Declarações do antigo treinador do FC Porto à saída da AG do clube, que decorreu no Dragão Arena
André Villas-Boas assumiu, na madrugada desta quinta-feira, à saída da Assembleia Geral do FC Porto para aprovação das contas do clube, que vai oficializar a candidatura à presidência do emblema azul e branco em janeiro de 2024.
O ex-treinador do FC Porto destacou ainda a forma positiva como decorreu a Assembleia Geral (AG).
“É uma AG que marca um pouco a história do FC Porto, pela sua positividade, pela crítica aberta e pelo direito à expressão. Que esta seja a sustentação e uma referência de uma Assembleia Geral para o futuro. É o que todos os sócios desejam e foi aquilo que todos os sócios sentiram”, afirmou.
As contas do FC Porto foram aprovadas com 52,3 por cento do votos a favor e André Villas-Boas votou contra. Ainda assim, o ex-treinador defendeu que “o FC Porto saiu a ganhar”.
“Terminou a altas horas da madrugada, mas com o sentimento de um bom portismo, de presença e de uma livre expressão democrática. Penso que o FC Porto sai a ganhar desta assembleia, sobretudo pela democracia desta AG”, acrescentou.
Sobre as contas, Villas-Boas abordou a “falência operacional que é preciso corrigir” no FC Porto.
“Há um acumular de dívida. Os números falam por si e não mentem. O acumulado é de 499 milhões e vem crescendo ao longo dos anos. A direção demonstrou o sentido de tentar melhorar as coisas o mais rapidamente possível. Vem com um acordo que neste momento estará por revelar por parte da atual direção. Parte da injeção de capital e da valorização de uma das empresas do grupo, para a requalificação dos capitais próprios do FC Porto. Será esse o movimento que a direção executará até 31 de dezembro. Há uma falência operacional que é preciso corrigir. A direção está ciente disso e mostrou sinais de que quer melhorar nesse aspeto”, disse ainda.
Em relação à iminente candidatura à presidência do FC Porto, André Villas-Boas garantiu que vai avançar em janeiro do próximo ano.
“Pinto da Costa é o presidente dos presidentes do FC Porto. Mantenho-me convicto para avançar para as eleições e, como disse recentemente, a apresentação de uma candidatura é uma mera formalidade. Os timings da apresentação de uma candidatura só a mim me correspondem. Isso será feito em janeiro”, revelou.
O discurso de AVB na Assembleia Geral
Citação da Dragões: “Saudações portistas para todos. Gostava de iniciar esta intervenção com a citação de um dos membros da Direção aqui presente: ‘A sustentabilidade do negócio do futebol todos o sabemos não é fácil e sofre de imponderáveis vários, mas o FC Porto criou um modelo de negócio para atenuar os efeitos da recessão económica, da crescente dificuldade no acesso ao crédito e, acima de tudo, preparar o clube para o futuro e imposições da UEFA do fair-play financeiro. Estamos preparados, sem abdicar da razão de existirmos, que é vencer troféus, resistirmos sempre à tentação de nos afundarmos em dívidas’. Revista Dragões, outubro 2011. Nessa data a dívida financeira do FC Porto era de 98 milhões de euros e o o passivo total de 202 M€. 12 anos depois a dívida financeira do FC Porto é de 311 M€ e o passivo total de 499 M€. Hoje os capitais próprios atribuídos aos sócios são de 199 M€. Desde 2011 a administração do FC Porto recebeu mais de 27 M€ em remuneração fixa e variável, sem considerar as sempre polémicas ajudas de custo entre viaturas, combustíveis e despesas com cartões de crédito. Como facilmente se constata a citação acima foi ultrapassada no tempo”
Sem visão ou planeamento: “Ao contrário de 2011, hoje estamos profundamente afundados em dívidas, temos a maior parte das receitas antecipadas e estamos em vias de conceder direitos de exploração comercial e respetivas receitas para os próximos 15 anos a uma empresa americana. Não existe visão, nem planeamento, nem um modelo de negócio económico sólido que garanta a sustentabilidade financeira do FC Porto. Ao longo dos últimos 12 anos, o passivo mais do que duplicou com mais de 300 milhões de euros, o que é revelador da indiferença da atual administração para a existência do FC Porto enquanto clube de associados. Lamentavelmente, e em face deste cenário, já não vamos lá apenas com retoques na equipa directiva, que se avizinham, ou recorrendo a meras retóricas comunicacionais, ou ainda com acordos de confidencialidade em contraponto com as mais elementares regras de rigor e transparências e obrigações de uma empresa cotada em bolsa. Pergunto a vossas excelências, membros da Direção,se são capazes de hipotecar o futuro das vossas famílias à proporção e velocidade com que hipotecam o futuro do FC Porto.”
Voto contra: “Não tenho outra alternativa que não seja manifestar a minha reprovação às contas aqui apresentadas, condicionando a aprovação das mesmas à devolução da remuneração variável recentemente recebida pela atual administração.”
Amor: “Quero deixar claro que não podem ser as diferenças que nos separam a fazer esquecer o amor que todos sentimos pelo FC Porto. Aí estamos e estaremos sempre juntos.”