Em 1933, o FC Porto bateu o Benfica por 8-0 e elementos da equipa lisboeta agrediram o delegado ao jogo
O primeiro corte de relações entre FC Porto e Benfica consumou-se em 1933, sendo este o princípio de uma rivalidade incontornável, que se arrasta até aos dias de hoje. Passaram mais de 82 anos e alguns pormenores já se terão perdido no tempo, mas, em véspera de mais um clássico, importa recordar uma história rocambolesca, que começou com um 8-0, a 28 de Maio de 1933: com golos de Valdemar Mota (três), Acácio Mesquita (três), Lopes Carneiro e Carlos Nunes, os Dragões batiam os lisboetas na primeira mão dos quartos-de-final do Campeonato de Portugal, no Campo da Constituição.
O jogo foi dirigido por um árbitro espanhol (Pedro Escartin), “importado” do país vizinho, tal como viria a acontecer na segunda mão. A partida foi limpinha, sem casos nem contestações: a superioridade portista ficou espelhada no marcador e esta goleada continua a ser a maior que o FC Porto infligiu ao seu rival. Um clássico que se preze já então dava faísca e, instantes depois do apito final, o delegado ao jogo e dirigente da Federação Portuguesa de Futebol, Laurindo Grijó, fez por cumprir os seus deveres e dirigiu-se ao balneário do Benfica, procurando saber se os jogadores necessitavam de alguma coisa.
De nervos à flor da pele, acusaram-no de não lhes ter comunicado a alteração da hora do jogo e de os ter ignorado durante a estadia na Invicta. Após uma violenta discussão entre Manuel da Conceição Afonso, então presidente do Benfica, e Laurindo Grijó, este último foi agredido pelo atleta Guedes Gonçalves e descreveu tudo no relatório, analisado posteriormente em reunião extraordinária da Federação. A sentença foi clara: suspensão temporária de alguns prevaricadores, como Eugénio Salvador, Ralf Baião e Manuel de Oliveira, este com proposta de irradiação. Por sua vez, Francisco Albino, Rogério Sousa e Francisco Gatinho apanharam seis meses de suspensão.
Em comunicado, o Benfica confirmou o nome do agressor, Guedes Gonçalves, que três meses depois foi suspenso por seis meses. Eugénio Salvador ficou-se pelos 30 dias e Ralf Baião foi considerado expulso por ter agredido Laurindo Grijó, enquanto os presidentes de FC Porto e Benfica recebem um voto de censura. Os dois clubes cortaram relações até 29 de Dezembro de 1935, data em que se realiza um amigável no mesmo Campo da Constituição, com vista à reaproximação entre ambos, que aguenta apenas três anos.
Na segunda mão, disputada no Campo das Amoreiras, os lisboetas triunfaram por 4-2, um resultado insuficiente para anular a goleada da primeira mão. Nem com entradas violentas – o capitão Vítor Silva foi mesmo expulso por entrada sobre o guardião Siska – se anulou a vantagem portista. Para história do FC Porto fica a equipa de 28 de Maio de 1933: Siska, Avelino Martins, Jerónimo de Sousa, Zeferino, Álvaro Pereira, Joseph Szabo (treinador que se viu obrigado a jogar em virtude da lesão de Castro), Lopes Carneiro, Valdemar Mota, Acácio Mesquita, Pinga e Carlos Nunes.
NOTA: Texto baseado em O princípio de uma rivalidade incontronável, da autoria de Luís César, publicado na Dragões de Janeiro de 2008.
Fonte: FCPORTO.PT