Dez vigarices proferidas por Pedro Guerra, ontem, no Prolongamento:
1. “O que se discute aqui é corrupção. Tudo o resto é treta”. Não é verdade. Discute-se um conjunto de emails que indiciam um esquema de corrupção, sem dúvida, mas também uma série ações que correspondem indiscutivelmente a atos de “exercício e abuso de influência” (artigo 61º do Regulamento de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol) – que, sendo consumados, implicam a descida de divisão do Benfica; e, não o sendo, têm como consequência, ‘apenas’, a perda de pontos. A intenção de Pedro Guerra ao focar o seu discurso apenas na acusação de corrupção, um crime mais difícil de provar, é muito clara: desvalorizar e tentar desviar as atenções sobre casos abundantemente provados que, só por si, já acarretam sanções desportivas graves.
2. “A minha vida é transparente. Ando de cabeça levantada.” A vida de Pedro Guerra não é transparente. O passado persegue-o em relação a todas as etapas da sua carreira profissional. Enquanto jornalista, foi um exemplo do que não se deve fazer no exercício dessa profissão, fomentando relações ilegítimas com setores da justiça e desrespeitando regras elementares do Código Deontológico (como a audição das partes envolvidas nas notícias – algo de que, suprema lata!, se queixou ontem em relação ao Expresso). Enquanto assessor de Paulo Portas, procurou condicionar o livre exercício do trabalho jornalístico e da formação da opinião pública, não convocando para conferências de imprensa profissionais que considerava mais incómodos e fomentando a participação de pessoas próximas em fóruns como os da TSF e da SIC Notícias com intervenções pré-programadas a favor do seu amo. Enquanto assalariado do Benfica, esforça-se por tornar opaca a sua relação profissional com o clube: repete frequentemente que não é funcionário do Benfica, quando é público que ocupa funções editoriais relevantes na BTV há vários anos. Há alguma coisa de transparente nesta vida?
3. “Eu não sou porta-voz do Benfica. Tudo o que eu disser responsabiliza-me a mim.” Enquanto diretor de conteúdos da BTV, Pedro Guerra é, no mínimo, um “colaborador” do Benfica. Isso é suficiente, à luz do Regulamento de Disciplina da FPF, para que aquilo que diz acarrete responsabilidades para o Benfica: “O clube é responsável pela atuação dos seus dirigentes, representantes e colaboradores, bem como qualquer funcionário a si vinculado.” Ou seja, aquilo que Pedro Guerra diz no Prolongamento pode ter relevância disciplinar e conduzir a penalizações ao Benfica, bastando para isso que as suas declarações visem exercer ou abusar, de forma direta ou indireta, de qualquer influência.
4. “Ninguém tem o direito de saber como é que eu me preparo para os programas.” Mentira. Quando essa preparação envolve contactos que indiciam comportamentos ilegítimos e potencialmente lesivos da verdade desportiva, como é o caso, os contactos de Pedro Guerra têm relevância pública. Para além disso, ninguém se esquece de que foi o próprio Pedro Guerra, há bem pouco tempo, a divulgar emails que na, sua ótica, eram representativos da forma como os comentadores do Sporting se preparavam para os programas, sendo inclusivamente revelados os endereços eletrónicos das partes envolvidas.
5. “Não falo com pessoas que estão no ativo [no âmbito da preparação dos programas].” Mais uma mentira. Estão documentados contactos de Pedro Guerra com Nuno Cabral, à época delegado da Liga, em 2014 – basta consultar a última edição do Expresso.
6. “Os clubes tinham o direito a contestar a nota. Foi o que aconteceu [a propósito da notícia do Expresso].” Pedro Guerra mente e sabe que mente. O email em que Luís Filipe Vieira diz que “temos de dar-lhe cabo da nota”, de acordo com o Expresso, foi redigido no próprio dia do jogo. Ou seja, o Benfica ainda nem conhecia a nota que, supostamente, ia contestar! O que se passou, portanto, não foi uma simples reclamação de uma nota considerada injusta. Foi, à partida, um ato de deliberado condicionamento de um árbitro – independentemente de a avaliação ser justa ou não, o Benfica não deixaria de exercer a sua influência para prejudicar Rui Costa.
7. “O Expresso nem contacta os visados. Eu também já fui jornalista, conheço bem o Código Deontológico.” Não é preciso repetir o que já dissemos sobre o exercício da profissão de jornalista por Pedro Guerra, pois não? Quem ainda tiver dúvidas pode consultar o artigo do Observador de 9 de maio de 2016: http://observador.pt/especiais/pedro-guerra-vida-do-benfiquista-colecciona-inimigos/.
8. “A RTP Informação, a Norte, é um braço armado do FC Porto”. Suprema lata! A figura tutelar da RTP3, no Norte, é o fanático benfiquista Carlos Daniel. O responsável, por exemplo, pela contratação de João Gobern como suposto “comentador independente”. O responsável, mais tarde, após João Gobern ter sido despedido por, no exercício das suas funções de “comentador independente”, ter festejado um golo do Benfica em direto, pela integração desse cartilheiro no painel do Trio d’Ataque, como representante do Benfica. Alguma vez, com Carlos Daniel presente na redação, a RTP3 poderia ser um braço armado do FC Porto?
9. “Eu não sei esses emails são verdadeiros”. Pedro Guerra sabe perfeitamente que os emails são verdadeiros. Por isso é que não diz que são falsos. Ponto.
10. “Os quatro títulos do Benfica foram conquistados no campo.” É a cereja no topo do bolo. A suprema hipocrisia. O homem que sabia que o Benfica tinha a possibilidade de escolher árbitros para os seus jogos tem coragem de dizer isto. O homem que sabe que quem prejudica o Benfica é penalizado. O homem que diz que o Benfica não tem razões de queixa da arbitragem. O homem que sabe que a tão elogiada estratégia do Primeiro-Ministro Luís Filipe Vieira, como o próprio não teve qualquer preocupação de esconder há alguns anos, passa pelo controlo dos bastidores do futebol português. Este homem a lata de dizer que os títulos do Benfica são conquistados no campo. Só lhe podemos louvar a coragem de se expor desta forma ao ridículo.