É verdade, os portistas não esquecem, a primeira impressão é a que fica e a nossa primeira impressão de ti não nos larga.
Ainda não tinham secado as lágrimas pela saída de Jackson Martínez, Osvaldo e Bueno não correspondiam, toda a nossa fé estava nas mãos (ou, melhor dizendo, pés) de Aboubakar. Num lado brilhava Suk, no outro brilhavas tu. Um jogador muito potente fisicamente, com 15 golos em 34 jogos e uma elevada percentagem de remates enquadrados. Ambos rumaram ao Dragão e ambos desiludiram.
Nos primeiros jogos de Dragão ao peito: 1 golo em 13 jogos, para desalento dos adeptos. Faltou tudo. Nem golos nem qualquer tipo de magia.
No entanto, floresceste em Guimarães. Talvez não tivesses sido feito para o topo da tabela classificativa. Fosse como fosse, na cidade berço evoluíste duma forma visível a léguas. Até que apareceu aquele cartão vermelho frente ao Nacional que pelos vistos te deu a ideia que não podias continuar naquele estado de graça e a partir daí foi sempre a descer. Ainda assim, ficaram aqueles 14 golos e 9 assistências em 31 jogos.
Fosse sorte, destino ou qualquer outra coisa, as limitações que Sérgio Conceição enfrentava ou o bichinho que ficara de te ver brilhar em Guimarães, o certo é que voltarias ao Dragão, destinado ao banco de suplentes. E, mais uma vez, fosse sorte, destino ou qualquer outra coisa, a lesão de Tiquinho passou-te a titularidade. E desta vez, sem ninguém saber muito bem como, as estrelas alinharam-se, Sérgio Conceição baseou o modelo de jogo nas vossas falhas e as coisas começaram a funcionar.
Não tens um talento digno de quem vem veio de outro mundo. Não vieste de outro mundo. És do nosso mundo. És como nós. O teu futebol não me deixa babada. Não tens um toque de bola apaixonante. Não tens um controlo de bola capaz de deixar qualquer um delirante.
Não tens futebol para mover mundos. Não há mínimo problema em enumerar jogadores com futebol mais apaixonante do que o teu. Há quem te intitule de “Lord”, qualquer elogio é acompanhado por um traço de humor. E, no entanto, fim de semana após fim de semana, damos por nós a festejar golos teus.
Não nos apaixonas, não tens futebol suficiente para idolatrar, mas és quem nos vai dando alegrias. Não é talento inato, não és um Messi que tem o jogo no seu sangue. Mas tens o jogo no teu coração. Não é natural, é trabalhado. O talento que te falta compensas com trabalho e esforço. Com deuses Brahimi’s na equipa, que transpiram futebol, nos apaixonam a cada toque na bola, dou por mim a admirar-te. Provas que, com esforço e dedicação, tudo (ou aquilo que realmente importa) se faz e mereces ver esse trabalho reconhecido.
Que continues este trabalho incrível que tens feito, que não me faças engolir todos os elogios que te faço. Mas mais importante, que continues a ser capaz de ajudar a equipa na luta pelo campeonato que tanto desejamos!
Texto de: Beatriz Silva em bolanarede.pt