A opinião d’O Tribunal do Dragão foi dada a conhecer ainda antes do futuro de Rafa ficar definido, e mantém-se – as avaliações, depois de conhecido o futuro de um jogador, podem ser sempre influenciáveis. Portanto, foi feita antecipadamente. E de todas as más notícias que o FC Porto possa ter nesta pré-época, não contratar Rafa, num potencial negócio de 20 milhões de euros, é provavelmente a última delas.
O problema não é a não chegada de Rafa. É ter esperado, esperado, esperado por Rafa e, uma vez mais, o FC Porto ficar a arder. Aconteceu com Bernard, aconteceu com Lucas Lima, aconteceu com Rafa. António Salvador estava exigente? Partia-se para o plano B. Rafa não estava convencido em assinar pelo FC Porto? Partia-se para o plano B. Custava sequer metade de 20M€? Nem valia a pena sentarem-se à mesa, partia-se para o plano B.
A questão é: há plano B? Faz esta semana um mês que Nuno Espírito Santo, após a derrota contra o PSV, disse que todos os reforços estavam «identificados». Um mês depois, só chegou Depoitre, e nem sequer chegou a tempo do playoff, o objetivo para acelerar a sua contratação (se já estava identificado e demorou tanto tempo a ser contratado, pior ainda).
Não há Rafa, há mais jogadores. Certamente mais baratos. Mas torna-se muito difícil explicar aos adeptos que o FC Porto não está numa posição favorável financeiramente quando se contrata Felipe, Alex Telles e Depoitre por cerca de 20 milhões de euros. Voltamos à questão: o FC Porto queria um jogador com as caraterísticas do Rafa… ou queria o Rafa? Por outras palavras, às vezes pagar 5M€ pelo Manel sai «mais barato» (expressão traiçoeira) do que pagar 3M€ pelo Zé. Como assim? Tudo pode depender da modalidade de pagamento, do custo imediato, da envolvência de determinado empresário. Coisas que não combinam com total autonomia.
Torna-se impossível afirmar que não há dinheiro para cometer loucuras quando Layún, Depoitre, Felipe e Alex Telles foram todos comprados tendo como preço base os 6M€. Agora, se o FC Porto tinha dinheiro para o Rafa, nenhum adepto vai aceitar que não haja dinheiro para uma alternativa.
Portanto, a notícia de que Rafa vai para o Benfica não é incomodativa. Rafa não valia, à data de hoje, o que custava. Importa não esquecer que a SAD tinha que fazer mais-valias superiores a 70M€ em 2015-16, e não fez. Importa não esquecer que a SAD previa entrar na Champions diretamente em 2016-17, e não entrou. Importa não esquecer que Indi, Aboubakar e Brahimi foram afastados do plantel com vista a vendas, e ainda não foram transferidos. Importa não esquecer que a SAD do FC Porto não é auto-sustentável, por isso continuarão a ser necessárias vendas em 2016-17. Importa não esquecer que vai transitar um prejuízo que pode muito bem ultrapassar os 40M€ para 2016-17.
Importa não esquecer que vence, em setembro, um empréstimo de 17M€ que tem como garantias Herrera ou Brahimi. Importa não esquecer que o FC Porto terá, ao longo do próximo ano, 79M€ de dívida à banca para pagar/renegociar. Importa não esquecer que o FC Porto tinha previstas despesas de 36M€ com jogadores que já estavam no clube para 2015-16. Importa não esquecer que o FC Porto não acaba hoje, e que não podemos hipotecar o futuro por um presente que nem sequer é garantido.
Portanto, não fico preocupado por Rafa não ter vindo para o FC Porto. Fico, isso sim, preocupado por a 19 de agosto ainda não haver «o» extremo que o mercado deveria trazer. Se o FC Porto não passar em Roma, será muito por culpa da escassez de opções disponíveis para estes jogos. Repare-se que a expressão não é escassez de contratações, mas de opções. Ter Brahimi, Aboubakar ou até Depoitre ou Gonçalo Paciência disponíveis para esse jogo já daria qualquer coisa mais.
Mas para alguns portistas, isto já não foi apenas falhar a contratação de Rafa. Isto foi perder uma batalha com o Benfica. Embora entendendo o lamento, mas afinal o que queríamos? Rafa era encarado como um reforço para o plantel ou como um braço de ferro para mostrar que o Benfica ainda não vence as batalhas todas? Sinceramente, não faz sentido encarar isto como nenhum tipo de derrota perante o Benfica. O FC Porto queria Rafa antes do Benfica. Queria-o para reforçar o plantel, não era para dizer que desviou um jogador do Benfica. Logo, ter ido para o Benfica é igual a ter ido para o Sporting, para o Zenit ou para o Agrário, onde Vítor do Poste estaria sempre atento ao limite do fora-de-jogo.
