Há uma grande diferença entre falhar objetivos e falhar promessas. Falhar objetivos acontece todos os anos, desde não conquistar um título a não ganhar um jogo contra um adversário inferior. Pode acontecer pelos mais diversos motivos: adversário superior, uma bola no poste, arbitragem, um dia de manifesto azar…
Acontece. Todas as equipas têm que traçar objetivos, e já sabem que não os vão cumprir todos. Com as promessas, é totalmente diferente. O FC Porto não é um clube de promessas de resultados. O próprio Pinto da Costa o disse, vários vezes, que «nunca prometi títulos». É preciso ter um estofo/confiança enorme para conseguir fazer e cumprir promessas.
Um exemplo? José Mourinho. «Em condições normais vamos ser campeões. Em condições anormais… Também vamos ser campeões!» Muita audácia, mas algo fácil de proferir: ele sabia que era o melhor, que o FC Porto tinha o melhor plantel, que era superior à concorrência e que estava num contexto favorável. Mais difícil foi ter dito, quando chegou ao FC Porto, que em 2002-03 ia ser campeão. Inteligente: tal deu-lhe margem para reduzir a pressão para o que restava de 2001-02 e motivou as tropas para algo mais que uma época que já se encaminhava para um ano sem títulos.
Bem diferentes foram, por exemplos, as promessas de Paulo Fonseca ou Lopetegui. Ao contrário do que aconteceu com Mourinho, foi em momentos difíceis, já sob muita contestação (mas nenhum deles a 7 pontos do Benfica antes de dezembro), que deixaram afirmações que podiam ser vistas como destemidas e determinadas, mas que acabaram por soar a desespero. A confiança cega de que o FC Porto ia ser campeão e a garantia, sem qualquer dúvidas, que o FC Porto ia chegar ao título. Não funcionou e ambos saíram antes do fim da época.
Nuno Espírito Santo, ao mau momento da equipa, respondeu com a promessa de que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. Falhou. Uma coisa é gerir mal uma substituição, ter um mau resultado e estar completamente descolado da política (?) assumida pelo clube em relação à arbitragem. Outra é falhar uma promessa. Nuno podia ter dito que acreditava que os golos iam aparecer, que o objetivo era ganhar, que acreditava na evolução da equipa. Podia ter dito mil e uma coisas. Mas preferiu prometer que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. A equipa falhou, o treinador falhou.
Nuno Espírito Santo já é, à 11ª jornada, o pior treinador da era Pinto da Costa no que à distância em relação a Benfica e Sporting diz respeito. Ninguém tinha expetativas realistas de que o FC Porto fosse favorito/campeão com Nuno Espírito Santo – só se pode desiludir quem primeiro se iludiu -, pois nunca fez/mostrou nada que o recomendasse como resposta para o ciclo de 3 anos sem títulos, mas os resultados estão a ser um pouco piores do que o expetável. Não necessariamente por à 11ª jornada já ter perdido 11 pontos, mas por já estar a 7 de pontos de Benfica e 2 de Sporting, já depois de ter recebido o Benfica no Dragão.
Esta não é uma época para almejar ao título (quem contrata NES e gere a pré-época/plantel da forma que o FC Porto o fez desde julho, não pode pensar em ser campeão – ou então ainda não percebeu que acabou a era dos campeonatos em piloto-automático), mas era ponto de honra estar na luta até ao fim, tentar pelo menos a entrada direta na Champions e reabilitar o espírito Porto. O que conseguimos, depois do empate em Belém, foi deixar Nuno Espírito Santo numa posição ainda mais fragilizada. Será ele o máximo responsável se o FC Porto terminar mais uma época sem títulos? Não, de todo. Mas só uma pessoa prometeu que o FC Porto ia ganhar ao Belenenses. Se bem que os adeptos portistas já mostraram ter grande tolerância e estômago para promessas falhadas nos últimos anos.
Iván Marcano e a defesa (+) – Não é pela defesa que o FC Porto tem comprometido nas últimas semanas. Muito simples: em 10 jogos, a equipa sofreu 2 golos. Não deve haver muitas equipas com uma média similar. Os adversários não deixam de ter as suas oportunidades (o Belenenses fez mais remates à baliza do que o FC Porto), mas o facto é que o FC Porto tem sofrido pouquíssimos golos. E quando assim é, basta meter uma bola naquele cada vez mais estranho rectângulo ao FC Porto para ganhar o jogo.
