“Fim de ciclo do FC Porto” e “hegemonia do Benfica”. Quantas vezes, nos últimos anos, temos sido intoxicados com estas expressões? Quantas vezes nos quiseram vender que os plantéis do Benfica, os treinadores do Benfica, os dirigentes do Benfica, a estrutura do Benfica são agora, de longe, melhores do que os do FC Porto? Quantas leituras foram feitas dos últimos quatro títulos do Benfica que serviram para nos achincalhar e para exaltar as gloriosas virtudes de quem manda pelos lados de Carnide? Pois bem, ontem, no Porto Canal, ficámos a perceber tudo. Aquilo de que muitos suspeitavam é agora uma certeza plenamente fundamentada: o Benfica é tetracampeão assentando uma dose significativa do seu sucesso num esquema de controlo da arbitragem.
Os emails trocados entre Adão Mendes e Pedro Guerra, ontem divulgados no Universo Porto da Bancada, poderão ser a matéria mais grave alguma vez revelada sobre o futebol português. Muito mais do que as escutas do Apito Dourado, os documentos do football leaks, as cartilhas do Benfica ou a gravação ilegítima de uma conversa entre Bruno de Carvalho e um conjunto de jornalistas.
Importa ter bem presentes quem são as figuras envolvidas. Adão Mendes é um antigo árbitro da primeira categoria (curiosamente conhecido como “o árbitro vermelho”…), que teve várias responsabilidades no mundo da arbitragem nas últimas décadas: para além de observador, integrou o conselho de arbitragem da Associação de Futebol de Braga, sendo um dos principais impulsionadores, por exemplo, da carreira do árbitro Manuel Mota… Hoje em dia, tanto quanto se sabe, trabalha para o Benfica. Também para a turma de Carnide trabalha Pedro Guerra, famoso antigo jogador do Damaiense, comentador televisivo e diretor de conteúdos da BTV. É, acima de tudo, um dos principais operacionais da comunicação terrorista e fascista que o Benfica tem promovido ao longo dos últimos anos.
O que nos revelam, então, os emails trocados entre Adão Mendes e Pedro Guerra?
1. À data (época 2013/2014 – a primeira do treta), existia um conjunto de árbitros apadrinhados pelo Benfica: Jorge Ferreira (também conhecido como “o benfiquista de Fafe), Nuno Almeida (também conhecido como “Ferrari vermelho”), Manuel Mota, Vasco Santos, Rui Silva, Hugo Pacheco, Bruno Esteves e Paulo Baptista.
2. De acordo com estes dois avençados do Benfica, esta estirpe de árbitros resulta de um trabalho desenvolvido ao longo de anos pelo “primeiro-ministro” Luís Filipe Vieira (uma expressão que dá bem conta do poder alcançado por esta figura: à escala do futebol português, é um dono disto tudo). Graças às suas capacidades para “ouvir, pensar, astúcia nas decisões e amor ao Glorioso, (…) hoje o SLB manda mesmo e os outros já não mexem nada”. Numa expressão muito feliz, o diretor de O JOGO José Manuel Ribeiro chama este trabalho um processo de “apuramento da raça”.
3. Acrescenta Adão Mendes: “O resto vem por acréscimo”. Pois veio. Foram quatro campeonatos.
4. E corrobora Pedro Guerra: “Se ele traçou essa estratégia, creio que só temos de segui-la. (…) E, na verdade, não temos tido muita razão de queixa”. Uma frase que devemos fixar e recordar quando ouvirmos Pedro Guerra, hipocritamente, a criticar arbitragens…
5. Considera ainda Adão Mendes: “Hoje quem nos prejudicar sabe que é punido, e este espaço foi conquistado com muito trabalho do primeiro-ministro”. É preciso alguma assunção mais clara de qual tem sido a estratégia do Benfica para ganhar campeonatos?
6. E conclui o ex-árbitro vermelho: “Vamos ter os padres que escolhemos e ordenamos, nas missas que celebramos, temos é de rezar e cantar bem”. Adão Mendes assume que o Benfica tem ao seu dispor os árbitros que escolheu e formou para as competições em que participa. Isto foi há quatro anos. Todos sabemos o que se passou depois, não?
Ironia das ironias, estes emails só são conhecidos porque “alguém” não acatou a ordem que encerra a última mensagem de Adão Mendes: “AGORA APAGUE TUDO” (assim, em caps lock). Uma frase que diz tudo e que corresponde ao reconhecimento do conteúdo criminoso que circula nos emails entre a estrela do Damaiense e o árbitro vermelho.
Em suma: Adão Mendes, dinossauro da arbitragem e lacaio do Benfica, reconhece a Pedro Guerra, terrorista da comunicação e lacaio do Benfica, que a turma de Carnide, no momento em que inicia a caminha para o único tetra da sua história, tem a arbitragem completamente na mão. Isto é factual. As provas foram apresentadas e estão ao dispor de quem as queira utilizar. Ficamos à espera para ver o tratamento que será dado a esta informação quer pelas autoridades, quer pela imprensa do regime.
Texto: Baluarte Dragão