Mas sim, há um padrão que preocupa com naturalidade os adeptos. Todos se lembram de casos que vão desde Lisandro a Falcao, Alex Sandro a Mangala, Danilo a Álvaro Pereira. Jogadores que o Benfica queria e que o FC Porto desviou – pagando mais, logicamente. Sobretudo de 2013 para cá, o FC Porto não mais desviou jogadores do Benfica (Maxi Pereira pode ser considerada a exceção). Começou a prestar mais atenção, coincidência ou não, aos alvos do Sporting (Danilo Pereira foi o único desvio realmente bem sucedido, ainda que nunca tenha estado efetivamente com um pé no Sporting). E desde 2013, o Benfica é tricampeão e o FC Porto nada vence.
Antero Henrique chegou a dizer que o FC Porto não roubava jogadores, mas sim que era «mais rápido» a agir. E era verdade. Cristian Rodríguez assinou em 5 minutos, Álvaro Pereira assinou em 4. E agora, o que é feito dessa rapidez do FC Porto? Quanto tempo terá demorado Rafa a assinar pelo Benfica? Onde está aquela sagacidade que até levava Pinto da Costa a dar gozo ao Benfica, agradecendo o trabalho dos olheiros do rival? Já agora. Se não há Rafa, onde estão as equipas sombra/virtuais do FC Porto, que permitiam identificar rapidamente uma solução no mercado? Onde está a rapidez do FC Porto na resposta às necessidades da equipa? Curiosamente, a última grande venda do FC Porto, Alex Sandro, foi dado como exemplo, numa entrevista de Antero de 2013, da eficácia das equipas sombra.
Alguns adeptos reclamam que o FC Porto deveria ter-se pronunciado publicamente sobre o caso Rafa. Não concordo. Primeiro, porque admitir publicamente o interesse no jogador pode correr mal, como foi exemplo Raúl Jiménez em 2014. Depois, porque admitir o interesse no jogador iria criar (ainda mais) expetativas nos adeptos. O FC Porto deve sempre que possível tratar as transferências em sigilo e apresentar os jogadores quando já estão assegurados. Neste caso, não podia falar sobre Rafa, pois não sabia se ia conseguir o jogador (se havia tantos adeptos que viam em Rafa a encarnação de D. Sebastião, a desilusão podia ser maior); por outro, não podia desmenti-lo, porque estava de facto interessado. Neste caso, nada a apontar ao clube. Só esperemos que não tomem ninguém por ignorante e que agora finjam que nunca quiseram o jogador. Estamos em 2016. O FC Porto não tem que desmentir o Rafa, nem lamentar que ele não tenha vindo. Tem simplesmente que ir procurar uma alternativa igualmente boa. Ou melhor.
Mas agora falemos, uma vez mais, de um homem que definitivamente nunca poderá ser presidente do FC Porto: António Salvador. Porquê? Porque com ele o FC Porto nunca ganha nada. Nada, zero. Desde que António Salvador é presidente do SC Braga, o FC Porto nunca sacou um bom jogador de Braga. Nem um! É que já nem o sentido de voto nos órgãos de decisão do futebol português é comum.
Desde que António Salvador é presidente do SC Braga, o FC Porto já lhes jogadores como Paulo Santos, Cândido Costa, Maciel, César Peixoto, Jorginho, Alan, Luís Aguiar, Renteria, Diogo Valente, Adriano, Ukra, Hélder Barbosa, Miguel Lopes, Beto, Emídio Rafael, Sami ou Josué. A maioria não tinha lugar no FC Porto, mas eram jogadores mais do que úteis para o SC Braga, já para não falar de antigos jogadores da formação do FC Porto, como André Pinto ou Ricardo Ferreira.
E durante estes 13 anos, o que foi buscar o FC Porto a Braga? Andrés Madrid, Kieszek e Orlando Sá. Que proveitoso tem sido tudo isto. Enquanto o FC Porto nunca consegue nada das relações com o SC Braga, Luís Filipe Vieira leva sempre a melhor junto de António Salvador. Enquanto presidente do SC Braga, certamente que faz bem o seu trabalho: vende os jogadores pelas melhores propostas e farta-se de sacar jogadores à pala no FC Porto, enquanto mantém relações privilegiadas com o Benfica e tem Jorge Mendes a ajudar a fazer a papinha. Voltar a emprestar jogadores ao SC Braga seria perto de inaceitável. Por outro lado, isso não implica que agora se vá buscar tudo o que mexe a Guimarães, ok?
Perder Rafa não é um problema. Aceitar um negócio de 20M€ por Rafa, isso sim, seria um problema. E não ter uma alternativa a Rafa, para ontem, seria o maior problema de todos. Contra o Estoril, a mesma receita do Rio Ave: é para vencer e moralizar, mas não para iludir. E se a SAD não reagir, as ilusões não chegam ao final do mês.