A história começa com um miúdo contrariado na baliza do Palmeiras e que esteve para desistir porque queria jogar na frente para marcar golos. Só com motivação extra se fez guarda-redes.
Por estes dias, em plena quadra natalícia, José Sá podia muito bem estar ocupado a organizar a missa do galo da igreja de Palmeira, freguesia de Braga e que viu nascer para o futebol o guarda-redes do FC Porto. Os azuis e brancos podem ter um grande guardião, mas a verdade é que também se pode ter perdido um grande chefe escuta pelo caminho.
“Nunca levou o futebol muito a sério e a certa altura queria mesmo desistir e ir para os escuteiros”, conta a O JOGO Bruno Leal, antigo treinador do Palmeiras FC, cuja frase tem todos os sinais naturais de um adolescente que ainda procurava o seu caminho. Um dia, Sá apareceu no campo do Palmeiras com um grupo de amigos para dar uns chutos na bola e depois de alguns jogos veio a cruel realidade. “Como jogador de campo, não teria hipóteses”, conta Bruno Leal.
Pior, sobretudo quando a ideia era divertir-se com os amigos e jogar futebol era apenas mais um motivo para isso. “Não gostava muito de treinar, não era aplicado e era preciso arranjar sempre uma motivação extra”, lembra Leal. Até que experimentou defender a baliza num jogo-treino. “Não vi nas estrelas que ele se podia transformar num grande guarda-redes, longe disso”, acrescenta o treinador. Simplesmente não tinham ninguém para a baliza e Sá até tinha algumas características para o posto. “Tinha uma panca!” conta Leal sem maldade, sorrindo perante as recordações daqueles momentos: “Só podia dar guarda-redes!”
A onda dos escuteiros é que ele não esquecia. “O Palmeiras era uma equipa de cabazadas, mas naquele ano tínhamos um grupo de jogadores com bastante talento e acreditava que podíamos conseguir fazer um bom campeonato. Chegou a dizer que queria mesmo desistir e ir para os escuteiros, e nós não tínhamos mais ninguém para a baliza”, conta. Bruno Leal não se enganara: nessa temporada, o Palmeiras acabou mesmo por se sagrar campeão e com Sá entre os postes. “Queixava-se nos treinos. Um dia prometi-lhe umas luvas e umas botas para o motivar. Ele pediu-me umas luvas como as do Vítor Baía e nós caímos-lhe em cima: “Então tu és do Benfica e queres umas luvas como as do Vítor Baía?” Mas ele apreciava mesmo o Baía, era aquele estilo que o atraía. Ficámos surpreendidos, mas depois percebemos que ele também admirava muito o Casillas e que até começava a ter umas referências na baliza”, lembra.
A irreverência mantinha-se. Queria jogar na frente, marcar golos e fazer a festa. Chegava aos treinos a cantar alto, com um pau na mão, e o treinador deitava as mãos à cabeça: “Era uma criança feliz, mas não era fácil para mim controlar os miúdos. Nos jogos, pedia-me para subir nos cantos, queria marcar um golo, e eu só lhe pedia para que não sofresse nenhum. Numa ocasião, estávamos a golear e ele insistiu tanto comigo que o deixei marcar um penálti.” Foi esse mesmo feitio que levou Bruno Leal a antecipar que a ida para a Luz seria um passo atrás. “Sinceramente, a postura dele em campo e fora dele… encaixava mais no perfil de um clube como o FC Porto”, aponta.
Fonte: Ojogo.pt