“No autocarro eu queria muito ir lá para trás, queria muito ir para o “U”. Na parte de trás os bancos estavam em “U” e tinham um mesa no centro e era onde ia a velha guarda. Ali é que se passavam as coisas.
Ali é que eram as conversas boas, as tangas, o riso. E tinha uma cortina. Só o facto de ter uma cortina já suscita uma curiosidade terrível. Os treinadores não entravam, ninguém entrava ali, era sagrado. Aquilo era dos jogadores. O primeiro treinador que entrou ali, pediu autorização.
Foi o José Mourinho. Sentou-se connosco a comer e a beber depois de um jogo. Mas antes mandou o roupeiro lá acima perguntar ao Jorge Costa se podia juntar-se a nós. Porque era sagrado. Era o covil. O covil dos Dragões era ali. Chegou lá disse para o encararmos como um jogador e que só no dia seguinte, no treino, é que o encaravamos como treinador outra vez. Começou a conversar e rapidamente percebemos que estava a ser genuíno. E eu andava sempre por ali, encostava-me junto ao “U” e eles diziam: “Ó miúdo estás mortinho para vir para aqui”.
O Jorge Costa, o Secretário, o Paulinho Santos, o Domingos, o Aloísio, o Deco, o Baia, o Capucho… E eu, sorria e dizia: “Quando houver um espaço…”. O Jorge Costa era o único que podia ir com os pés esticados. Ele ocupava dois lugares, um dos lugares estava “morto”, era onde ele levava as pernas esticadas. Um dia disse: “Ó miúdo queres vir para aqui? Se queres vir para aqui tens de levar com estes ramalhetes em cima”. “Não faz mal”, disse eu.
Andei mais de uma época a fazer viagens de 300km com aqueles dois presuntos em cima das minhas pernas. A viagem toda, só para ir ali, nem mexia. Era um privilégio. Tenho pena de não ter fotos disso.
Diziam que eu era as pernas do Bicho. Eu ia ali todo contente.”