No espaço de duas semanas, quanto tinha 22 anos, João Manuel Pinto reuniu com Sousa Cintra, António Simões e Pinto da Costa. Sondado pelos três grandes, decidiu-se pelo FC Porto, o clube onde jogou mais anos, antes de cumprir o sonho de representar o clube do coração, o Benfica. Nesta entrevista revela como foi vítima da guerra entre o empresário José Veiga e Pinto da Costa, fala da sua passagem por Espanha, das boas recordações que tem da Suíça e do título mais especial da sua carreira, já como treinador. Sábado, completou 45 anos. Parabéns atrasados.
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Depois veio o FCP, suponho.
Na semana seguinte, o Veiga liga-me novamente: “Amanhã depois do treino vais para o Porto”. Disse-me só isto. Perguntei-lhe logo se era o Pinto da Costa. Disse-me que não, que era outro clube, era um bom clube. Não me quis dizer nada. E lá fui para o Porto.
A pensar que era o Boavista?
Pensei que podia ser o Boavista ou outro clube do norte de Espanha, porque Vigo é muito perto. Podia ser o Celta de Vigo ou o Tenerife. Chego lá, ele diz-me para ir ter com ele ao café Velasquez, porque toda a gente sabe onde fica. Entro no carro dele, a minha mulher, que tinha ido comigo, teve de ficar. Em três minutos estava dentro do estádio do FCP. E ele continuava a negar: “Nada disso. Já vais ver para onde é que vais”. Subimos no elevador e quando saímos, só me lembro de ter entrado num gabinete que parecia sala de cinema, muito grande. Era muito grande, com uma secretária enorme. Sentei-me. Quando se abre a porta atrás de mim e vejo o Pinto da Costa vir na minha direção… Estamos a falar de uma figura que tinha uma mística à volta dele enorme, era uma figura emblemática. Cumprimentar o Pinto da Costa ou falar com ele não era para qualquer pessoa naquela altura.
E ele?
Muito educado. Perguntou-me se a viagem tinha corrido bem. Depois veio a pergunta da praxe: “Gostavas de vir para o FC Porto?”. “Claro que sim”. E ele “OK. Então tenho isto aqui para ti, quatro anos de contrato. Este é o teu contrato”. Deu-me o contrato para a mão. Olhei para aquilo e era muito dinheiro. Olhei para o Veiga: “O que é que eu faço? Isto é mesmo para eu assinar? Isto é mesmo verdade?”. Disse mesmo assim. Toda a gente sabia que o presidente era muito brincalhão. E o Pinto da Costa: “E tens mais isto”. E dá-me um envelope para a mão, com dinheiro. “Este envelope é para tu gastares no que quiseres. Olha, vai comer camarão”. Lembro-me perfeitamente: “Isto é para ires comer camarão”.
Era muito dinheiro?
Era. Para aquela altura era. Não sei fazer bem as contas, mas acredito que aos olhos de hoje o que estava dentro do envelope era um valor de mais ou menos 2000, 2500 euros. Não me lembro do valor, lembro-me que era muita nota. Olhei para o contrato e eu não percebia nada daquilo, só queria ver era os números, queria saber era o ordenado. O Veiga olhou para mim: “Estás à espera de quê”. “Eu? Nada”. Pedi uma caneta ao presidente e assinei. A única coisa que ele me disse foi: “João, isto não é para sair cá para fora. Isto é segredo. Aqui na minha casa é tudo segredo, é tudo blindado. No dia em que quiseres falar para a comunicação social, eu é que te digo quando é que deves falar. Sou eu que te digo quando é que podes comunicar que és jogador do FC Porto”. Foram as palavras dele. E assim foi.
Uma abordagem diferente dos rivais.
A forma como o FCP trabalhava na altura era muito diferente dos outros, por isso é que contratava os melhores. Chegavas ali e não havia cá conversa. A conversa era ou queres vir para o FCP ou não queres vir para o FCP. Se queres, está aqui, nem discutiam. E tu olhavas para aquilo e o que é que pensavas? Eu não posso estar dependente de um clube como o Benfica ou como o Sporting, que não sei se vou ou não, mostraram interesse, mas não disseram: “Embora, está aqui, vamos já assinar”.
Leia a entrevista completa em: Tribuna Expresso