tido tão poucas chamadas às Seleções de Portugal, como se pode
ver por seu currículo.
Nóbrega foi então o 37.º Internacional do FC Porto na Seleção
A Nacional, tendo alinhado pela primeira vez na Seleção principal de Portugal
quando haviam jogado na Seleção 36 seus antecessores do FC Porto, dos atuais
122 que entretanto somam na galeria dos Internacionais Portistas de Seleção A
Portuguesa.
Armando Pinto
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