Este era o quadro de André Villas-Boas. Os portistas não souberam que ele existiu até à altura em que foi, orgulhosamente, exposto no Museu do clube.
André Villas-Boas podia ter puxado deste quadro a qualquer altura da época. Depois dos 5×0 no Dragão, a festa bem regada e às escuras na Luz, a reviravolta na Taça de Portugal. Podia tê-lo feito quando o FC Porto se apurou para Dublin, quando de lá chegou, ou quando foi ao Jamor bater uma chapa 6. Nunca o fez.
Villas-Boas tinha o seu quadro. E só tinha interesse em mostrá-lo a um determinado grupo de pessoas: os seus jogadores. Eles é que tinham que perceber o seus objetivos. Villas-Boas não estava preocupado se os adeptos ou a imprensa percebiam o que ele idealizada. Preocupava-se com o essencial: os jogadores.
O quadro de Villas-Boas não vem saído de um manual de auto-ajuda, de um livro de teoria de futebol ou de uma palestra de Luís Campos. O quadro de Villas-Boas é algo que podia ter sido escrito por Pedroto. Objetivos traçados de forma simples e objetiva.
Uma frase do rival, neste caso de Coentrão, a provocar; lembrar a revolta das injustiças sofridas por Hulk e Sapunaru; «envergonhar quem nos fode todos os dias». Uma oportunidade histórica, ser campeão na Luz, bater recordes, e um compromisso mais forte do que nunca. Isto, meus senhores, é algo para ser exposto com orgulho, pois espelha o compromisso entre Villas-Boas e os jogadores nunca época dourada.
Depois temos o quadro de Nuno Espírito Santo. Villas-Boas nunca se sentiu inseguro. Nunca precisou de tentar explicar à imprensa o que ele queria. Não, pois a mensagem passava para os jogadores, e era o suficiente. Villas-Boas não se preocupou em debitar teorias, em inventar regras de três C’s, em desenhar árvorezinhas. Foi cru. Em suma, vamos foder o Benfica. E fodemos.
Passámos de um quadro que lançava o mote para envergonhar o Benfica para um quadro que envergonha os adeptos do FC Porto. Nuno Espírito Santo ainda não percebeu o lugar que ocupa. Ao contrário de Villas-Boas, que manteve o seu quadro entre os jogadores e o treinador, NES mostra-o orgulhosamente. E parece mais preocupado em explicar teorias à imprensa e aos adeptos do que em meter a sua equipa a jogar futebol.
É verdadeiramente absurdo. NES não devia precisar do selo de aprovação da imprensa ou dos adeptos para aplicar os seus princípios. Um bom treinador, um verdadeiro líder, confia nas suas ideias, não sente necessidade de as explicar. Só precisa de as transmitir aos jogadores, e é o suficiente. Devia assumir que por alguma razão ele é que é o treinador do FC Porto, enquanto que outros são treinadores de bancada. A não ser que admita que chegou ao FC Porto pelas mesmas razões que chegou ao Rio Ave. Outros rosários.
Estas apresentações de NES revelam, acima de tudo, a insegurança do treinador no cargo que ocupa. NES sente-se incompreendido e inseguro. Daí que seja, provavelmente, o único treinador da atualidade que se espalha no ridículo de explicar, publicamente, os princípios táticos que quer implementar na sua equipa.
Benfica, Sporting e demais adversários podem poupar o trabalho de enviar olheiros: NES explica-vos tudo o que precisam de saber. Nuno Espírito Santo está a explicar aos adversários como é que o FC Porto joga, ou como é que pretende que jogue. Em parte nenhuma do planeta encontram um treinador que explica aos adversários como é que ele vai jogar. Ah, esperem, Sá Pinto fez isso uma vez. No Sporting. De Godinho Lopes. Que bem correu.
NES parece estar mais preocupado em fazer prevalecer a sua imagem de tipo sereno, politicamente correto, afável e que reúna simpatia por parte de imprensa e adversários do que em efetivamente vencer pelo FC Porto. Uma dica: nunca nenhum treinador do FC Porto teve sucesso a ser simpático e politicamente correto. Nem com teorias acima da competência prática. Não serás o primeiro, Nuno.
Sábado, 20h30, Estádio do Dragão. Deixa o quadro no balneário e mete a prática no relvado. Sentes-te inseguro? Ganha ao Braga. A confiança ganha-se com vitórias e resultados, não com teorias ou com quadros. As únicas aulas que tens que dar não é à imprensa, nem aos adeptos, mas sim aos jogadores. Se de facto tiveres algo para lhes ensinar.
Crónica do Tribunal do Dragão