Uma entrevista a um homem do Porto. O que é ser um homem do Porto?
O Porto é uma cidade muito irresoluta. Muito inquieta, muito irrequieta, sempre a discutir-se a si própria. Curiosamente, tendo uma fortíssima autoestima – há até quem diga que de vez em quando tem a mais -, está sempre a rever a matéria dada, a querer discutir-se.
É uma vantagem?
Como pode ser uma desvantagem. Pode parecer que lhe falta rumo. O caso do Palácio de Cristal é o mais interessante. Quando foi feito, várias pessoas, desde logo Ramalho Ortigão, acharam que era terrível construir um “folly” num jardim inclinado sobre o Douro. Bom, lá foi construído e ali se fez a exposição internacional. Nos anos 50, o edifício foi deitado abaixo para se fazer o pavilhão dos desportos, hoje pavilhão Rosa Mota, e toda a gente ficou a discutir, de novo, a obra. Agora, estamos a promover melhorias e dizem que o melhor seria deitar abaixo e reconstruir. Este permanente questionar é revelador do quanto o Porto gosta de si próprio.
O que o faria interromper o mandato? Uma candidatura à presidência do F. C. Porto?
Quero cumprir o meu mandato. Hoje é a câmara. A partir daí não sei. O F. C. Porto está muito bem presidido. Gosto muito do presidente.
Gostaria de ser presidente do F. C. Porto?
O que vai acontecer daqui a uns anos não sei. Um adepto de futebol quer ser jogador, depois quer ser treinador, depois quer ser presidente. Hoje, sou presidente de câmara com mais três anos de mandato. Terei 65 anos quando terminar o mandato. Tenho livros para escrever, gostaria de voltar a viajar, a fotografar.