E lá se consumou aquilo por que todos nós, de forma mais ou menos declarada, esperávamos desde a fatídica tarde de 19 de março, após um estúpido e fatal empate frente a um adversário que utilizou as armas mais nojentas a asquerosas que me lembro desde que vejo futebol. Um dos momentos fundamentais que explicam a época do FC Porto, um momento que tudo podia ter mudado, mas que se transformou num autêntico “murro no estômago”, de que o FC Porto tardou em se recompor, com as consequências nefastas que se conhecem.
Faz este mês 4 anos desde que o FC Porto foi campeão nacional pela última vez, sendo que neste quadriénio (2013-2017), o pecúlio de títulos do nosso clube ficou-se por apenas uma supertaça, conquistada no longínquo agosto de 2013. Durante 31 anos, o FC Porto ganhou muito, em Portugal e fora dele, ganhou o respeito da Europa, foi a par dos grandes tubarões europeus, uma das equipas que maior sucesso teve e mais troféus nacionais e internacionais arrecadou. É, obviamente, muito duro e estranho passar de um período de sucesso, quase ininterrupto, de 31 anos, para num ápice ficar 4 anos consecutivos em seca, com a agravante de ver o principal rival alcançar um inédito tetra e consequente hegemonia do futebol português.
Neste momento complexo, difícil e, volto a reforçar, extremamente duro para o universo Portista, tem a palavra Jorge Nuno Pinto da Costa. É muito fácil ser adepto na altura das vitórias, mas ser adepto nas alturas em que ficamos a ver os outros a festejar é duro, muito duro! Após o apito final no último jogo da época no Dragão, para além dos sentimentos de frustração, tristeza e enorme azia que me percorriam, aquilo pelo qual espero desde aí, ansiosamente, como forma desesperada de encontrar uma luz ao fundo de um “túnel cada vez mais escuro”, é de explicações para mais uma época sem títulos. E essas explicações só podem ser dadas pelo responsável máximo do clube, o maior responsável quando ganhávamos muito e o agora maior responsável por nada ganharmos.
A análise do que correu bem, e que tem de ser potenciado e aproveitado para a próxima época, o diagnóstico do que correu mal, e foram muitas coisas, tantas que contribuíram fortemente para mais um ano sem títulos e sobretudo o planeamento do que vai ser a próxima época em termos do que interessa, ou seja, treinador e plantel, tem de ser feito com a máxima seriedade e cuidado, sob pena de se voltarem a cometer erros que tornem as coisas ainda mais difíceis na próxima época.
É fundamental enquadrar o momento atual e projetar o futuro, percebendo o que nos fez chegar até aqui. O pior erro que se pode cometer é pensar novamente que mudar apenas uma peça do puzzle, mantendo tudo o resto igual, ou seja, cometendo os mesmos erros, irá resultar em algo diferente. Não! Não basta mudar uma peça do puzzle, é preciso parar de cometer erros e têm sido muitos nos últimos anos. No limite, entre mudar uma pessoa e manter tudo o resto igual ou mudar tudo o resto e manter uma pessoa, se calhar a segunda hipótese é a mais adequada.
Em 2013, a ideia, veiculada até pelo Presidente numa entrevista ao Porto Canal que me lembro como se fosse hoje, era de que o futebol de VP era enfadonho apesar de nos ter levado a um bicampeonato quase imaculado. Veio Paulo Fonseca e a sentença veio meses depois: saída de Paulo Fonseca. Depois de ter saído do FC Porto, Fonseca ganhou uma taça de Portugal pelo Braga frente ao FC Porto e acaba de se sagrar campeão ucraniano ao serviço do Shakhtar. Contra mim falo, que também disse cobras e lagartos de Fonseca, mas pergunto agora: seria Paulo Fonseca tão mau e o principal responsável pelo insucesso do FC Porto?!?!?!?!?!
Em 2014, a ideia era, segundo o Presidente, apostar num treinador proveniente da escola de futebol vencedora na Europa nos últimos anos, a conceituada escola espanhola. Depois de um ano em que apenas o basco lutou contra o “colinho” que várias vezes surgiu, a sentença veio meses depois: despedimento do espanhol, que atualmente treina a seleção espanhola e se prepara para conseguir o apuramento para o Mundial, num grupo que inclui a Itália. Seria Lopetegui tão mau e o principal responsável pelo insucesso do FC Porto?!?!?!?!
Não pretendo com isto, ilibar as naturais responsabilidades de Lopetegui e Fonseca enquanto estiveram no clube. A questão é a seguinte: ou se anda a escolher pessimamente treinadores ou então se anda erradamente a colocar sobre os ombros dos treinadores as responsabilidades pelos maus resultados, descurando-se a resolução de outros problemas, nomeadamente a construção de plantéis. Num ou noutro caso, é preciso refletir e talvez mudar o paradigma da escolha ou da divisão de responsabilidades.
Estamos em 2017 e a questão está inegavelmente em cima da mesa: manter NES por mais um ano ou escolher novo treinador, o 6º treinador em 4 anos?
Há coisas realmente imperdoáveis em NES, que dariam um post inteiro. Destaco por ter sido a última e o espelho do que foi a época toda, a forma angelical e porreira como NES endereçou os parabéns ao novo campeão nacional. Depois do departamento de comunicação ter andado a “malhar” o ano inteiro num campeonato com a classificação tremendamente aldrabada, com intromissão indevida de vários fatores externos, esta declaração de NES nem tem classificação possível, quer no timing, quer no conteúdo.
No meio de toda esta trapalhada, não sei de facto, o que fazer, nem como fazer, admito que estou confuso. Mas de uma coisa não tenho a menor dúvida, mudar apenas o treinador por outro (chame-se ele Marco, Joaquim ou Manuel), mantendo tudo o resto igual, cometendo os mesmos erros, irá ter um resultado certo: daqui a um ano estaremos a discutir nomes para o 7º treinador do FC Porto em 5 anos!
Não estará na altura de parar de “escavar o buraco” em que estamos?!?!?!
PS – Felizmente, as atuais operadoras de tv oferecem um alargado pacote de canais, das mais variadas temáticas. Foi um fim-de-semana em que futebol para mim se resumiu ao FC Porto vs Paços. Mas suponho que se tenha falado muito nos seguintes conceitos: Tetracampeão? Desde que nasci já fui duas vezes (1998 e 2009). Pentacampeão? Já fui uma vez (1999). Títulos internacionais? Duas vezes campeão europeu (1987 e 2004), duas Ligas Europa (2003 e 2011), duas vezes campeão do mundo de clubes, uma supertaça europeia. A conquista europeia de outro clube português que não o FC Porto, data de 1964, ou seja, há mais de 53 anos… Portanto, adeptos de outras cores, vocês ainda têm muito para caminhar até chegar às alegrias que eu enquanto Portista já vivi. Para não falar nos títulos com rega e luzes apagadas, 5/0 cá e lá, etc, etc.
Fonte: https://bibo-porto-carago.blogspot.pt/2017/05/tem-palavra-jorge-nuno-pinto-da-costa.html