Faz-me confusão (ou faz-me espécie que também é português) que quando há jogos europeus da selecção com carácter decisivo ou em fim de fase de grupos o estádio da Luz seja sempre o escolhido.
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) eleva assim aquele recinto à categoria de nacional despromovendo deste modo o que dizem ser nacional à categoria de municipal de Oeiras.
Não me venham com a treta de que isso sucede assim por ter mais dez mil lugares do que de Alvalade ou do Dragão. Não é isso que está em causa.
A verdadeira razão parece estar escondida atrás da cortina que a FPF teima em manter fechada. Mas espreita-se lá para dentro e percebe-se logo a justificação: centralismo que tem no Benfica o seu cartão de visita.
A lógica que ainda amarra o País é a que vigora na estrutura dirigente do futebol português: o que é de Lisboa é nacional ou, se preferirem, Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.
O centralismo tem destas coisas ainda que se sujeite, por vezes, a dissabores. Basta olhar para o que se passa aqui ao lado com Madrid e Barcelona (digamos assim).
Mesmo em Espanha, apesar dos variados desejos autonómicos ou se calhar por causa deles, há situações interessantes. Em 1992 registou três acontecimentos internacionais: os Jogos Olímpicos foram em Barcelona, a Exposição Internacional em Sevilha e Madrid ficou com o menos «visível», a Capital Europeia da Cultura.
E em Portugal? Lisboa até a Red Bull Air Race tentou «roubar» ao Porto.
Nesta lógica do centralismo o Benfica é o clube «nacional». Logo, nas grandes decisões ou momentos especiais só o estádio da Luz conta. Lisboa fecha-se dentro das portagens e esconde-se do País. É uma espécie de cidade-Estado dentro do Estado.
O primeiro-ministro senta-se ao lado de Vieira e exulta com os golos do Benfica como se fossem golos governamentais (duvido que volte a fazê-lo). O ministro das Finanças – que até aprecio – senta-se ao lado de Vieira de quem se diz dever milhões e milhões. Não acredito que se sentasse ao lado de um pobre que tivesse roubado um pão para comer.
O centralismo quando não tem Benfica tenta, por vezes, caçar com Sporting. Hoje, terça-feira, A Bola divulgava a «sua» equipa da semana. Acreditam que nela figuram quatro jogadores dos leões e um do F C Porto após um jogo em que muitos falaram de «banho de bola» dado pelo F C Porto? Leiam o que escreveu sobre esse jogo Octávio Lopes, editor de desporto do Correio da Manhã, que até é apontado como sportinguista.
Excelente crónica de: Jorge Massada