Texto do website bancada, segue já a página do facebook AQUI Em 1982/83, no primeiro ano sob a presidência de Pinto da Costa, os dragões protagonizaram o mesmo feito
Pela primeira vez em 36 anos, o FC Porto acabou três jogos consecutivos com dez jogadores em campo. Foi assim na receção com o Rio Ave e nas visitas a Paços de Ferreira e Santa Maria da Feira, com Sérgio Conceição a ver a sua equipa privada de um elemento durante alguns minutos. A última vez que os dragões haviam estado três desafios seguidos nesta situação aconteceu no início da temporada 1982/83, com José Maria Pedroto no comando e Pinto da Costa no primeiro ano enquanto presidente do clube. “Éramos agressivos, mas não éramos maldosos”, assegurou António Frasco, um dos elementos expulsos nessa série de 1982, ao Bancada.
Apesar da vitória por 2-1 no terreno do Feirense, a equipa que vestiu de laranja viu Felipe, autor o segundo golo, receber ordem de expulsão por parte de Fábio Veríssimo, árbitro nomeado para a partida no Estádio Marcolino de Castro. Antes, já Danilo Pereira (contra o Rio Ave, acumulação de amarelos) e Herrera (contra o FC Paços de Ferreira, vermelho direto), ambos em jogos referentes à Taça da Liga, haviam sido enviados para o balneário mais cedo que os restantes colegas.
Em 1982, as três primeiras jornadas do campeonato ficaram marcadas por uma expulsão em cada jogo para o FC Porto. No jogo inaugural, a equipa portista visitou o Portimonense e venceu por 2-1, mas viu o avançado irlandês Mike Walsh ser expulso aos 54′ depois de um desentendimento com Amílcar da Fonseca, que também viu o cartão vermelho. O defesa dos algarvios falou com o Bancada e explicou como tudo aconteceu.
“Eu e o Walsh fomos para a rua. [risos] Foi o primeiro jogo do campeonato e não o vou esquecer. O Portimonense tinha feito uma época espetacular com o Artur Jorge e inicámos a nova temporada com muita ambição. Preparámo-nos muito bem, foram férias a trabalhar. Quando fomos jogar com o FC Porto, eu estava a marcar o Walsh. Há uma jogada em que eu adianto a bola, o Gabriel [defesa do FC Porto] vem para se antecipar e eu fui com o pé por cima. O Walsh veio defender o Gabriel, agredimo-nos mutuamente e fomos os dois para rua. Foram uns empurrões. O árbitro [António Garrido] fez a obrigação dele e expulsou os dois”, disse o antigo futebolista que também representou emblemas como o Estoril Praia ou o Belenenses.
Seguiu-se um clássico com o Sporting nas Antas. Dragões e leões terminaram os 90 minutos com um nulo no marcador, mas Rodolfo Reis recebeu ordem de expulsão ainda na primeira parte, assim como Fernando Festas, defesa do Sporting. Segundo o antigo jogador verde e branco, tudo se passou depois de Rodolfo ter derrubado António Oliveira com uma cotovelada. “Foi uma jogada entre mim, o [António] Oliveira e o Rodolfo [Reis]. O Oliveira sofreu uma cotovelada do Rodolfo, eu vi e dei um soco ao Rodolfo. Fomos os dois expulsos. O árbitro [Raúl Nazaré] resolveu a situação. Viu o Oliveira cheio de sangue e expulsou-nos aos dois. Foi exatamente isto”, contou Festas ao Bancada.
Por fim, na terceira jornada do campeonato, deslocação ao Estádio 1º de Maio para enfrentar o SC Braga. Vitória portuense por 2-1 mas novo jogador expulso. Desta vez foi António Frasco, admoestado com o segundo cartão amarelo em cima do apito final. Ao contrário de Amílcar da Fonseca e Fernando Festas, António Frasco não se recorda do lance que originou a terceira expulsão de jogadores do FC Porto em três jogos, mas deu a certeza que a equipa de José Maria Pedroto, apesar de agressiva, não era maldosa.
