a quinta divisão à Champions em apenas oito anos. Adversário portista devolveu o futebol ao Leste, mas é a equipa mais odiada da Alemanha.
Em 2009, Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull, tinha um sonho para o clube que acabava de adquirir e rebatizar de RB Leipzig: chegar à elite do futebol alemão num prazo de dez anos. Só precisou de oito para, partindo do quinto escalão, ir ainda mais longe e atingir a Liga dos Campeões. É esta, na versão mais resumida possível, a história do próximo adversário do FC Porto na Champions. Mas há muito mais para contar sobre aquele que é o clube mais odiado da Alemanha. Tudo porque esta ascensão se fez às custas dos milhões de uma multinacional que fintou as regras, traindo tudo o que o futebol germânico preza: tradição, identidade e o valor incalculável dos adeptos.
O touro da marca de bebidas energéticas está no símbolo, mas desengane-se quem pensa que o RB do Leipzig é de Red Bull. Na verdade, é a abreviatura de Rasen Ballsport (qualquer coisa como deporto com bola sobre o relva), porque, na Alemanha, é proibido que um clube tenha o nome de uma empresa ou que seja controlado totalmente por ela: só ao fim de 20 anos a apoiar um clube, é que isso é possível, como são exemplos o Wolfsburgo (pertence à Volkswagen) e o Bayer Leverkusen (da gigante farmacêutica). O Hoffenheim à custa da SAP, empresa de informática, também trepou no futebol alemão e ganhou muitas críticas, mas o seu crescimento foi menos artificial do que o do Leipzig, que só foi fundado em 2009 e teve de contornar as questões legais com os sócios a elegerem um presidente.
A história do vice-campeão alemão acaba por misturar-se com a do próprio país. Após a queda do Muro de Berlim, os clubes do Leste, sem investimento, foram caindo até desaparecerem do panorama futebolístico. O Dínamo de Dresden, que venceu nove campeonatos do Leste, está na terceira divisão; o Magdeburgo, com quatro títulos, está ainda pior. Em 2009, o Energie Cottbus foi despromovido e o mapa do campeonato – unificado em 1991/92 – ficou apenas com clubes da antiga RFA, ou seja, do lado ocidental do país. Nesse mesmo ano, Dietrich Mateschitz adquiriu os direitos desportivos do SSV Markranstadt, da quinta divisão, e mudou-lhe o nome para RB Leipzig. A sua empresa adquiriu também os “naming rights” do Zentralstadion de Leipzig e, no ano seguinte, transferiu o clube para a cidade. A Alemanha ainda não sabia na altura, mas acabava de ganhar uma nova potência futebolística.
Em 2011, estava o RB Leipzig na quarta divisão, Dietrich Mateschitz, numa rara entrevista, tentou avisar a navegação. “Estamos a desenvolver o clube com o objetivo de disputar a Bundesliga dentro de três a cinco anos. Também queremos chegar à Liga dos Campeões e ser bem sucedidos aí”, prometeu o dono da empresa que deu asas ao touro… Promessa cumprida, depois de gastos quase 200 milhões de euros em nove temporadas.