Neste excelente momento defensivo, Iván Marcano merece todo o destaque. Porquê? É o denominador comum entre este bom momento na proteção da baliza e a época 2014-15, na qual o FC Porto teve a melhor defesa de toda a Europa. Marcano conseguiu-o com um low profile de quem chega, faz o seu trabalho, cumpre, vai para casa e só voltam a aperceber-se da existência dele em campo. E nem com a braçadeira no braço destoa. Se calhar só é capitão porque não há melhor e só joga porque não há melhor. Certo é que ninguém tem feito melhor do que ele. Nem no FC Porto nem pela Europa fora: 10 jogos, 2 golos sofridos, apenas um cartão amarelo e uma média de apenas uma falta a cada dois jogos. Com Marcanos, se calhar, dirão que não se ganham jogos ou campeonatos. Ou então sim, se alguém lá na frente meter a bola na porra da baliza, pois lá atrás não tem havido problema.
Piorar (-) – Sai Jota, entra Depoitre. Sai Óliver, entra André André. Sai Otávio, entra Varela. Três alterações, todas elas com algo em comum: o jogador que saiu é superior ao que entrou, e o que entrou não está num momento de forma que lhe permita ser o 12º jogador que vai desbloquear o jogo. O BES tinha o banco mau e o banco bom. NES só tem um banco mau.
O problema tem várias raízes. Aboubakar, Bueno, Gonçalo Paciência e Suk foram dispensados para que chegasse Depoitre, que, pasmem-se, custou mais do que estes 4 juntos e não vale um terço de qualquer um deles. O jogador não tem culpa, pois a qualidade e caraterísticas dele estavam à vista de qualquer um. Quando assim é, as dúvidas não devem recair no jogador, mas sim na vista de quem o observou. Mas é curioso que todos se recordam de ouvir José Mourinho dizer que queria muito McCarthy. Jesualdo confessou que queria Falcao. Vítor Pereira afirmou que era Jackson Martínez quem queria. Já NES parece hesitar muito em afirmar que foi ele quem queria Depoitre. Diz que era um jogador que conhecia, que podia ser útil, que estava referenciado, mas tarda em afirmar com a prontidão de Pinto da Costa de que Depoitre é que era «o» 9 mais desejado. Ele lá saberá porquê.
Falta Brahimi, que já nem conta para ir ao banco. Adrián foi titular em Leicester, há dois meses, e desde então nem foi ao banco. Com isto, o ataque do FC Porto fica resumido a todos os jogadores que entraram no Restelo: Varela, Corona, Jota, Depoitre e André Silva. É manifestamente muito curto. Já chamam por Rui Pedro, um passo natural. Mas continua o fascínio por chamar Musa Yahaya ao treinos da equipa principal, mesmo sem que ele tenha jogado um único minuto na equipa B. Não deve ter nada a ver com o facto de ter vindo do Portimonense, não senhor.
O que fazer com a bola? (-) – O FC Porto de Nuno Espírito Santo é alérgico à bola. O que esta equipa mais quer é que o adversário tenha bola, para tentar recuperá-la ainda no meio-campo adversário, com uma primeira linha de pressão alta, e depois meter logo a transição rápida. Não está a funcionar. Este FC Porto constrói zero em posse, zero em progressão, zero em futebol apoiado. É uma equipa que não assume o jogo, à imagem do que NES mostrou no Rio Ave e no Valência, diga-se. Joga no erro do adversário. Mas as equipas que jogam no erro do adversário têm que ter uma coisa: a capacidade de marcar um golo em meia oportunidade. O FC Porto não o está a fazer, de todo, e já lá vão 340 minutos sem golos.
André Silva não dá para tudo. Teve intervenção direta em 43,3% dos golos que o FC Porto marcou esta época. Mas não se pode sobrecarregar um jogador jovem que, como qualquer outro, pode ter um mau momento de forma. E está a tê-lo. Daí que fosse essencial, no início da época, contratar uma alternativa a André Silva. Essa alternativa nunca chegou. Ah, era Depoitre? Sim, Depoitre é de facto alternativa a André Silva: ao André Silva da primeira metade da época 2015-16. Aquele que não jogava na equipa A, basicamente.
O futebol do FC Porto é pobre, previsível, facilmente anulável. Uma equipa que não tem mostrado capacidade para mudar de velocidade no seu jogo. Os extremos não rompem, os avançados têm que apoiar mais do que são apoiados, os médios poucas vezes provocam desequilíbrios na frente, os laterais estão a perder preponderância ofensiva e o FC Porto raramente aproveita bolas paradas. Nada está a ser potenciado do meio-campo para a frente no FC Porto. Os ovos não são os melhores? Talvez não. Mas pedir uma omelete a quem não sabe partir a casca de um ovo é meio caminho andado para passar fome. Mais um ano.
Do próximos 7 jogos, 6 serão disputados no Dragão e um em Santa Maria da Feira. Não dá desculpas para não abrir um ciclo de sete vitórias consecutivas. E neste caso não é preciso promessas: apenas resultados. Perder um destes jogos em casa, diante do público do Dragão, pode ser a sentença que Paulo Fonseca, Lopetegui e José Peseiro conheceram bem recentemente: no FC Porto, qualquer treinador arrisca-se a pagar a fatura dos maus resultados. A sua e a dos outros.