Nesta nova rubrica do Futebol Portugal, apresento aquele que seria o “onze” ideal de vários clubes, ao longo das décadas de 80, 90, e 00.
São as minhas escolhas pessoais, logo sempre subjectivas. Em alguns casos, deixei de fora “históricos” que nunca me cativaram, e noutros escolhi jogadores em que “acreditava”, mas que nunca conseguiram traduzir o seu talento em rendimento efectivo.
Procurei criar esquemas tácticos realistas, o que nem sempre foi possível: há jogadores com demasiada qualidade para ficarem de fora do “11” ideal.
A década de 80
Melhor Treinador: Artur Jorge
Melhor Jogador: Paulo Futre
É neste periodo que Jorge Nuno Pinto da Costa assume a liderança do FC Porto, com o clube a afirmar-se primeiro “dentro de portas”, e depois ao mais alto nivel internacional, pelas mãos de Artur Jorge e através do inesquecível calcanhar de Rabah Madjer.
Ganhou quatro Campeonatos, duas Taças de Portugal, quatro Supertaças, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia, uma Taça Intercontinental, e foi finalista por uma vez da Taça das Taças.
A equipa da primeira metade da década era constituida por “históricos” como Zé Beto, Lima Pereira, João Pinto, Jaime Magalhães, Sousa, Jaime Pacheco, Frasco, ou Fernando Gomes. A partir de 1985 começaram a chegar ao clube jogadores estrangeiros, numa aposta que se revelou fundamental para o sucesso do FC Porto.
As escolhas para o “onze” ideal da década de 80 do FC Porto serão bastante consensuais, com o destaque a ir para Paulo Futre.
A década de 90
Melhor Treinador: Bobby Robson
Melhor Jogador: Mário Jardel
É nesta fase que o FC Porto assume a liderança incontestada do futebol em Portugal. Venceu sete Campeonatos (incluindo um “penta”), quatro Taças de Portugal, sete Supertaças, chegou por uma vez às semi-finais e por três vezes aos quartos-de-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, e por uma vez aos quartos-de-final da Taça das Taças.
Com a chegada do inglês Bobby Robson, dá-se uma ruptura com o estilo de jogo tradicional dos “dragões”, que deixam de ser uma equipa sobretudo de combate e de contra-ataque (Carlos Alberto Silva é o exponente máximo dessa abordagem), para passarem a practicar um futebol mais ofensivo e com mais qualidade técnica.
Mário Jardel foi o melhor ponta-de-lança que passou pelo futebol português nas três décadas em análise neste artigo, Emil Kostadinov foi o melhor avançado de “contra-ataque” que eu alguma vez vi “ao vivo”, e Zlatko Zahovic o melhor médio europeu em 98/99 (exibições extraordinárias e 22 golos marcados nesse ano). Optei por colocar Sérgio Conceição como lateral-direito, já que apesar de não ser essa a sua posição de origem, actuou muitas vezes desse modo.
Equipa FC Porto anos 90Equipa FC Porto anos 90
Sem espaço no “11” mas com lugal no “meu” plantel: Nélson e Jorge Costa (defesas), Rui Filipe, Doriva, e Capucho (médios), Domingos e Artur (avançados).
A década de 00
Melhor Treinador: José Mourinho
Melhor Jogador: Deco
Esta foi a melhor década da história do FC Porto, vencendo seis Campeonatos (incluindo um “tetra”), quatro Taças de Portugal, cinco Supertaças, uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA, foi duas vezes finalista da Supertaça Europeia, e ganhou uma Taça Intercontinental.
É impossível construir um “onze” ideal que respeite por completo as posições naturais dos jogadores, e esse motivo leva-me a colocar Hulk como um “falso” lateral-esquerdo, já que de outra forma o avançado brasileiro ficaria de fora desta equipa.
A escolha de José Mourinho será unânime, mas não posso deixar de fazer uma referência a Co Adrieense, por ter sido o treinador que mais me impressionou ao longo das três décadas, imediatamente a seguir ao “Special One”.
A qualidade deste “onze” ideal é impressionante. Destaque para o “mágico” Deco, que com a sua batuta guiou a equipa nas memoráveis campanhas de 02/03 e 03/04, e para Maniche, que para mim foi o jogador do mundo com o melhor rendimento em 2004, funcionando como o “motor” de um FC Porto vencedor da Liga dos Campeões, e de uma selecção portuguesa finalista vencida no Euro 2004.
Equipa FC Porto anos 2000Equipa FC Porto anos 2000
Sem espaço no “11” mas com lugar no “meu” plantel: Hélton (guarda-redes), Jorge Andrade, Bruno Alves, Nuno Valente, e Cissokho (defesas), Alenichev, Pedro Mendes, Paulo Assunção, Raul Meireles, Lucho González, Diego, Anderson, Guárin, e Fernando (médios), Benny McCarthy, Lisandro López, e Luis Fabiano (avançados).
As décadas de 80, 90, e 00
Melhor Treinador: José Mourinho
Melhor Jogador: Paulo Futre
Analisando as equipas das três décadas, a conclusão é que a mais forte é a de 00, seguida da de 90, o que acaba por espelhar a evolução positiva do FC Porto ao longo dos anos.
O sucesso do clube teve por base a estabilidade dos orgãos dirigentes, a escolha de treinadores de topo (Artur Jorge, Carlos Alberto Silva, José Mourinho, Co Adrieense), e de jogadores que ao longo da suas carreiras estiveram ao nivel dos melhores.
Ao olharmos para o “onze” ideal do FC Porto nas três décadas, fica evidente o porquê de ter sido um dos clubes do mundo com mais titulos conquistados, e dos que mais facturou com as transferências de jogadores. E não posso deixar de destacar também que dos onze, sete jogaram com a camisola da nossa Selecção.
Equipa FC Porto anos 80, 90 e 2000 Equipa FC Porto anos 80, 90 e 2000
Só um craque “do outro mundo” poderia estar à frente de Mário Jardel na minha escolha para melhor jogador do FC Porto nestas três décadas.
Mas ele existe e chama-se Paulo Futre.
Os leitores mais jovens do Futebol Portugal provavelmente nunca o viram jogar.
Para que possam compreender a genialidade do extremo nascido no Montijo, basta dizer que em 1987, e com apenas 21 anos, ficou em segundo lugar na Bola de Ouro da revista France Football (na altura a FIFA ainda não realizava a eleição para “melhor jogador do mundo”), a apenas 15 votos do “monstro” Ruud Gullit, e com 30 votos de avanço sobre Emilio Butragueño, a estrela do mitico Real Madrid dos anos 80.
Futre pagou caro o facto de se ter transferido nesse ano para uma equipa de segunda linha em Espanha (o Atlético de Madrid, no qual jogou seis anos). O seu talento merecia outros “voos” e estou convencido de que se tivesse dado o “salto” para uma das equipas europeias de topo, teria sido eleito o melhor jogador do mundo várias vezes.
As lesões no joelho direito “mataram-lhe” a carreira aos 27 anos, como reconheceu no seu livro, e o facto de Portugal não se ter qualificado uma única vez para as fases finais dos campeonatos da Europa e do Mundo de selecções durante o seu periodo áureo, foi outro factor a condicionar o reconhecimento internacional da carreira de “El Português”.
Artigo escrito por Sérgio Nunes do SIte: http://futebolportugal.clix.pt/os-melhores-11-das-decadas-de-80-90-e-00-fc-porto/