Em “caps lock”, maiúsculas. Um país centralista, controlado e monopolista, plasticamente unificado debaixo de uma fé que dizem ser de seis milhões. Todo um país adiado em segredo debaixo da asa, guardado para a dissolução de identidade e altamente susceptível a fissuras e contracturas de carácter. O país que pensa o seu ordenamento regional como vão de escada e executa a rede fina do território como largo pano de limpeza da capital de império, uma terra adiada.
Este país que justifica três agências europeias em Lisboa para que nesta cidade se construa uma escola europeia contrariamente à esmagadora realidade europeia, um país que já não dá nenhuma lição de coesão ao território. Um país que centraliza a Comunicação Social para as palmadas nas costas ao centralismo mais serôdio, que joga todos os interesses na acumulação de poder pelas fichas do poder instalado, que adia a regionalização e as eleições directas para as áreas metropolitanas com medinho que os – por agora – pequenos poderes decidam e se agigantem. Um país que vai de padre em missa até criar uma geração de ateus. Uma espécie de pena da capital: parece que este país é mas foi-se.
Uma das piores emanações do pensamento único sangra pela doença da comunicação. A precursora da pós-verdade é a demagogia da verdade única, a que cria justificações atenuantes para a guerrilha. Actualmente, a comunicação que ousa sobreviver fora da portugalidade de Lisboa é exclusivamente o poder da denúncia. No futebol, escândalos que envolvem os esquemas de poder são tratados diferenciadamente, consoante a ditadura das camisolas. Antes, no apito dourado a azul e branco que o regime colou a dois ou três clubes a norte, teceram-se teias e argumentos de novela, escreveram-se livros mandados e filmes sem assinatura, pararam-se convenientemente as investigações em Leiria. Capas de jornais, pássaros em alvoroço, anos a fio de patética superioridade moral à custa de uma realidade que era transversal ao futebol português mas que passou a ser uma assinatura patética do centralismo do império na tentativa de subjugação dos poucos poderes que não detinham. Uns foram primos, outros escutados.
Entretanto, os esquemas de possível corrupção do actual poder são tratados como notas de rodapé e a afirmação de força faz-se pela anedota do cigarro electrónico e saliva nos regulamentos da Liga. Tudo se consegue. A boa notícia dentro da notícia é que nada ficará igual quando toda a gente conhece os factos quando eles até jogam futebol directo. Escuto, agora vejo. Como é trivial em psicologia clínica, basta fazer “role-play”. Imaginemos que a outros eram atribuídas frases acerca de padres-e-missas-e-escolhas-e-ordenações-e-rezas-e-cânticos, cruzadas com afirmações sobre quem manda e sobre com quem nada manda mas ainda nem percebeu. De que cor seria a tinta a correr na comunicação da capital do império e de quanto sangue-tinta se fariam manchetes, livros e filmes? Ninguém titularia “agora apague tudo” para que tudo ficasse igual.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
MÚSICO E ADVOGADO