“Não me lembro. Sinceramente, não me lembro”, começou por dizer Frasco, que hoje faz parte da equipa técnica dos juvenis do FC Porto, ao Bancada. “Há uma coisa que é verdade: as nossas equipas do sr. Pedroto eram agressivas, mas não eram maldosas. Não havia ali violência. Éramos uma equipa que procurava jogar, ter bola, à imagem do nosso treinador. Éramos agressivos na reação à perda da bola? De facto, éramos, mas não éramos maldosos”, frisou.
Sobre os lances dos cartões vermelhos de Mike Walsh e Rodolfo Reis, António Frasco teve opiniões diferentes. “O Walsh não era um jogador maldoso ou agressivo. O Rodolfo, vá lá… [risos]”, referiu.
Conceição à imagem de Pedroto
Mas, afinal, o facto de o FC Porto voltar a três jogadores expulsos em três jogos é apenas uma coincidência? Fernando Festas admite que sim. “Eram outros tempos, outro mundo, outro futebol. É incomparável. Não encontro nenhuma semelhança no futebol de hoje com o futebol de ontem”.
Contudo, tanto António Frasco como Amílcar da Fonseca realçaram as semelhanças entre Sérgio Conceição e José Maria Pedroto, principalmente na hora de injetar agressividade nas respetivas equipas.
“O FC Porto, neste momento, é uma equipa agressiva mas não é maldosa. Nesse aspeto, vejo semelhanças. Uma equipa agressiva, que quer ter posse, que quer ter bola, chegar à baliza adversária e fazer golos. Não vejo maldade na intervenção dos nossos jogadores”, disse Frasco, dando ainda mérito ao atual técnico azul e branco por ter dado uma nova vida aos jogadores que regressaram de cedências. “Esta equipa do FC Porto é uma equipa que tem jogadores que regressaram de empréstimo e parece que têm mais qualidade, são mais agressivos e querem marcar golos. Nesse aspeto, o Sérgio Conceição mostra uma diferença muito grande para com as equipas de há um ou dois anos”, elogiou.
Já Amílcar da Fonseca foi ainda mais longe e deixou um apelo para que as restantes formações da Liga adotassem o estilo mais agressivo do FC Porto de Conceição. “[O FC Porto de Pedroto] era uma equipa agressiva como é hoje o FC Porto. Eu gosto da agressividade do FC Porto. Gosto do Sérgio Conceição e acho que as equipas deviam todas jogar com a agressividade que o FC Porto joga. Isso é mentalidade ganhadora. Só ganha quem é agressivo. O futebol é uma modalidade agressiva”, considerou.
Entre 1982/83 e 2017/18, o FC Porto teve várias vezes dois jogos consecutivos com jogadores expulsos. E se alagarmos o âmbito ao banco de suplentes, até teve três, visto que José Mourinho foi expulso em 2002/03, contra o Belenenses, e os dois jogos que se seguiram viram Derlei (contra o Boavista) e Pedro Emanuel (contra o Gil Vicente) com um cartão vermelho. Contudo, essa série não entra para as contas visto que foram apenas dois jogos consecutivos com jogadores expulsos, enquanto em 1982/83 e na atual temporada o registo já chegou aos três. Curiosamente, Pedroto, José Mourinho e Sérgio Conceição são três treinadores conhecidos pela apetência para unir o balneário contra as adversidades.
Temporadas com pelo menos jogos consecutivos com jogadores expulsos desde 1982/83
2017/18: Rio Ave (Danilo), FC Paços de Ferreira (Herrera) e Feirense (Felipe)
2008/09: Dinamo Kiev (Lucho) e Sporting (Pedro Emanuel e Hulk)
2007/08: Schalke 04 (Fucile) e Académica (Mariano González)
2005/06: Sporting (Bosingwa) e UD Leiria (Lucho González)
2004/05: UD Leiria (Benni McCarthy) e SC Braga (Maniche)
2003/04: FC Alverca (Carlos Alberto) e Rio Ave (Ricardo Fernandes)
2002/03: Boavista (Derlei) e Gil Vicente (Pedro Emanuel)
2001/02: Belenenses (Hélder Postiga) e Panathinaikos (Secretário)
1995/96: Sporting (Secretário) e Vitória de Guimarães (João Pinto)
1994/95: Lodzki (Rui Jorge) e Benfica (Paulinho Santos e Yuran)
1982/83: Portimonense (Mike Walsh), Sporting (Rodolfo Reis) e SC Braga (António Frasco)
Fonte: bancada.pt