O Bancada encontrou a explicação para o cruzar de braços de Marega sempre que marca um golo
Em 2012 e já com 21 anos, Moussa Marega jogava no FC Evry dos escalões secundários do futebol distrital de Paris. A sua ascensão meteórica é ainda mais surpreendente se considerarmos o facto de que o maliano, de passaporte, nascido em França, não tem histórico nas camadas jovens. Sem a formação base da grande maioria dos jogadores profissionais, Marega conseguiu tomar de assalto o futebol europeu e brilha agora na maior competição de clubes da Europa. O Bancada fez uma viagem às origens do jogador do FC Porto e descobriu o significado do festejo de Marega quando faz balançar as redes.
Sem ter marcado qualquer dos golos do FC Porto na vitória de terça-feira frente ao AS Mónaco em partida a contar para a segunda jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, Moussa Marega não deixou de ser uma peça fundamental na manobra ofensiva dos dragões. O atacante nascido em França, mas internacional pelo Mali, assistiu para dois golos do FC Porto e esteve ainda envolvido em mais um par de investidas do ataque azul e branco que deixaram em sentido o campeão gaulês.
O percurso de Marega até chegar à cidade Invicta não corresponde, propriamente, ao estereótipo de uma caminhada digna de um atleta destinado a prosperar nos palcos de alta competição. Sem histórico em escalões de formação, foi aos 21 anos que o jovem, nascido e criado nos subúrbios de Paris, se aproximou do futebol de competição e fê-lo ao serviço do modestíssimo Évry FC, dos campeonatos distritais parisienses…em 2012.
A prestigiada publicação alemã Bild já comparou Marega a Jamie Vardy. O ponta-de-lança inglês que liderou o Leicester City ao título de campeão inglês depois de uma ascensão fantástica dos escalões não profissionais de Inglaterra, quando ainda dividia o seu tempo entre a fábrica onde trabalhava e o campo de treinos do clube onde jogava, até ao estrelato e glamour da Premier League.
Esta temporada vimos Marega festejar cinco golos na Primeira Liga portuguesa com o habitual cruzar de braços com quatro dedos abertos numa mão e um na outra. O atacante maliano não esquece as suas origens e pretende, com este gesto, homenagear o bairro onde ficava os dias inteiros a jogar à bola com os amigos. A rua 14.
Marega faz do poderio físico uma das suas principais armas. Há quem o apelide de trapalhão por não ser possuidor de uma técnica apurada, mas consegue ganhar muitos duelos individuais com base na potência muscular e na velocidade. É um aproveitador nato dos espaços entre as linhas defensivas dos adversários o que aliado a capacidade de finalização acima da média o transformam num avançado versátil e com golo nas botas.
O temperamento de pavio curto é algo que o acompanha desde os princípios da sua vida futebolística. O Bancada encontrou alguns antigos colegas de Marega no Évry FC que confirmaram a facilidade com que o atual jogador do FC Porto perdia a cabeça: “É verdade que ele perdia a cabeça muito facilmente”, disse Fabien Delporte, antigo colega de Marega e atual mental coach, que afirma, no entanto, notar uma grande evolução no maliano: “Ele sempre que vem a França vem-nos visitar e reparei que está mudado. Está mais forte mentalmente.”
Aliás, Marega recorre ao amigo sempre que vai a França. Fabien Delporte é criador de um programa de treinos ao qual o avançado do FC Porto recorre com frequência e que nunca dispensa nas suas viagens a França. É o tipo de treino aplicado a bombeiros e tem como objetivo trabalhar a mente e o físico em simultâneo.
Para Marega o jogo frente ao AS Mónaco teve um significado especial uma vez que, tendo sido criado nos mesmo subúrbios de Paris onde cresceram Thierry Henrry e Anthony Martial, nunca atuou na Liga Francesa. Foi ao serviço do FC Porto que se apresentou ao público francês, e de forma categórica.
Veja o vídeo de Marega a treinar com o seu amigo Fabien Delporte
Fonte: https://bancada.pt/futebol/artigo/marega-o-miudo-da-rua-14-que-recorreu-a-um-mental-coach